quarta-feira, 20 de novembro de 2024

POLÍTICA EDUCACIONAL: UM DIÁLOGO MAIS QUE CENTENÁRIO – PLATÃO E AGOSTINHO

 

 





 

 

 

 

 

“Por conseguinte, o hábil guardião de uma coisa

é também o hábil ladrão dessa mesma coisa.”

 A República – Platão

 

 

POLÍTICA EDUCACIONAL: UM DIÁLOGO MAIS QUE CENTENÁRIO – PLATÃO E AGOSTINHO[i]

 

POLÍTICA EDUCATIVA: UN DIÁLOGO DE MÁS DE UN SIGLO – PLATÓN Y AGUSTÍN

 

EDUCATIONAL POLICY: A MORE THAN CENTURY-OLD DIALOGUE – PLATO AND AUGUSTINE

 

 

Júlio César PINTO[1]

e-mail: rev.juliocesar@hotmail.com

 

 

Afonso Welliton de Sousa NASCIMENTO[2]

e-mail: afonsows27@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO: O presente trabalho vem explorar as visões sobre educação e política de Platão e Agostinho, destacando suas abordagens distintas. Platão, no contexto da democracia limitada de Atenas, propôs uma cidade ideal com três classes sociais (artesãos, militares e guardiães) e defendeu a ideia de um governante filósofo. Para ele, a educação deveria manter a hierarquia social e a classe superior deveria perpetuar o poder. Contrariamente, Agostinho, vivendo no limiar da antiguidade para a Idade Média, enfatizava a educação e a fé cristã como meios de transformação social e pessoal, procurando disseminar o conhecimento cristão a todos, incluindo os bárbaros e hereges. De um lado Platão mirava uma educação restrita às classes sociais superiores, por outro lado Agostinho buscava a inclusão e a aplicação prática da fé e do conhecimento para a melhoria de todos na sociedade. A divergência entre suas teorias encontrou uma ironia histórica, a Era das Trevas, implementando a limitação do acesso ao conhecimento por parte da própria igreja de Agostinho.

 

Palavras chave: Educação, Política Pública, Agostinho, Platão.

 

 

RESUMEN: Este trabajo explora las opiniones sobre educación y política de Platón y Agustín, destacando sus distintos enfoques. Platón, en el contexto de la democracia limitada de Atenas, propuso una ciudad ideal con tres clases sociales (artesanos, militares y guardianes) y defendió la idea de un gobernante filósofo. Para él, la educación debería mantener la jerarquía social y la clase alta debería perpetuar el poder. Por el contrario, Agustín, que vivió en el umbral de la antigüedad a la Edad Media, enfatizó la educación y la fe cristiana como medios de transformación social y personal, buscando difundir el conocimiento cristiano a todos, incluidos los bárbaros y herejes. Por un lado, Platón aspiraba a una educación restringida a las clases sociales altas; por otro lado, Agustín buscaba la inclusión y la aplicación práctica de la fe y el conocimiento para la mejora de todos en la sociedad. La divergencia entre sus teorías encontró una ironía histórica: la Edad Media implementó la limitación del acceso al conocimiento por parte de la propia iglesia de Agustín.

 

Palabras clave: Educación, Políticas Públicas, Agustín, Platón.

 

ABSTRACT: This work explores the views on education and politics of Plato and Augustine, highlighting their distinct approaches. Plato, in the context of Athens' limited democracy, proposed an ideal city with three social classes (artisans, military and guardians) and defended the idea of ​​a philosopher ruler. For him, education should maintain social hierarchy and the upper class should perpetuate power. On the contrary, Augustine, living on the threshold of antiquity to the Middle Ages, emphasized education and Christian faith as means of social and personal transformation, seeking to disseminate Christian knowledge to everyone, including barbarians and heretics. On the one hand, Plato aimed for an education restricted to the upper social classes, on the other hand, Augustine sought the inclusion and practical application of faith and knowledge for the improvement of everyone in society. The divergence between their theories met with historical irony, the Dark Ages implementing the limitation of access to knowledge by Augustine's own church.

 

Keywords: Education, Public Policy, Augustine, Plato.

 

Introdução

           Tão vasto universo temos diante de nossa diminuta e tacanha sabedoria! É o que diariamente descobrimos quando decidimos embrenhar-nos na história acerca de qualquer que seja o tema. E, quando temos como cerne do discurso a educação, esse universo se torna ainda mais vasto do que podemos imaginar uma vez que se trata da própria formação humana desde a sua mais longínqua existência.

           Certamente temos centenas de expoentes que trataram do assunto em questão e, nosso dilema em escolher sobre o pensamento de quem escrever, se tornou parco diante do início da sistematização temática, bem como do aprofundamento dessa sistematização vistos em dois colossais da história: Platão e Agostinho.  

           No presente estudo teórico, serão abordados pensamentos e/ou ações perpetradas por ambos. Qual a forma que definiam tanto um quanto o outro acerca da maneira da qual se pode absorver o conhecimento? Como esse conhecimento se tornaria difundido e a quem difundi-lo, e qual a finalidade desse conhecimento, para onde se deveria ir?

No diálogo de Céfalo com o já idoso Sócrates, esse último afirma que mantinha profunda consideração em, não somente manter conversas, mas também extrair pensamentos, doutrinas e tudo o que pudesse aprender com os mais experientes na vida (PLATÃO, 380 a.C., pg 04). Esse pensamento de Platão é o apontamento de algo que não se pode perder de vista: aprender com o passado. Tal princípio é visto anteriormente na fala de Salomão (900 a.C.) quando afirmou: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais”. (Provérbios 22:28)

A visão de uma política educacional tanto em Platão quanto em Agostinho, na presente abordagem, caminhará pela metafísica perceptível e conhecida em seus escritos. Primeiramente seguiremos uma breve abordagem biográfica de ambos; da mesma forma, em seguida, veremos suas perspectivas em linhas gerais sobre política e educação; e, por último, para onde apontaram suas doutrinas.

A valorização do novo, pelo fato de ser novo e em detrimento do antigo, não pode ser o imo da construção de políticas. Dever-se-ia analisar a história, os pensamentos de cada momento e aprender o que deles decorreu de certo ou errado, mantendo a chama da humildade acesa em reconhecer que o caminho que ora se segue, ou o caminho que se deseja percorrer, já pode ter sido percorrido por outros e isso não deve ser esquecido. Assim já havia dito Salomão: “Não existe nada novo debaixo do sol” (ECLESIASTES 1.9).

A simples mudança de nomenclaturas não nos assegura que uma ideia, seja ela qualquer, inclusive do que se diz acerca de uma nova política e/ou de que provenha de uma mudança superficial a partir de outras, garanta o sucesso em nova empreitada. As políticas estão recheadas de idealismo em consonância com o pensamento de seus propositores e, promulgar uma imparcialidade, apesar de necessária, é mais que utópico. E é nesse âmago que a análise histórica deveria enxergar. 

 

Agostinho

Agostinho viveu no limiar da antiguidade para a era medieval. Nesse contexto histórico, as guerras e, literalmente, as barbáries eram frequentes. Após sua conversão, ele se dedica ao conhecimento mais aprofundado em teologia e filosofia, tendo referência desta última, primordialmente, a Platão.

Entreter bárbaros com o evangelho não era a ideia agostiniana, antes se empenhou na difusão e ensino da fé cristã a esses como modus essendi et vivendi[3]. Mas, como ensinar o evangelho, como levar o conhecimento a aqueles que não sabiam sequer ler? Como fazer com que, além de entenderem, esse conhecimento se tornasse a verdade fundamental para vida deles?

Para isso, o “pensamento de Santo Agostinho foi de fundamental importância para a consolidação do cristianismo, uma vez que trouxe uma proposta de reorganização da vida social e de formação do homem” (MELLO E DE PAULA, p. 1). Todavia, não foram apenas os bárbaros a influenciar no conceito educacional do mestre, mas seu próprio contexto de embates eclesiásticos contribuiu, em muito, para consolidação de seu pensamento.

Após voltar de Cartargo, o ainda jovem Agostinho desprezou o ensino e a repreensão de sua mãe e, como professor formado, preferiu permanecer na seita dos maniqueus, da qual havia se tornado adepto, a dobrar-se perante a exigência materna para que abandonasse tal cardume, para abraçar ao catolicismo, chegando a chamá-la de muliercula[4].

Somente anos mais tarde, quando frequentava as homilias de Ambrósio em Milão que, com sua retórica, aproximou Agostinho do cristianismo e o fê-lo apaixonar-se pela doutrina (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota pg 30), muito embora estivesse enamorando com o ceticismo (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota  pg 32).

Mas, foi aos trinta e dois anos, com a leitura de Platão, que Agostinho se deparou com um deus que ele não conhecia. Um deus que era “sem limites, sem limitações, um Deus infinito e inextenso. Só Ele, só um ser assim, será o princípio e a razão de ser de tudo”.  (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota  pg 34)

É aqui que os questionamentos de Agostinho, acerca da vida, acerca das dúvidas essenciais e existenciais que possuía, começaram a fervilhar de possibilidades em obtenção de respostas tentando ver se havia alguma relação do deus de Platão com o Deus do cristianismo do qual sua mãe era fervorosa adepta e tanto lhe instigou a conhecer quando era mais jovem e que ele havia desprezado.

Tomado por esse ímpeto, embrenhou-se na leitura da Escritura até que, lendo Apóstolo Paulo, agarrou-se à graça que, naquele instante, acabara de conhecer. (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota pg 37)

Agostinho viveu no tempo em que a política, educação e economia, eram comandadas ou, no mínimo, fortemente influenciadas pelo clero. Após ser sagrado bispo, o ex alvorotado mantinha uma organização sem igual em tudo aquilo que lhe fosse confiado. Era, por muitos, venerado e atrás dele corriam para que lhes escrevesse, ou instruísse de algo ou para ter um objeto de lembrança, como aqueles que hoje correm atrás do autógrafo de um ídolo.

Administrava os bens da igreja, atendia capatazes, mantinha albergues para viajantes, proporcionava sustento aos pobres de olho naqueles que queriam viver às custas do legado da igreja; tudo mantido por doações. E, ainda assim, chegou a ser acusado de austeridade por não receber determinadas doações, como de pais que queriam defraudar ao direito de filhos, ou de desonestos que queriam fugir do fisco. Concomitantemente a isso, aumentavam insultos e impropérios da parte de seus maiores opositores, os violentos e inescrupulosos donatistas[5].  (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota pg 59)

Esses últimos acabaram se tornando uma seita anti-social que convulsionava a comunidade por onde estivessem: roubando, espancando, torturando fiéis e até mutilando bispos para os inutilizarem ao exercício de seu ofício ou matando-os. Dessarte, Agostinho procurava manter e propunha acordos de paz e comunhão até com alternância de governo entre os bispos católicos e bispos donatistas, contudo, sem sucesso. (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota  pg 63-65)

Entretanto, não foi somente os donatistas os responsáveis por afligirem e promoverem convulsões sociais no tempo de Agostinho. Uma seita muito mais perigosa vinha fermentando seu germe: Os Maniqueístas. Esses provieram dos ensinos de Mani, (Manes) homem muito viajado, de vasta cultura, conhecimento profundo de várias religiões, poliglota. Desenvolveu a própria religião, com intensão de ser universal e colecionou grande número de seguidores que passaram a divulgar as suas obras. (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota pg 66)

A percepção religiosa de Mani condensou-se em afirmar sobre a existência de duas forças opostas que regiam o universo: o deus do Bem — Ormuz — , o deus do Mal — Ariman. Como resultado disso, seu conceito moral admitia extremos que se opunham à fé cristã. (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota pg 66-67)

A moral maniqueísta condensa-se no que Manés chamou preceito dos três selos — o selo da mão, o selo dos lábios, o selo do seio. Ao homem virtuoso é vedado, pelo selo da mão, ferir, matar, fazer a guerra; pelo selo da boca, o homem virtuoso é obrigado a dizer a verdade e a nunca comer carne nem alimento impuro; ao homem virtuoso é vedado, pelo selo do seio, continuar a obra da carne, prolongar a vida pela geração. (PEREIRA, in Cidade de Deus, nota pg 67)

 

Esse ensino maniqueísta havia sido abraçado por Agostinho em sua juventude. Entretanto, acabou se tornando o seu mais severo opositor. A seita se desfez, contudo ainda reverberavam algumas defesas dessa doutrina no século V. Período esse em que surge nova seita, a dos Pelagianos, que também deram, mais uma vez, impulso ao ensejo apologético do bispo de Hipona.

 

Platão

Aproximadamente em 428 a.C., Platão nasce, um ano após a morte de Péricles, grande orador e debatedor na afamada assembleia ateniense, onde e quando rogavam o título de exemplar democracia.

Entretanto, essa democracia era para poucos, visto que a permissão de se falar na assembleia era concedida apenas a aqueles que possuíam o título e direitos de cidadão. Fora estavam os escravos, os que não tinham recursos de atuação, como retórica e oratória, as mulheres, os estrangeiros. Era, de fato, uma oligarquia. O ano da morte de Platão, aproximadamente em 348 a.C., ocorreu dez anos antes da batalha de Queronéia, quando Felipe da Macedônia conquistou o mundo grego. A vida de Platão transcorreu num período do apogeu político grego e com ares de liberdade. (CIVITA, 1972, pg 47-49).

Sua ascendência é dentre os nobres atenienses, representantes valorizados no mundo político de sua época. Sua mãe, Perictione, era irmã de Cármides e prima de Crítias, que foram dois dos trinta tiranos que governaram a cidade em tempos de outrora.

Num segundo casamento de sua mãe, ela se casa com um personagem político conhecido da época de Péricles, Pirilampo. Esse é o arcabouço histórico de Platão que o fez nutrir um certo escárnio pelos políticos de sua era. Ele assim manifestou em seus escritos como quem conhecia muito bem a coxia política.  

 

O cavaco

Platão nos deixou considerado, em Político, de modo bem sucinto no diálogo entre Sócrates, o Jovem, e o Estrangeiro definindo política como a “ciência que cuida de homens que vivem em comunidade” (PLATÃO, 1972, pg 220). E, como afirmado, Platão asseverou que o objetivo do governante deve, em primazia e essência, ... envidar todo esforço em suprir aquilo que, de fato, supra a carência daqueles que estão debaixo de seu jugo. (PLATÃO, 1972 pg 98).

Por sua vez, Agostinho em “A Cidade de Deus” considerou como sendo  direito divino a arte de governar que poderia ser concedida aos homens por meio da graça. Por outro lado, na Cidade da Terra, o extremo oposto da primeira, os homens soberbos “na sua ânsia de domínio, que, embora os povos se lhe submetam, se torna escrava da sua própria ambição de domínio.” (AGOSTINHO, 1998, pg 98)

Alguns gregos pré-socráticos entendiam que, como exemplo, os defensores do pitagorismo argumentavam haver uma

...identidade fundamental, de natureza divina, entre todos os seres; essa similitude profunda entre os vários existentes era sentida pelo homem sob a forma de um ‘acordo com a natureza’ que, sobretudo depois do pitagórico Filolaus, será qualifica como uma `harmonia`, garantida pela presença do divino em tudo. (CIVITA, 1972, pg 9)

 

Esse conceito é absorvido por Platão quando chegou a frequentar as escolas pitagóricas. Assim temos algo em comum nos escritos tanto de Platão como de Agostinho onde demonstram haver certa defesa de um comunicado divino inato ao homem.

No ano de 387 a.C. Platão funda, em Atenas, a Academia onde ele instigava o conhecimento por meio da investigação científica e filosófica. A esse tempo e na mesma cidade, outro personagem mantinha outra escola, Isócrates que, em caminho divergente de seu contemporâneo, atendia àqueles que pretendiam ingressar no mundo da política, ensinando retórica fundamentada nos sofistas.

Enquanto o primeiro buscava uma política que não se limitava à prática, insegura e circunstancial, mas uma investigação realizada de forma acentuadamente sistemática sobre o alicerce do comportamento humano, o outro ensinava tão somente pontos de vista que o orador deveria defender de forma convincente na Assembleia. (CIVITA, 1972, pg 52)

Platão deixou um legado que mostrou fases diferentes em seu pensamento. A primeira quando transparecia que sua dialética apontava para aqueles diálogos socráticos que estavam no limiar do confronto de consciências. A segunda quando estremeceu essa transparência e se apoiou em absorções que ele fez a partir do pitagorismo, sendo mais teórico e impessoal. Esta fase amadureceu tomando a forma de uma investigação do que poderia haver de ligação entre ideias. (CIVITA, 1972, pg 56-57)

Entretanto, Platão entendia que essa arte de governar era algo concedido pelos deuses, algo peculiar a poucos. Todavia, fazer a distinção entre os que teriam esse, digamos, talento divino dos que não possuíam, nos conduz à necessidade de discernir entre os soberbos e os dotados. Os soberbos são aqueles que invejavam e não possuíam talento natural ou não se amadureciam, ou ainda nem adquiriam experiência; enquanto os dotados seriam aqueles que nasceram com esse dom e amadureciam bem como adquiriam experiência com o passar dos anos.

Platão entendia que esse amadurecimento só poderia ser alcançado pela filosofia. Essa maturação seria o descortinamento acerca de tudo aquilo que podemos definir no mundo visível a partir de seu original, perfeito, portanto, imutável, incorpóreo, eterno, do mundo das ideias.

Esse conhecimento seria anterior ao nascimento quando a alma contemplaria a ciência de todas as coisas quando ainda conviviam com os deuses. Nesse mundo material seria a filosofia que abriria a porta da mente para se entender e governar. O que dizemos, aqui, é amplamente visto e debatido acerca da mensagem trazida pelo Mito da Caverna.

No diálogo Político, o personagem Estrangeiro fala dessa classe fazendo uso daquilo que ele chamou de um mito, onde a figura do pastor divino é em semelhança ao rei, ao governante. Entretanto, para ele, os políticos não diferiam em nada dos seus súditos, exceto pela “educação e instrução que recebem” (PLATÃO, 1972, pg 229). 

Ainda assim, Platão aprofunda nesse ínterim, a fim de averiguar se, de fato, os políticos estão acima dos seus tutelados e para defini-los em duas categorias de “Pastor humano: tirano, ou rei?” (PLATÃO, 1972, pg 230), que seguem, não respectivamente, como sendo aqueles que: ou são aceitos de bom grado, ou se impõem pela força.  

Quanto ao que se seguiu, Agostinho cria que, sendo tirania, sendo política, sendo guerra, sendo paz, tudo seria resultado da Providência divina com a finalidade de acender, pelas virtudes resultantes da provação, o indivíduo amaneirado à uma vida mais gloriosa para além desta terra. (AGOSTINHO, 1996, pg 102). Desta maneira é que, por meio destas coisas,

“...a paciência de Deus chama os maus à penitência e o açoite de Deus aos bons ensina a paciência... o único e mesmo golpe, caindo sobre os bons, põe-nos à prova, purifica-os, afina-os e condena, arrasa, extermina os maus. Daí que, na mesma aflição: — os maus abominam a Deus e blasfemam, e os bons dirigem-Lhe as suas súplicas e louvam-No. O que mais interessa não é o que se sofre, mas como o sofre cada um.” (AGOSTINHO, 1996, pg 119).

Platão concorreria ajudando a Agostinho dizendo:

Assim, Deus, dado que é bom, não é a causa de tudo, como se pretende vulgarmente; é causa apenas de uma pequena parte do que acontece aos homens, e não o é da maior, já que os nossos bens são muito menos numerosos que os nossos males e só devem ser atribuídos a Ele, enquanto para os nossos males devemos procurar outra causa, mas não Deus. (PLATAO, 380 a.C., pg 88)

 

           Tendo em mente essa concordância, poder-se-ia afirmar que a trajetória política de um povo também seria entendia por ambos de maneira similar.

 

 

 

O Conhecimento

Agostinho definia a existência de dois tipos de conhecimento. Um, sendo permanentemente mutável, e outro sendo imutável. O mutável é assim definido pois é resultante de algo imperfeito e que precisa ser mudado. Já o imutável corre em sentido oposto dizendo respeito ao que não precisa de modificações, pois não se muda o que é perfeito. Aranha, sintetizando o pensamento agostiniano diz que:

O ser humano receberia de Deus o conhecimento das verdades eternas, o que não significa desprezar o próprio intelecto, pois, como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. O saber, portanto, não é transmitido pelo mestre ao aluno, já que a posse da verdade é uma experiência que não vem do exterior, mas de dentro de cada um. Isso é possível porque “Cristo habita no homem interior”. Toda educação é, dessa forma, uma autoeducação, possibilitada pela iluminação divina (ARANHA, 2006, p. 178)

 

Esse conceito agostiniano pode ser deduzido do ensino de Tiago, o apóstolo, que afirmou: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” (Tiago 1:17).

Tal era esse conceito em Agostinho que, ao falar acerca dos males que os bárbaros julgavam ser o resultado de uma opressão advinda da religião cristã que os proibia de cultuar a seus deuses, assegurou:

...não tiveram esses deuses a menor preocupação com a vida e os costumes das nações e suas gentes que os veneravam, mas, pelo contrário, permitiram, sem proferirem qualquer das suas terríveis proibições, que fossem atingidas por tão horrendos e destestáveis males, não só nos seus campos e vinhas, nas suas casas e bens pecuniários e, por fim no seu próprio corpo que está submetido à alma, mas também que fossem atingidas na própria alma, e permitiram mesmo que elas se afundassem nesses males e se tomassem na pior gente... — onde estão os lugares destinados a ouvir os preceitos dos seus deuses para reprimirem a avareza, destruírem a ambição; — onde os povos ouçam o que os deuses preceituam acerca da repressão da avareza, da destruição da ambição, do refreamento da luxúria; (AGOSTINHO, 1996, pg 207-208)

 

Com isso, afirmou que o mal moral, ou para onde quer que se dirigisse um governo pesando sua mão, afligindo aos seus súditos, não seria resultado da proibição dos cultos pagãos por parte do cristianismo, mas seria resultado da própria perversidade que esses últimos manifestavam.

E, tal perversidade moral era resultado da falta de exigência moral da parte dos deuses que os pagãos procuravam adorar, pois nunca demonstravam haver uma régula fidei[6]. (AGOSTINHO, 1996, pg 207). Desta maneira, na visão agostiniana, não somente os homens, mas tudo que decorre desse, seja cultural, educacional, ou política, etc, nada mais é do que um mero reflexo da moral, ou falta dela, do “deus” que ele busca e venera.

Essa definição de Agostinho adapta-se ao conceito de Platão acerca de dois tipos de conhecimento, que eram apontados a partir de uma dualidade existencial que o primeiro propôs: de um lado ter-se-ia o Belo, o Bom, o Grande, como perspectiva do eterno, trazendo os dois primeiros seus conceitos dos valores estéticos e morais, e o terceiro a partir das relações matemáticas; e do outro lado a corporeidade dessas questões.

 

A educação

Como grafou Platão no diálogo de Sócrates com Glauco, acerca da razão de ser do político, o objetivo do governante deve, em primazia e essência, não direcionar o exercício de seu ofício como sendo algo objetivado para proveito pessoal, mas tão somente deve envidar todo esforço em suprir aquilo que, de fato, supra a carência daqueles que estão debaixo de seu jugo. (PLATÃO, 380 a.C., pg 39)

Desta maneira, entende-se que a valorização do direito deveria caminhar juntamente com o exercício da política na sua mais excelente forma, tendo como alvo as reais necessidades de quem se governa. E, ninguém mais para exercer livremente essa política ou construí-las do que os próprios representantes eleitos para esse fim.

Na República, Platão elabora um conceito de cidade ideal onde ela seria mantida por três classes racionalmente divididas entre: artesãos, militares e guardiães. Os artesãos se ocupando da produção para subsistência da cidade, os militares para defesa, e os guardiães para o desenvolvimento, regulação e manutenção das leis.

Nessa utópica cidade platônica, os laços familiares não deveriam existir. As mulheres pertenceriam a todos os guardiães e procriariam de acordo com uma regulação dada em lei, mas nenhum pai conheceria seu filho bem como o filho não deveria saber quem seria seu pai. A educação, assim, também seria um papel estritamente governamental, nada seria papel da família que nesse plano, era inexistente.

Essa utopia social seria possível se, e somente se, o governo fosse entregue a aqueles que detinham o conhecimento ideal, o conhecimento mais abrangente das coisas: um único governante rei e filósofo. Este seria escolhido dentre os guardiães, aquele que mais se destacasse em provas que abrilhantassem seu patriotismo e resistência. (CENICA, 1972, pg. 61)

A princípio, vemos Agostinho caminhando com Platão nessa busca pelo conhecimento e pela forma de ‘transmissão’ do mesmo, o que apontaríamos como sendo educação. Neste ínterim ambos concordavam em haver um conhecimento inato. Contudo, divergindo com Platão, Agostinho aponta que essa sabedoria, esse conhecimento era manchado pelo afastamento do homem em relação a Deus.

 

Mas, para falar-vos claro, seja o que fôr a sapiência humana; vejo que ainda não a possuo. Mas apesar dos meus trinta e três anos julgo que não devo desesperar de alcançá-la. Desprezando tudo o que os homens chamam bens, resolvi procurá-la. Como as razões dos Académicos me arrastavam, julgo ter-me armado contra eles por esta discussão. Ninguém ignora que só aprendemos pelo peso da autoridade ou da razão. Para mim é certo que nunca me afastarei da autoridade de Cristo, que tenho por superior a todas. Quanto ao que exige raciocínio subtil, pois que desejo ardentemente não só crer mas compreender a verdade, confio poder encontrar entre os platónicos o que não repugne aos nossos mistérios, (AGOSTINHO, LIVRO III, XIX, 43, pg 133, MCMLVII)

 

Pensando nisso, o acesso à sabedoria, para Agostinho, só teria lugar na vida humana por duas vias: razão e fé; ao que Platão apontaria apenas para a razão pela instrumentalidade da filosofia. Na visão agostiniana, a autoridade de Cristo aponta para o que se diria de uma fé supra racional, no sentido de que haveria necessidade do exercício (existência) da fé para que a razão fosse, de fato, iluminada; podendo, assim, entender e discutir questões muito mais complexas do que simplesmente se faria com o uso estrito da razão.

 

Políticas

Na teoria de Platão, o ideal para haver uma educação efetiva e eficaz seria a existência de um governo, a partir de um Rei-Filósofo, em que se estabeleceria um estado controlando tudo, por meio das três camadas sociais, inclusive no que diz respeito à procriação e essa apenas oriunda da casta superior, a dos guardiães.

Assim, a política educacional proposta por Platão seria a educação que proporcionasse a manutenção de castas conservando o artesão na sua limitação, como também os militares. A classe superior, a dos guardiães, se perpetuaria no poder pela restrição da educação às outras duas classes sociais. Como política pública, essencialmente no uso restrito do termo, a teoria proposta de Platão não se implementou como desejado.

Agostinho, nesse ponto, caminhou em direção contrária à Platão. Seu desejo em propagar o evangelho aos bárbaros e tornar-lhes comum o conhecimento a todos, ou seus diversos embates contras as seitas que surgiram de dentro do próprio catolicismo foi onde ele aplicou todo o seu arcabouço acadêmico.

Ele não o fez apenas para si, ou para sua classe, fez no intuito de tornar comum seu pensamento a todos. Aos hereges, mostrou-lhes como ele via a cada uma das propostas destas seitas pela via do debate, e até mesmo aceitando compartilhar o governo com os seus opositores em alternância de poder.

Aos leigos difundia o ensino, mas fazendo uso de uma fala comum à massa popular para se fazer entendido por todos. Doutor sim, mas entendia a necessidade de comunicar ao maior número de pessoas o seu conhecimento.  Com isso, Agostinho foi platonista até onde isso não lhe subjugou a fé, ou até onde não o impedisse que outros obtivessem o conhecimento por serem de outras classes sociais. 

 

Considerações finais.

A história nos mostra a ironia dessa divergência entre Platão e Agostinho. Não vimos os gregos satisfazerem à teoria platônica, nem Agostinho defender tal coisa. Todavia vimos o famigerado e bem conhecido Período das Trevas como resultado de política pública imposta pelo clero da instituição que Agostinho havia defendido no passado com tanta garra, por anos a fio, desde a sua conversão até a sua morte.

A Era das Trevas foi aquele período quando e onde se mantiveram castas sociais que impediam à plebe o acesso ao conhecimento, até mesmo a aquele conhecimento que Agostinho tanto defendeu, que era o livre acesso ao evangelho, ao conhecimento bíblico. Historicamente conhecida, até reproduzida na ficção O Nome da Rosa, a negação do acesso ao conhecimento bíblico se tornou um fato e apenas tiveram esse direito o clero. Da mesma forma o clero também manteve e controlava uma distância entre as classes nobre x povo, conforme seus interesses.

Os pensadores, Guardiães na ideia de Platão, mantiveram por mais de um milênio o status quo de: pensantes x nobres x povo pela negação da educação, pela negação de políticas públicas que favorecessem aos governados o conhecimento.  A própria definição platônica de política como sendo ações dos governantes em favor do seus governados se viu ofuscada nesse período regido pela classe pensante do clero. Isso nos faz enxergar o sentido da frase de Platão no topo deste trabalho: Por conseguinte, o hábil guardião de uma coisa é também o hábil ladrão dessa mesma coisa.” (PLATÃO, 380 a.C., Livro I)

A igreja acabou implementando políticas educacionais que foram o inverso daquilo que presava “Sócrates”, assim como o oposto do princípio visto em Salomão: ‘removeram os marcos antigos que puseram seus pais’. Desta forma, tanto na visão agostiniana, quanto na visão platônica de que somos reflexos do deus que se adora, a igreja havia se tornado o reflexo de um deus separatista, elitista e ditatorial.

 

 

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de A. Idade Média: a educação mediada pela fé. In: ____. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: EDITORA MODERNA, 2006, p. 154-193.

 

BIBLIA SAGRADA, ed. Almeida Revista e Atualizada com números de Strong, OLIVE TREE BIBLE SOFTWARE Versão: 7.15.5.0 Wednesday, July 03, 2024 at 4:13:31 PM

 

CIVITA, Victor Ed.; Os Pensadores; ABRIL S.A. CULTURAL E INDUSTRIAL, SP, 1972

 

HIPONA, Agostinho; Contra os Académicos -  Diálogo Em Três Livros; TRADUÇÃO E PREFACIO DE VIEIRA DE ALMEIDA - COIMBRA — MCMLVII Disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/29076757/contra-os-academicos-santo-agostinho

 

HIPONA, Agostinho; Cidade de Deus, VOLUME I, (Livro I a VIII); 2.“ Edição; FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, 1996.

 

MELLO, José J. P.; DE PAULA, Andriely S. O papel da educação no Processo Santificador. Maringá. Artigo publicado no VIII Jornada de Estudos Antigos e Medievais, de 16 a 18 de Setembro de 2009.

 

PLATÃO, A República, Livro I, 380 a.C. Acessível em: https://www.baixelivros.com.br/ciencias-humanas-e-sociais/filosofia/a-republica

 

PLATÃO, Os Pensadores - Diálogos, Editora Abril, 1972.

                                                                            

 



[1] Licenciado em Pedagogia e história, bacharel em teologia

[2] Universidade Federal do Pará (UFPA), Abaetetuba – PA – Brasil. Doutor em Educação. Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

[3] Modo de ser e viver

[4] Mulherzinha qualquer

[5] Seita oriunda do catolicismo famosa por práticas de orgias após ritos de sagração e outros atos inaceitáveis a cristãos.

[6] Regra de fé



[i] Trabalho entregue na UFPA – ABAETETUBA – PA como aluno ouvinte do PPGCITI 

domingo, 29 de setembro de 2024

O tempo e o vento II

 


 

O tempo e o vento são contos do Veríssimo

Duas palavras com significado sempre unido

Pois de fato a vida voa

Como vento que no canto entoa

 

A Bíblia sempre associa essas duas palavras, ela afirmava:

“Lembra-se de que eles são matéria,

vento que passa e já não retornaria.”

Assim o salmista já declarava

 

Ou como o profeta:

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia;

todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos dissaparia.”

 

Esta é a realidade que precisamos jamais esquecer  um só momento,

pois essa pode ter seu fim num piscar de olhos, não precisará de fomento.

Passamos anos de nossas vidas: alguns procurando conhecimento,

enquanto outros, literalmente, gastando seu tempo.

 

O tempo é diferente para cada um

Na roça o dia para mais de um

Na cidade podemos ter vinte e oito horas

Parecem mais um breve chá de senhoras

 

O pecado por muitos não foi atentado

Muitos ouviram contudo não abandonaram

Em outras paragens, aqui, de fato, não pisaram

Sem ter aproveitado seu bocado

 

Por pouco tempo podemos aproveitar

E aqui antes da glória deslumbrar

O futuro chega rápido e logo o presente se torna passado

E jamais podemos esquecer o tempo aqui desfrutado

 

O tempo é ouro que jamais compramos

O tempo é vida que jamais recobramos

O tempo é investimento que não celebramos

O tempo é dádiva divina e a Ele glorificamos

 

Rev. Júlio César Pinto

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Respostas ao argumento de John Piper acerca do Batismo Infantil

 

O texto que, segundo o site http://davarelohim.com.br/web/imperdivel-john-piper-fala-sobre-batismo-infantil/ apresenta como sendo as razões do Piper em discordãncia com o pedobatismo, segue abaixo interposto com as devidas respostas. 


Segue-se as respostas logo após as premissas do autor referido.

 

1.  Arrependimento e fé precedem toda ordenança e instância de Batismo no Novo Testamento

 

Atos 2.37-38, 41

 

37 E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? 38 E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; 41 De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas.

 

    RESPOSTA: A conclusão está equivocada quanto ao texto bíblico. O ponto de lógica usado pelo Piper é de que o batismo depende de fé e arrependimento. O que não está na lógica do texto referido de forma integral. O ponto anunciado para o batismo aqui é de que, justamente, há uma deliberada omissão de parte do texto como se essa parte do texto não fosse afirmada para a ordenança do batismo. É a velha história de uma alegação fora do contexto para pretexto de texto. Pelo argumento apresentado, estaremos partindo do mesmo ponto do objetor ao pedobatismo. E, certamente todos os outros pontos do argumento serão vistos ao longo de minha resposta. Ainda assim, ao final, estarei relembrando a cada um dos pontos afirmados na resposta inicial.

 Vamos ao texto integral.

Atos 2:37-41

37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? 38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. 39 Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. 40 Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. 41 Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.

    Certamente o arrependimento não partiria de uma criança, nem tem por que. Mas, a ordenança é generalizada para incluir tanto adultos quanto crianças. E o motivo é o mesmo dado pela ordem de Cristo ao expressar a grande comissão. “Ide e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado...”. Tal ordem era para se começar a igreja.

    É, extremamente óbvio que a ordem de pregar não se referia a dirigir a mensagem a bebês, isso não faria o menor sentido, pois a ordem deveria ser executada para começar a igreja, a expansão do Reino em todas as culturas e línguas. Como fazer isso pregando para crianças? Certamente nunca foi essa intenção, mas o texto não exclui o batismo infantil, mas aponta a necessidade do adulto que crer ser batizado. O mesmo entendimento se faz necessário aqui no texto de Atos com respeito ao arrependimento. Entretanto aqui, há sim uma ordenança clara para o batismo infantil.

    Perceba que em Atos 2, o versículo 39 começa com POIS. Em grego, é γαρ (é um conector conclusivo ou explicativo daquilo que se afirmou anteriormente). Piper omitiu uma conclusão explicativa daquilo que havia sido dito anteriormente, se deliberadamente, não sei. Ora, a afirmação anterior é de que haveria de acontecer o batismo por que diz respeito à uma promessa. Promessa é ἐπαγγελία que diz respeito a uma benção prometida, um juramento. As promessas de bençãos sempre partiram como termos pactuais de uma aliança. A promessa referida aqui, então, está ligada à uma aliança que é parte de seus termos pactuais.

2.39 Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.

    A aliança pactual referida é a mesma aliança pactual do AT. Dois sacramentos eram necessários no AT para representarem essa aliança. Em toda aliança há uma necessidade básica contratual: os termos sendo aceitos dos dois lados, bem como os deveres a serem cumpridos dos dois lados.

Podemos iniciar essa exposição logo na criação do homem.

Gênesis 2:15-17

15 Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. 16 E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, 17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

    Os termos do pacto vistos aqui em Gênesis podem ser resumidos assim:

1.       Deus, Criador do homem e também Legislador do Pacto (Aliança)

a.       Obrigações pactuais- Vida em caso de obediência, morte em caso de desobediência

2.       Homem, como servo, anuente ao pacto pela imposição do Criador

a.       Obrigação pactual – Obediência

                                  i.      Benção decorrente da obediência – vida

                                  ii.      Maldição decorrente da desobediência – morte

    Toda a teologia do Novo Testamento não existe, nem é possível, sem o Antigo Testamento. Não existe inovação no sentido de algo 100% inédito no Novo Testamento, uma vez que a revelação é progressiva. Aquilo que começou a ser revelado no AT como profecias, sombras e tipos, adquiriu corpo e cumpriu-se cabalmente no NT. De modo que, qualquer que seja a doutrina bíblica, ela tem embasamento histórico no AT.

    Vemos isso com clareza, por exemplo, com respeito às leis cerimoniais que tiveram o seu ápice no AT mas, apenas como tipos e sombras; e vieram a permanecer no NT apenas nas suas essências, nos seus princípios. Como aconteceu com os sacrifícios de animais pelos pecados que eram apresentados por um sumo sacerdote meramente humano, falho assim como os próprios sacrifícios que ofereciam, e, anualmente deveriam ser repetidos. Segue-se a isso a própria limitação do sumo sacerdote que tinha seu ofício interrompido pela própria morte.

    No NT, o autor da carta aos Hebreus nos mostra que, tais sacrifícios como tipo de Cristo, e os sumo-sacerdotes da mesma forma, cederam lugar a Cristo e seu sacrifício na cruz. Entretanto, ao contrário deles, o sacrifício de Cristo é: único, eficaz e perfeito. Da mesma maneira o seu exercício do ofício sacerdotal é: perfeito, eficaz e eterno.

    Segue-se a isso, de que, as doutrinas aplicáveis como símbolos da Aliança no Antigo Testamento, não desaparecem, nem podem, no Novo Testamento mas, adquirem forma condizente com a Nova Aliança, no Novo Testamento, mas mantendo-se alinhadas aos mesmos princípios que dantes.

Páscoa – A pascoa, como já sabido, é a tipologia de Cristo de seu sacrifício no AT. O cordeiro, como tipo de Cristo, teve seu fim quando Cristo consumiu o tipo na cruz. O perfeito sacrifício.

     A primeira páscoa aconteceria pouco antes (no mesmo dia) em que a última praga de Deus sobre os egípcios viria. Deus havia dito a Moisés que a última praga seria a morte de todos os filhos primogênitos de cada família. Haviam alguns elementos que representavam a páscoa naquele primeiro dia: o cordeiro que deveria ser morto e o seu sangue passado nas portas. Este símbolo da pascoa era justamente o que o anjo da morte veria quando viesse àquela casa para matar ao primogênito e quando visse o sangue ele passaria por cima daquela casa e não traria a morte. Êxodo 11.4-5; 12.11-14.

    Mas, havia também outros símbolos da páscoa: o pão sem fermento, chamado pão asmo com as ervas amargas, e o próprio cordeiro que deveria ser comido assado ao fogo Ex 12.8. Vemos também a ordenança não tinha uma perspectiva, em essência, temporal: Êxodo 12:24 Guardai, pois, isto por estatuto para vós outros e para vossos filhos, para sempre.  Há clara ordenança de que esta comemoração deveria ser perpétua, ou seja, para sempre. Isso nos mostra que há um princípio ali que não deveria cessar.

    Em tudo isso, ainda vemos que há uma estreita ligação imposta pelo próprio Senhor, deste rito, com outro rito: Êxodo 12:47-48 Toda a congregação de Israel o fará. 48 Porém, se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa do SENHOR, seja-lhe circuncidado todo macho; e, então, se chegará, e a observará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. A princípio, a páscoa não poderia ser comida por nenhum estrangeiro, havia uma completa restrição.

    Perceba que, aqui, a restrição é dada de forma a levar em consideração a disposição do coração do estrangeiro: “..., se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa do SENHOR, seja-lhe circuncidado todo macho...”. O que podemos destacar aqui é concernente a duas questões. Primeiro que o estrangeiro deveria, além de ter consciência do que se tratava a páscoa e de ter vontade em participar dela. Para tanto era necessário que ele obedecesse outro rito: a circuncisão.

    A segunda coisa que precisamos entender, é de que o próprio texto engloba o mesmo sentido da ordenança primeira da circuncisão: “seja-lhe circuncidado todo macho...”. Certamente o texto está apontando para todos aqueles que estivessem debaixo da autoridade desse “estrangeiro” que quisesse participar da páscoa: filhos, órfãos, quem quer que tivesse debaixo de sua autoridade como senhor daquela família.

    É esse mesmo princípio visto quando Deus instituiu a circuncisão: Gênesis 17:9-10

Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações. 10 Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. (Grifo meu). A possibilidade do estrangeiro participar da Páscoa, já estava prescrita dentro do pacto (Aliança) na circuncisão: Gênesis 17:12 O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Tal princípio aplicado por Deus com respeito à páscoa, não era novo, apenas trazendo sua aplicabilidade a fim de o estrangeiro poder participar da páscoa.

       Aqui, na instituição da circuncisão, vemos o mesmo princípio de perpetuidade do sacramento visto na páscoa: “...no decurso das suas gerações”.  Ou seja, em qualquer tempo ou lugar em que houvesse um descendente de Abraão, ali se deveria guardar a aliança de Deus através de um símbolo, que, até o momento em que vigorasse a Antiga Aliança (Páscoa) esse símbolo deveria ser o mesmo estabelecido por Deus na sua relação sacramental: a circuncisão (Êx 12.48)

    Quando Jesus estava na terra e havia chegado o período da páscoa, sendo ele judeu e descendente de Israel, chamou aos seus discípulos para que fossem preparar a páscoa. Ele sabia que esta seria a sua última páscoa, pois estava para ser morto. (Mateus 26. 17-19)

    E, ao chegar o momento da páscoa, lemos: Mateus 26.26-28: Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. 27 A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; 28 porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. (Grifo meu)

    Ora, Jesus estava comemorando a páscoa com os discípulos. Na primeira vez que a páscoa aconteceu, Deus estabeleceu uma aliança com Moisés. Ele havia dito que a casa onde o sangue do cordeiro estivesse no portal da casa, a morte não entraria. Mas este sangue era de um animal, e o animal foi morto e comido.

    Percebam ainda que, no versículo 28, Jesus reestabelece uma nova aliança na páscoa. Não era nova no sentido de ser uma aliança inédita, mas nova no sentido de ser feita em novos moldes.  A palavra “nova” é καινός, e seu sentido é novo quanto à forma. Um molde que substituiria aquele antigo feito com Moisés de que eles teriam de matar o cordeiro, comê-lo assado com pão ázimo e ervas amargas.

    Cristo estabelece novos símbolos da páscoa, apenas pão e vinho. Mas o pão já fazia parte da antiga ceia, não teria, então na nova aliança símbolos que substituíssem o cordeiro, o sangue e as ervas amargas? Da mesma forma que as ervas amargas representavam o sofrimento do povo no Egito por causa da escravidão, houve o sofrimento de Cristo exatamente no dia da páscoa, na chamada Sexta feira santa, ou sexta feira da paixão de Cristo, o dia em que Ele foi crucificado.

    Mas e quanto ao sangue do cordeiro, não tem nenhum substituto na nova aliança? Sim, também tem. Cristo afirmou que o seu sangue era o sangue da nova aliança, ou seja, o sangue que substituiria o sangue do cordeiro. Mas e o corpo do animal sacrificado? Cristo também afirmou que o pão representaria o seu corpo, sacrificado em favor de seu povo.

    Da mesma forma que o sangue do cordeiro na antiga aliança feita com Moisés evitou que a morte entrasse na casa onde houvesse o sangue nas portas, o sangue de Cristo também livrará da morte do inferno a todo aquele que aceitar o seu sacrifício, de modo que o seu sangue o protegerá da condenação infernal. Cristo é o cordeiro da páscoa e Paulo afirma isso: 1 Coríntios 5:7 Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.

    A páscoa então traz como símbolos o pão e o vinho, fazendo-nos lembrar do  nascimento, vida, obra, morte (sacrifício) e ressurreição de Cristo na cruz até que Ele retorne. É o que o apóstolo Paulo ensina em 1 Coríntios 11:26 Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha; e:  Lucas 22.19 ...fazei isto em memória de mim.... Segue-se aqui a mesma perpetuidade e essência do que significou a primeira páscoa no passado para o povo no Egito e de que, ano após ano deveriam celebrá-la.

     Ao falar da circuncisão, Paulo lembra o princípio que era aplicado apenas aos adultos, e não, obviamente aos infantes de oito dias de nascido como foi ordenado na instituição do sacramento.

Romanos 2:28-29 Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. 29 Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.

    Paulo fala aqui do mesmo que tanto Moisés, quanto Jeremias falaram aos hebreus adultos cada qual em sua época, e que eram circuncidados:

Deuteronômio 10:16 Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz.

Jeremias 4:4 Circuncidai-vos para o SENHOR, circuncidai o vosso coração, ó homens de Judá e moradores de Jerusalém, para que o meu furor não saia como fogo e arda, e não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras.

    Foram circuncidados na carne quando tinham oito dias de nascido, mas deles é cobrada uma circuncisão além da carne, a circuncisão do coração, a circuncisão da alma, a espiritual assim como mostrada por Paulo e que não é operada por homens, mas de Deus”. A circuncisão não carnal que deve ser vista e louvada como obra de Deus.

    Essa mesma explicação fez Cristo ao falar do novo nascimento a Nicodemus.

João 3:5-7 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. 7 Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O novo nascimento realizado pelo Espírito Santo.

    Paulo ao escrever aos Filipenses ainda fala de uma circuncisão válida em face à uma circuncisão inválida: Filipenses 3:2 Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão! 3 Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. O tempo da circuncisão na carne havia ido.

    Paulo fala contra a circuncisão meramente carnal. Daquela mesma que Jeremias e Moisés insistiram em afirmar que era um mero símbolo, da Aliança, de uma verdadeira circuncisão, que não era da carne, mas do espírito, do novo nascimento, da conversão promovida pelo Espírito para louvor de Deus. E o mesmo afirma em Colossenses 2:11, trazendo o mesmo entendimento visto em Romanos 2.28-29:Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo,”. O que vemos nisso é de quem assim como há o princípio da perpetuidade com respeito à aliança na páscoa, há também o princípio da perpetuidade da aliança com respeito à circuncisão.

    A perpetuidade da circuncisão acontece, mas não como foi com Abraão, mas como Paulo afirma:

Romanos 4:7-12 Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; 8 bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado. 9 Vem, pois, esta bem-aventurança exclusivamente sobre os circuncisos ou também sobre os incircuncisos? Visto que dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça. 10 Como, pois, lhe foi atribuída? Estando ele já circuncidado ou ainda incircunciso? Não no regime da circuncisão, e sim quando incircunciso. 11 E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, 12 e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado.

    Em primeiro lugar, vemos Paulo argumentando (vs. 7-8) sobre a bem aventurança da salvação, fazendo-se valer de um texto de Davi (Sl 32.1-2). O questionamento retórico (v.9) em seguida tem por intenção levar à reflexão sobre a quem se aplica a salvação. Para levar a cabo seu argumento, ele retorna a Abraão sobre o momento de sua conversão (... a fé foi imputada...); Nisto se dá a conversão promovida pelo Espírito Santo, como já visto em outros textos.

    Segue-se de que Paulo esclarece de que sua conversão não se deu depois da circuncisão, mas antes dela (v.10). Mostrando ainda de que a circuncisão era o símbolo da Aliança promovida por Deus e logo adiante ele afirma de que Abraão recebeu o símbolo da sua própria conversão por meio da circuncisão (v.11). Mas, tal selo, mesmo sendo dito que era acerca da fé, aos infantes de oitos dias também era aplicada.

    E, Paulo, ainda afirma mais. Ele confirma o princípio da perpetuidade da circuncisão (v.11,12) conforme visto em Gênesis 17.9-10 com o destaque feito anteriormente, quando ele fala de que Abraão recebeu a circuncisão para ser o Pai da fé, inclusive dos incircuncisos que haveriam de seguir a mesma fé de Abraão.

    Conforme vimos a perpetuidade do mesmo princípio aplicado aos antigos, a circuncisão, não da carne, mas do espírito, segue seus passos. Há de se ter, da mesma forma, um símbolo que representasse o despojamento da carne, represente a circuncisão do coração, a conversão, no NT. Mas, que símbolo seria esse? Tal símbolo deveria carregar o mesmo princípio da circuncisão que Paulo aponta no início do versículo 11: 11 E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé.

    Precisamos, entretanto, lembrar ainda que, esse mesmo símbolo no AT deveria ser aplicado aos recém nascidos, mas não pela fé deles mesmos, mas pela fé de seus pais, assim como também deveria ser feita aos estrangeiros que cressem na mesma aliança e quisessem participar da páscoa. Assim, não podemos afirmar que, definitivamente não era em todos os casos de circuncisão no AT, de que a circuncisão era o símbolo da fé do indivíduo que a recebia na carne. Os recém nascidos não criam, nem sabiam o porquê estavam sendo, literalmente, podados mas, é deles também o que foi dito:  recebiam o selo da justiça da fé.

    Desta maneira, a continuidade da igreja da Antiga (por meio de Abraão), para a Nova Aliança se fez de forma natural por meio de Cristo. E é no Novo Testamento, que o sacramento do batismo que aparece como símbolo como selo da justiça da fé”.

Romanos 6:4 Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.

    Sacramento nada mais são do que selos, visíveis, da Aliança que Deus fez com sua igreja “no decurso de suas gerações” para mostrar sua misericórdia ao seu povo, distinguindo visivelmente, o seu povo do restante do mundo. Não existe um poder velado, místico, em torno de tais atos (sacramentos) que possam conduzir, ou promover, naqueles que recebem o selo, alguma modificação no seu status espiritual. São, apenas, selos, símbolos. Mas, não são símbolos de arrependimento ou fé para todos os que o recebem. São sim, da mesma maneira e essência que era na circuncisão, símbolos da Aliança com Deus, (promessa, termos do pacto), para todos os que recebem tal selo.

    A Aliança com Deus, conforme dissemos, há uma dupla via nos termos contratuais. A Aliança para vida eterna foi quebrada e sua quebra se baseava na queda vista em Adão (Os 6.7), e a morte, o derramamento de sangue era necessário como cumprimento dos termos pactuais (certamente morrerás). Mas, ali mesmo em Gênesis Deus mostra sua misericórdia promovendo um sacrifício substituto (vicário) de um inocente. (Gn 3.21). Mas a Adão foi imposta também as consequências de seu pecado. (Gn 3.17-19, 24).

    Sempre na Aliança houve a dualidade representativa: Deus como legislador do Pacto e determinante soberano x o homem como anuente e dependente dos termos pactuais impostos por Deus.

    Na progressividade da revelação, Deus continua como legislador do Pacto da Aliança que é refeita em Abraão. A Aliança não era nova, nem o legislador, nem os termos pactuais, mas como anuente havia outro representante. Assim como foi o representante inicial da raça humana, Adão, Abraão se fez representante de uma classe especial dentro da raça humana, os que abraçariam futuramente a mesma Aliança e fé, certamente com a progressividade da revelação vista em Cristo. Um afunilamento da Aliança caminhando juntamente com a progressividade da revelação.

    Desta feita, em Abraão a Aliança se ampliou no sentido de que o homem também deveria expressar sua parte nesse pacto. Deus se firmou com juramento nesse momento, (cf. Hb 6.17) e quanto a Abraão e seus descendentes, a princípio somente os da carne, deveriam assinar o pacto com o próprio sangue, afinal de contas era um pacto em termos de vida, (Gn 9.4); mas também é sinal de morte (Gn 9.6). Ao homem, por meio da circuncisão, foi exigido a lembrança do pecado por meio da dor e do derramamento de seu sangue. Esse era os termos pactuais feitos com Adão (certamente morrerás).  

    Naquele mesmo evento em que Deus realizou o sacrifício vicário no Éden, também profetizou acerca da vinda Daquele que haveria de destruir as obras de Satanás (Gn 3.15). Veja que, para o homem executou os termos de maldição do pacto (Gn 3.17-24), mas ao mesmo tempo demonstrou através desse embrião do evangelho sua a sua graça ao falar do seu eterno plano de salvação, e mostra como isso se daria ao matar o primeiro animal e com suas peles cobrir a nudez de Adão e sua esposa.  

    A Nova Aliança em Cristo segue com os mesmos princípios da Antiga Aliança. Sua essência continua a mesma por dois motivos. 1. Do qual já falamos acerca do significado de “Nova”; 2. Deus pode mudar sua forma de operar na humanidade (cf. Hb 1.1-2 - aparência das coisas, ritos, etc), mas não muda seus princípios, sua essência pois são uma expressão do próprio caráter de Deus que é eterno.

    Assim é que Paulo ao escrever aos Colossenses afirma: Colossenses 2:11-12 Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, 12 tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.

    Antes, precisamos nos situar qual é o contexto que Paulo afirma sobre os dois termos em questão: batismo x circuncisão. O presente intuito de Paulo, ao escrever para a igreja em Colossos, era:

1.       Falar diretamente aos crentes (1.2).

2.       Dirigir-lhes certa repreensão para que eles vivessem de acordo com o conhecimento que eles haviam adquirido acerca do evangelho de Cristo. (1.10)

3.       Fossem fortalecidos na fé pelo Espírito Santo (1.11)

4.       Afirmar que Cristo Deus Filho encarnado e é o Cabeça da Igreja (1.13-23); de forma que todo ensino e toda prática deve vir da própria pessoa e obra de Cristo e do que isso significa para a igreja (Nova Aliança)

5.       A executabilidade do eterno projeto de Deus quanto aos gentios (1.24-29) para que fossem tidos como “natural da terra” (Cf. Êx 12.48 - igreja atemporal)

6.       Alertar contra os falaciosos (2.4)

7.       De que a jornada cristã é uma caminhada da Fé. Não adianta achar o caminho, tem que trilhá-lo. Enraizados, raiz que mantém a árvore de pé. Edifícios não caem por sua fundação. Em Cristo, enraizados, edificados, alicerçados. (2.6)

    A partir de 2.8, entramos no cerne da questão. Paulo adverte contra a sutileza da tradição:  Colossenses 2:8 Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; E o motivo de tal alerta foi contra os judaizantes que queriam realizar um casamento entre Cristo e Moisés, ou melhor no contexto, entre Cristo e Abraão, uma vez que é nesse momento que Paulo introduz a questão judaizante que procuravam incitar aos crentes a praticarem a circuncisão. Tal advertência paulina pode ser confirmada em versículos subsequentes de que ele estava falando, não apenas da circuncisão, mas de todo do cerimonialismo judaico ao mesmo tempo em que se detém no exemplo da circuncisão.

    Após, então, falar da divindade de Cristo, como fundamento para seu argumento a seguir, Paulo expõe da seguinte maneira:

Colossenses 2:10-11 Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. 11 Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, sobre isto já tratamos quando citamos a circuncisão do coração e falamos acerca da conversão.

Colossenses 2:12 tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.

    Podemos parafrasear a tríade de versículos logo acima da seguinte maneira:  

'Vocês, crentes de Colossos, não podem permitir que esses hereges que são, na verdade, mestres do erro, incite vocês a retrocederem às sombras do Antigo Testamento. Vocês não precisam de ser, literalmente, circuncidados na carne, uma vez que literalmente, vocês foram circuncidados no espírito, vocês foram santificados, em Cristo, a fim de vocês vencerem as tentações da carne ao ponto de serem efetivamente salvos. De fato, vocês foram circuncidados, não na carne, não era uma circuncisão feita por mãos humanas, mas do abandono das paixões da carne por meio de Cristo. Cristo foi torturado e morreu, foi sepultado no vosso lugar. Tudo o que era escrito de dívida contra vocês, Cristo levou sobre si mesmo (Gl 3.13). De forma que, quando declararam a sua fé em Cristo, como seu Senhor e Salvador, aquela sua antiga natureza, corrupta e culpada perante Deus, foi também sepultada com Ele.  De forma que, aquilo que antes era visto como objeto de condenação, se tornou visto como vãos de justificação. A consequência disso é que não apenas vocês foram sepultados com ele, mas também foram ressuscitados.'

    Paulo não atribui aqui, ao batismo, nenhum tipo de efeito místico, mágico, mas é pela fé em si mesma, e não pelo ato batismal conforme podemos ver em 1 Co 1.14-17 cf. 1 Pe 3.21. Por isso, Paulo acrescenta: Colossenses 2:12 ...no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.” (grifo meu).

    Por qual motivo, então, Paulo destaca o batismo quando diz “no vosso batismo”, ou “12... tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo.”? Paulo está magnificando o batismo para depreciar a circuncisão. Paulo está desqualificando a circuncisão frente ao batismo. Uma vez que os judaizantes ensinavam a necessidade da circuncisão para salvação.

    Seguindo o mesmo princípio, na essência do batismo não se pode afirmar sobre sua necessidade de salvação, quem lê a palavra entende. Salvo aqueles ignorantes que afirmam sua necessidade, seguindo o mesmo princípio da circuncisão; falo de ser feito a um infante, mas para que esse, caso morra na condição de infante, não vá para o inferno. Ora, nem a circuncisão, tão pouco a sua sequência que é o batismo tem algum efeito nisso. Segue que a necessidade do batismo, aos infantes, obedece o mesmo preceito da sua sombra que foi circuncisão: ordenada pelo Senhor. (...para vossos filhos...)

    Para alguns alguém pode caso contrário, objete: “Por que você abole a circuncisão sob este pretexto – que sua realização está em Cristo? Não foi Abraão, também, circuncidado espiritualmente, e ainda assim isso não impediu a adição do sinal à própria carne? A circuncisão externa, portanto, não é supérflua, embora aquela que é interior é conferida por Cristo”. Paulo antecipa uma objeção desse tipo, fazendo menção ao batismo. Cristo, diz ele, realiza em nós circuncisão espiritual, não por meio daquele antigo sinal, que foi em vigor sob Moisés, mas pelo batismo. O batismo é, portanto, um sinal da coisa que nos é apresentada e que, embora ausente, foi prefigurada por circuncisão.

    Além de Paulo desconsiderar tal necessidade da circuncisão para salvação, (e vimos isso em Moisés e em Jeremias) ainda aponta ao batismo como selo da mesma aliança pactual do AT, contínua e operada agora, não por meio de um sacerdote humano e falho, nem por uma cisão na carne. Mas, um novo selo, condizente com a Nova Aliança, inaugurada por Cristo com a mesma essência e princípios que o selo anterior (Rm 4.11), contudo, não operada da mesma forma (exterior).

    Aqui, os termos pactuais continuam os mesmos. Há um legislador e soberano no pacto e, também há um anuente aos termos desse pacto. De um lado o Soberano assinou com seu sangue na cruz e deixou seu legado para posteridade lembrar, “...fazei isto em memória de mim...”. Do outro lado, só podem participar da mesa, aqueles que são anuentes à Nova Aliança. O anuente ao pacto aceita os termos da aliança e recebe em si mesmo o selo dessa aliança por meio do batismo, e assim poderá participar da mesa do Senhor, assim como os crentes do AT, depois de circuncidados, poderiam participar da Páscoa. Continuidade e progressividade da revelação.

 

Ainda dizemos que:

1.Não vemos nenhuma continuidade da Páscoa praticada pela igreja após a morte e ressurreição de Cristo registrada na Escritura. E nem poderia. Pois como se praticaria o tipo, a sombra, em vista daquilo para o qual apontavam já ter vindo ao mundo e realizado a sua obra? O tipo tendo sido cumprido, não resta nem a data específica anual da sombra, que era a páscoa judaica. Cristo cumpre o tipo e ordena: "... o sangue da Nova Aliança no meu sangue". Comemoramos o tipo cumprido: domingo, ceia, batismo (há conclusão posterior). As sombras ficaram pra trás: Páscoa, circuncisão, sábados e outras datas festivas, sacrifícios, etc.

2. João, após a morte e ressurreição de Cristo, ou seja, já no período do NT, registra uma informação histórica e doutrinária para a igreja com respeito à Páscoa: "Ora, a Páscoa, *festa dos judeus,* estava próxima"... A festa era dos judeus, não da igreja.

 

 2. Não existe instância de batismo infantil na Bíblia.

 

E sobre batismos familiares? (Atos 16.15, 33; 1 Coríntios 1.16)

 

É um argumento do silêncio que crianças foram inclusas nestas três ocasiões[i]. Além disso, em Atos 16.30-33 Lucas aponta que a Palavra de Deus foi pregada a todos aqueles que foram batizados, deste modo, não sugerindo crianças, mas sim aqueles que podiam ouvir a Palavra é que foram batizados. 

RESPOSTA: Se este é um argumento do silêncio, a partir do texto citado também não prova que crianças não batizadas. Se não serve como argumento para um, também não serve para o outro.

É falsa o argumento sobre sua base. Concernente ao texto de Lucas, já foi rebatida a mesma ideia quando tratamos de que as crianças que recebiam o selo da Aliança, por meio da circuncisão, também não entediam o motivo pelo qual estavam sendo podadas, ainda assim, recebiam o selo. O fundamento do batismo após para compreensão do evangelho, certamente não se aplica às crianças, apenas aos adultos.

 

Atos 16.30-33

 

30 “E, tirando-os para fora disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” 31 “E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”. 32 “E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa”. 33 “E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus”.

RESPOSTA: Já respondido logo acima diante da proposição de que não há batismo infantil

 

3. Batismo É descrito por Paulo como uma expressão de fé.

 

Colossenses 2.11-12

11 No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo;12 Sepultados com ele no batismo, nele [isto é, o batismo] também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.

 

Assim sendo, o batismo é uma expressão de fé, e o ressuscitar com Cristo que acontece no batismo acontece por virtude do batismo ser uma expressão de fé que os infantes não podem exercer.

RESPOSTA: Respondido no tratamento do texto em questão.

 

 

4. O batismo é descrito por Pedro como um apelo (indagação) a Deus pela pessoa sendo batizada.

 

1 Pedro 3.18-21

18 Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; 19 No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; 20 Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; 21 Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;

 

O batismo salva no mesmo sentido que de que é uma expressão exterior de um apelo interior a Deus, não como um mero ritual de água. Ele salva da forma que a confissão dos lábios salva em Romanos 10.9 – na medida que a confissão dos lábios é uma expressão de fé do coração.

RESPOSTA: O próprio texto de Pedro afirma que o dilúvio era uma figura do batismo. De forma que o batismo não foi uma resposta a uma boa indagação de Noé, mas algo promovido pela soberania de Deus. Termos pactuais e símbolos de uma ação divina, conversão promovida por Ele mesmo. Além do mais, o batismo não salva em nenhum sentido, da mesma maneira que a circuncisão não fez. A questão da fé foi tratada no texto aos Colossenses.

 

 Mas e acerca do sinal da aliança feita com os filhos dos israelitas na Velha Aliança?

 

Genesis 17.7-13

 7 E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti. 8 E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus. 9 Disse mais Deus a Abraão: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações. 10 Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. 11 E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. 12 O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. 13 Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua.

 

Catecismo de Heidelberg:

 

[Crianças filhos de pais cristãos] pertencem à aliança e o povo de Deus… eles também devem ser batizados como um sinal da aliança, inseridas na igreja cristã e distinguidas dos filhos dos incrédulos, como era feito no Antigo Testamento pela circuncisão, em lugar do qual o batismo do Novo Testamento é apontado.

 

Diretório de Culto [Público] de Westminster

 

A descendência e posteridade do fiel nascido dentro da igreja têm por seu nascimento um interesse na aliança e direito ao selo dela e aos privilégios externos da igreja sob o evangelho, não menos que os filhos de Abraão na época do Velho Testamento…

 

Por que o batismo não é realizado aos filhos de pais cristãos na Nova Aliança como a circuncisão era realizada aos filhos de pais judeus na antiga aliança?

 

5. Porque os membros da nova aliança não são definidos por uma descendência física, como os membros da antiga aliança eram, mas pela escrita de Deus em seus próprios corações e chamando-os para si e trazendo-os ao arrependimento e fé.

 

RESPOSTA: Há falácia no argumento. Uma vez que, esse é parte do argumento de Paulo quando fala acerca do assunto. E promove a Abraão carregando em si mesmo o símbolo, o selo da fé, por meio da circuncisão. Essa questão ele deixa de apontar. O autor também deixa de demonstrar que, no próprio Diretório de Culto está escrito: 

e que: 




Sobre isso, duas afirmações. A primeira é de que não há uma pretensa negação ao batismo infantil nos catcismos reformados. E, se houver, nossa medida como regra de fé e prática não são tais textos, mas é tão somente a Escritura Sagrada, como afirma a própria CFW.


De acordo com este estreitamento das pessoas da aliança para aqueles que são verdadeiramente nascidos de Deus, o novo sinal da aliança significa que a pessoa é, de fato, parte da comunidade de nascidos de novo, que é evidenciado pela fé.

RESPOSTA: Falso. O sinal da Aliança não é apenas da fé do que tem a sã consciência dela. Isaque recebeu o sinal da aliança, sem qualquer expressão de fé.. participava tão somente da Aliança por causa de seu Pai, Abrão, que não apenas era seu pai carnal, mas também seu pai da fé, a quem também foi pai de todos aqueles que viessem, no futuro, vir a Crer, ter a mesma fé de Abraão no Messias que viria.

 Da mesma forma que uma mudança no sinal ocorreu para permitir que homens e mulheres participassem do sinal (batismo no lugar da circuncisão), assim, deixando mais claro que antes que mulheres e homens são igualmente herdeiros da salvação (1 Pedro 3.7), então também uma mudança nos recipientes do sinal aconteceu para deixar mais claro que sob a Nova Aliança o povo de Deus não é determinado por uma descendência física, mas uma transformação espiritual, evidenciada pela fé.

RESPOSTA: Falso. Na Antiga Aliança o homem era responsabilizado por sua família na Aliança com Deus, na própria carne. Era assim para lembrar a ele de que o pecado trazia o derramamento de sangue (símbolo de morte). Esta era a sua assinatura no pacto e assim como os descendentes de Adão herdaram sua condição, assim também os que professaram a mesma fé de Abraão, herdaram sua condição no pacto, incluindo filhos infantes e sem terem expressado sua fé, mas seus pais o fizeram.

 

5.1 João Batista chamou para ser batizado aqueles que já possuíam o sinal da aliança, mostrando que um novo significado estava sendo dado ao sinal – não mais apontando para a descendência de Abraão, mas antes a descendência espiritual por meio da fé e arrependimento.

 

Mateus 3.7-9

 7 E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? 8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; 9 E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.

5.2 Jesus confirmou o ministério de João e definiu os filhos de Deus não como aqueles nascidos de certos pais, mas aqueles nascidos de Deus pela fé.

João 1.12-13

12 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; 13 Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

RESPOSTA: Os textos são um fato, mas as alegações sobre eles é uma falácia. Certamente já rebatido, sobre qual a posição de um adulto, consciente, ao ouvir uma pregação do evangelho... O fato de um adulto ser batizado, deve ser tão somente se ele entender o evangelho. Mas isso não nega, nem contradiz o princípio da aliança de que, quanto os pais criam e eram circuncidados, os filhos, necessariamente deveriam receber o mesmo selo.

 

5.3 Paulo elucidou que os filhos de Abraão a quem a promessa foi feita não eram aqueles nascidos de acordo com a carne, mas aqueles nascidos de acordo com a promessa. Filhos da promessa e filhos da carne não são a mesma coisa.

Romanos 9.6-8

 

6 Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; 7 Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas em Isaque será chamada a tua descendência. 8 Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.

 

Gálatas 3.6-7

6 Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. 7 Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.

 

RESPOSTA: Certamente se esqueceu de que a promessa é o benefício concedido mediante os termos da Aliança, do pacto. E foi justamente esta parte omitida do texto de Atos 2, da qual ele iniciou seu argumento.

 

5.4. Os filhos a quem a promessa é feita são os filhos que são “chamados”, e a chamada de Deus é livre e não preso à família física.

 

Atos 2.39

Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.

 

RESPOSTA: Há falsidade na interpretação. Há três tipos de pessoas ditas aqui. Vós, vossos filhos, e aqueles que ainda estão longe...

Vós – os que ouviam a mensagem

Vossos filhos, os filhos dos que ouviam a mensagem (há uma presilha aqui no que diz respeito ao sinal externo da aliança – não mais circuncisão, mas o batismo)

Os que ainda estão longe... estes estavam previstos na profecia e ordenança de Cristo com respeito aos gentios e diáspora: Atos 1:8 mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.

Entretanto, assim como vemos a não necessidade estrita da circuncisão para salvação. uma vez que evidenciou-se durante os quarenta anos no deserto em que Israel viveu ali, viveu sem que praticassem a circuncisão. E, de mesmo modo, não podemos afirmar que foram para o inferno os que ali morreram sem a terem feito quando crianças. Ali, era uma privação involuntária dada a condição a que a nação estava submetida. Por isso, se pode obedecer, obedeça. Mas não obedecer, que não seja por negação ou rebeldia.

Da mesma forma, segue-se para o batismo que, devem ser batizados todos aqueles aos quais está reservada a promessa, às três classes: ...vós, vossos filhos, e aqueles que ainda estão longe..., ou seja: 1. os que ouvem e entendem a pregação, 2. os filhos desses que ouvem mas, não necessariamente entendem (direito natural de receberem o mesmo símbolo da aliança que seus pais abraçaram – Isaque recebeu o símbolo da fé – o mesmo que seu pai, sem nada ter crido ou entendido, assim como Ismael. Entretanto, um recebeu a anuiu a aliança quando entendeu, outro rejeitou e abraçou morte para si), 3. e aqueles que ainda viriam (gentios e diáspora). Furtar-se à esse princípio por negação ou rebeldia, segue-se a destruição pela própria desobediência voluntária.