Apocalipse 7:3 “… Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus.”
Perceba que não é somente o adorador da besta que é marcado, mas o crente também é. No contexto anterior ao versículo em questão, após abrir o sexto selo e ser derramado toda sorte de desgraças, guerra, doenças, morte, fome, e antes de tudo precedendo a pregação do evangelho, João parece fazer uma pausa, um interregno. A visão da abertura do livro é interrompida e agora a atenção se volta para os santos. Esse tempo é o tempo em que se completa a marcação dos santos de Deus, ou como nos diz o versículo 3, selar as frontes, ou seja: as testas dos filhos de Deus.
Mas a marca do crente é algo visível também, assim como dizem que a marca da besta será algo visível? Porque não somente os ímpios são marcados, mas também os santos de Deus são marcados. Efésios 1.13 assim diz: “… em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;” Vê-se que a marca dos crentes que o texto de Efésios nos informa e é o que os distingue dos ímpios é a presença atuante do Espírito Santo. Mas, o crente recebendo uma marca espiritual que o distingue do ímpio faz com que a marca do ímpio seja uma marca física, um chip? Isso não faz sentido!!
O texto de Efésios e de Apocalipse quando falam da marca nos crentes não diz respeito a uma marca física, mas é uma marca espiritual, da mesma maneira onde os adoradores da besta também são selados com uma marca espiritual. Carregam em si os seus pecados e sua obediência à Satanás (marca na fronte – a forma de pensar) e sua desobediência à Deus (marca na mão – os atos) e isso os deixa com sua marca distintiva do povo de Deus. No Antigo Testamento até mesmo a marca nos crentes era visível, mas hoje não. Como havia um selo na aliança de Deus com o povo no AT que foi a circuncisão do prepúcio masculino, no Novo Testamento a circuncisão é invisível, a que os autores bíblicos chamam de circuncisão do coração. (Ezequiel 11:19; 36.26; Romanos 4.9-11; 15.7-9). Paulo nos diz que a verdadeira circuncisão é que vem pela fé. Não há fé sem que haja um trabalho anterior do Espírito Santo, não há vida em um incircunciso do coração, nesse não
há fé. Gálatas 5.6 “Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor..” Esta condição para ser circunciso no coração é o que também ele chama de verdadeira circuncisão, Gálatas 6.15 “Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura”.
A verdadeira marca do cristão verdadeiro é a circuncisão, mas não da carne, mas uma circuncisão do coração: Romanos 2.28 "Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. 29 Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus." Em outras palavras a verdadeira circuncisão é a verdadeira conversão e essa é a marca do crente que o distingue dos ímpios. Esta marca é que faz a distinção entre aqueles que são adoradores de Deus e aqueles que servem à Satanás, mesmo que de forma inconsciente crendo que estão certos no que fazem. A diferença visível são as suas obras (marca na mão). E obras não diz respeito a um meio de salvação, mas uma demonstração de que a salvação se efetivou de fato na vida de um ser humano, conforme I Pedro 1.23. O simples fato de alguém se dizer cristão e mostrar alguns comportamentos de cristão não faz dele um verdadeiro cristão.
O cristão que carrega em si mesmo a marca distintiva do Espírito Santo (selado na fronte cf. Apocalipse 7.3) é aquele que se mantém fiel a Deus até nos momentos em que ele não está sendo visto por seus amigos, sua esposa, seu pastor, seus irmãos na fé. Sua verdadeira marca é aquela que Deus a vê independente de onde ele esteja, ou com quem ele esteja.
Quando João apresenta o povo de Deus como sendo aqueles que ainda precisam ser marcados, ele não está mostrando um chip no povo de Deus, mas está mostrando aqueles que tiveram seus corações circuncidados pelo poder de Deus, realizado pelo Espírito Santo e pelo conhecimento de sua Palavra. A marca da besta reflete em adoração à ela e portanto uma hostilidade frente a adoração a Deus e em conseqüência uma hostilidade aos seus santos (crentes verdadeiros).
A marca da besta também não poderia estar se referindo apenas a eventos futuros como um chip de alta tecnologia para os padrões da época em que o livro de Apocalipse foi escrito.
Apocalipse primeiramente foi escrito às sete igrejas da Asia. As igrejas não eram uma fantasia, mas foram elas quem primeiro receberam a carta de Apocalipse e esse texto teve um significado para elas, mas também para a igreja do Senhor de todos os tempos. O que fazer com a marca de um chip, ou de uma tatuagem em MILHARES DE ANOS passados?
A mensagem do texto no que se refere a marca da besta tem um sentido espiritual que é presente e real em qualquer época desde que o Apocalipse foi escrito, seja essa época passada, presente ou futura. Sendo que a Palavra de Deus em Apocalipse foi dirigida primeiramente as sete igrejas da Ásia e conseguintemente à igreja em todos os tempos, qual o sentido de um chip de alta tecnologia para a igreja de Esmirna, ou Efeso como exemplo? Existe um significado real deste texto que é o mesmo para qualquer época.
O simbolismo na mão direita denota uma amizade, companheirismo, cf. Gálatas 2:9 “…e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão”. Sendo a destra dos crentes (dada pela comunhão em Cristo) e esta gera cooperação para o avanço do evangelho; a destra dada pela besta é cooperação de causa comum também, só que gerando uma hostilidade a Deus, à sua palavra e aos seus seguidores. A marca na fronte denota que a filosofia e padrões de pensamento são comuns a todos eles... a forma de pensar e agir é idêntica à da besta.
A marca da infidelidade a Deus é uma imitação à marca do batismo representando a conversão.. a marca do não crente e do falso crente é sua hostilidade a Deus e Sua Palavra revelada na Escritura.
Rev. Júlio Pinto