sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O Cristão e a Greve






                A raça humana sempre predispôs aqueles que lideram e aqueles que são liderados. Esta é uma questão até mesmo naturalmente desenvolvida através da criação e/ou através dos ímpetos da personalidade inata. Não existe nada de errado neste aspecto do ser ou não ser líder.
                Biblicamente vemos na história que esta foi sempre uma realidade. Já no início Deus criou o homem e entregou a ele toda a natureza para que ele dominasse sobre ela. Era uma relação benéfica para ambos, homem e natureza em harmonia: “... e colocou o homem no jardim do Éden para o cultivar e o guardar”.
                Vem o ato do pecado e esse elimina toda possibilidade de harmonia entre a raça humana e a natureza e tão certo, entre o homem e o seu próximo. A mulher ficou delegada à orientação do homem pelo seu erro em ter avançado em área que não era de sua competência: “o teu desejo será para o teu marido e ele te dominará”. E o homem castigado por sua omissão em não ter assumido seu papel na criação e desde então o seu trabalho seria um constante sofrimento pois a terra não teria mais aquela predisposição em produzir como antes: “maldita é a terra por tua causa, ela produzirá, cardos e abrolhos...”.
                A harmonia foi quebrada pelo pecado não somente  entre a raça humana, mas também entre a raça humana  e a própria criação; e a partir daí  estão em pé de guerra. A  greve é exatamente uma das demonstrações da quebra dessa harmonia que há na raça humana,  um conflito não resolvido entre governo e liderados. Mas o cristão, visto que ele tem a bíblia como regra de fé e prática, pelo menos deveria, obriga-se a olhar para a Escritura e ver o seu ensino sobre esta questão.
                Sempre existem as razões dos dois lados. Uns querem melhoria das condições de trabalho e melhores salários e outros têm nas suas mãos a responsabilidade de oferecer estas questões.
                De um lado o desejo em si mesmo de ter melhores condições de trabalho é uma justa questão obviamente eliminadas as tendências egoístas. A outra questão é o sustento em si mesmo, o dinheiro.  Paulo falando acerca desta questão à Timóteo afirma: 1 Timóteo 6:10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” E na carta de Tiago afirma: Tiago 4:1 “ De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? ” A raiz de todo conflito? Cobiça, amor ao dinheiro, egoísmo, ganância. 
                 Os líderes sabem muito bem de todas estas questões, falo aqui de liderança sindical. Não digo sabem das questões bíblicas, pode até ser, mas falo do desejo de todos quererem melhorar financeiramente visto como algo bom.  E manipular uma grande massa chamando o mal de bem,  o que existe de pior dentro dela: Cobiça, amor ao dinheiro, egoísmo, ganância, se torna a dominação ainda mais fácil, pois o título dado a esta luta é: “temos que lutar pelos nossos direitos”. De fato: direito a permanecer no estado pecaminoso, direito à própria condenação, por isso também está escrito que: “cada um dará contas de si mesmo a Deus”, liderados e líderes.
                A outra questão é o aspecto da relação entre governo e população. A Bíblia nos orienta a manter uma relação com aqueles que nos governam e nos dá qual deve ser a direção em alguns textos:

·         Romanos 13:1-2  Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. 2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.

·         1 Timóteo 2:1-2 1 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, 2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito.
                A orientação para o cristão verdadeiro não é a de entrar em conflito com a autoridade, ou com o governo. E querendo ou não uma greve é um ato de extrema rebeldia, como no texto de Romanos acima, se torna um atentado contra o próprio Deus. Caso a autoridade não esteja sendo boa para nós, pergunto: quantas vezes oramos de modo específico acerca dela, e mais, oramos com ela? Se enquanto liderados por homens investidos de autoridade não oramos por eles, o que nós temos o direito de reclamar assumindo uma posição de rebeldia entrando em uma greve?
                Ninguém está aqui fazendo apologia a nada. O governo tem sua responsabilidade sim e sou o primeiro a ir até eles se furtarem-se à esta obrigação. E perante Deus, eles têm o dever de cumprir fielmente a obrigação que lhe foi entregue. Entretanto, existe outras possibilidades de resolver conflitos que não uma greve? Claro que sim. O diálogo é sempre a melhor opção.  Se o governo não quer ter diálogo é uma coisa, agora, os liderados se furtarem a oportunidade do diálogo oferecida é outra.
                Em outros tempos não havia diálogo. O motineiro (grevista) era encarcerado, não tinha qualquer direito, eram torturados, tinham seus ossos quebrados para entregar seus amigos, suas esposas e filhas eram estupradas e mortas. Mas o ser humano é incrivelmente corrupto em seu âmago. Agora com a desculpa de liberdade, se bloqueiam ao diálogo, tendo a mesma atitude do governo de outrora, e querem pela força da rebeldia terem seus “direitos” realizados? Haja gênio da lâmpada para realizar todos.
                Meu avô tinha um ditado muito interessante. Ele sempre dizia com respeito ao emprego, com respeito ao salário: “É melhor lamber do que cuspir”. Um ditado com base em um princípio bíblico: 1 Timóteo 6:8 “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. ” Ou seja, não é triste ou vergonhoso tendo o básico para vida.
               Termino usando mais uma vez o texto de Tiago me alongando um pouco mais:
Tiago 4:1-2 “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? 2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes por que não pedis. 3 Pedis e não recebeis porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. ”

 Rev. Júlio Pinto
 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

EXEMPLOS DE VIDA

            Não é a primeira, também não será a última vez que ouviremos o jargão que o exemplo fala mais alto. Este é um argumento que tem sido usado por cristãos professos quando são indagados acerca do que sabem, sobre o que devem fazer e não fazem. Então respondem imediatamente com este jargão evangeliquez de que a liderança deve dar o exemplo.

De fato, encontramos alguns versículos bíblicos que nos apontam esta verdade, como é o texto de 2 Tessalonicenses 3:9 “... não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes. ” Paulo, ao escrever este versículo, aponta para seu próprio exemplo de que ele trabalhou como fazedor de tendas para ensinar ao povo que o trabalho é digno e que dele deve vir o sustento. Mas isso não quer dizer que ele desconsiderou o seu próprio trabalho missionário como sendo trabalho indigno de salário.
            Em outras circunstâncias Paulo fala de si mesmo também como exemplo aos coríntios em I Co 11.1 – “Sede meus imitadores assim como eu sou de Cristo. ” Neste versículo Paulo mostra àquela igreja que eles deveriam imitar a Paulo no que ele imitava à Cristo. Nem todos os atos de Paulo de fato imitavam os atos de Cristo, isso é óbvio. Como a contento, quando ele estava para empreender uma de suas viagens missionárias entrou em atrito com Barnabé por causa de Marcos e a dupla se separou. Deveria ser imitado nisso? Certamente que não.

O exemplo deve falar mais alto? Claro que sim! Mas os exemplos dos homens? Ah. Aqui está a diferença. ISSO DEPENDE. Os homens de Deus devem ser imitados? Sim!!! Mas em todas as coisas? Não!!! Existe o modelo supremo que deve ser imitado para o qual Paulo e outros apóstolos sempre apontaram, não para eles mesmos, mas para Cristo.

·         1 Pedro 2:21 Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos;

·         João 13:15. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também;

·         I Co 11.1 – “Sede meus imitadores assim como eu sou de Cristo. ”

A despeito do exemplo humano, Cristo é o exemplo supremo que deve ser imitado. Paulo e outros sabiam de suas limitações, e direcionam como exemplo a ser seguido, não eles mesmos, mas Cristo deve ser seguido, e isso é bem claro no próprio exemplo do Messias em João 13.15 citado acima.

                Duas questões são pertinentes.

1.       Os homens que erram em suas atitudes mas ensinam o que é reto devem ter seus ensinos desprezados?

Os fariseus certamente não eram um bom exemplo a ser seguido, pelo contrário, seu modo de vida era detestável e ainda é. Mas  isso impedia aos seus ouvintes, uma vez sendo os seus ensinos corretos, de fazerem o que eles ensinavam? Seus ouvintes estariam isentos de culpa caso não atentassem para o seu ensino? A resposta às duas perguntas é: Certamente que não. Jesus, ao falar dos ensinos dos fariseus, afirmou: Mateus 23:2-3 “Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus. 3 Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem”. A afirmativa de Jesus é que independentemente do quão fosse péssimo o exemplo dos fariseus o povo deveria ouvir e obedecer aos ensinos, mas não imitar o seu exemplo. Então antes de dar a resposta a essa primeira pergunta vamos ver o exemplo de um crente, o apóstolo Paulo.  

Se levarmos em consideração que nem sempre Paulo acertou em suas ações, então Paulo não deveria ser imitado no que ele fazia de certo? Obviamente, para determinar se o exemplo de Paulo deveria ser seguido ou não, ele mesmo havia dado a chave de quando o povo deveria imitá-lo, “...assim como eu sou de Cristo...”. Ou seja, Paulo, como apóstolo, afirmou que seu exemplo deveria ser seguido apenas naquilo que ele mesmo fazia como se fosse o próprio Cristo fazendo, ou seja, imitar a Paulo apenas em suas corretas ações que imitassem a Cristo.

Então, a resposta a essa primeira pergunta é que mesmo que a liderança erre em suas atitudes, seus ensinos devem ser desprezados com a desculpa de se estar aguardando um exemplo?? Não, claro que não. Jesus foi bem claro.

2.       Mesmo que os homens não recebam por meio de sua liderança o exemplo que julgam ideal devem ser omissos no que sabem o que deve ser feito?

Bom, a partir da leitura da resposta à primeira pergunta todos já devem ter na ponta da língua a resposta da segunda. É claro que não. Cada ser humano será responsabilizado por aquilo que fez ou por aquilo que deixou de fazer independentemente do exemplo que ele teve. Se ele sabia o que tinha de fazer e não o fez, foi omissa e pecaminosa sua atitude. Diferentemente daquilo que ele não sabia o que tinha de fazer e por isso não fez. Seja como for, sabendo ou não, ninguém dará conta de suas atitudes por você, ou da falta delas, senão você mesmo que pecou, seja por omissão ou por ignorância.

                Desta feita o exemplo deve ser o meio pelo qual as pessoas devem processar a fé e virem a ter atitudes de verdadeiros cristãos? Não! O meio não é esse. Se a atitude esboça a fé (Tg 2.22), ou seja, é a fé demonstrada na ação, como a fé vem? Pelo exemplo??? Se for isso, Paulo estava completamente enganado em afirmar: “A fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo”. "Quem tem ouvidos, ouça...".

Então, se sabe o que tem de ser feito, faça e sem reclamar. Pois “cada um dará contas de si mesmo à Deus”.

Rev. Júlio Pinto