quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

SINOS ECOANDO DO VERBO

 


De uma Criança veio a vida

Para de Seu riso termos paz

Trazendo alento à alma perdida

Pintando os momentos que a memória traz


A Criança que trouxe riso

Manteve o silêncio em um madeiro

Revelando força em seu sacrifício

Desde a eternidade, sendo o prometido Cordeiro 


Ouça, são os sinos ecoando do Verbo

Aos olhos de cada pessoa que valoriza

O ordinário se faz belo

E pela eternidade se torna atraída


Esse som ritma a existência

Os seus ecos fazem o pássaro cantar

Confundindo as leis da ciência

Que tanto sua vinda, morte e ressurreição querem negar!


Com pressa, corremos dia a dia

Tropeçamos e caímos na escada da vida

Cegos, a verdade permanece escondida

Sem percebermos que sem Cruz não há força para vencermos a corrida.


O Eterno decide "beijar a terra"

Como já tinha sido prosado

Para vencer, por nós, a guerra

Cumprindo a lei dos antepassados

 

Não há outro nome

Que possa o nosso pecado cancelar

O Verbo se fez carne para o poder das trevas dissipar

Resplandecendo sua luz a todo homem que a Ele, como Senhor, confessar!


Vivemos ansiosos quanto ao juízo final

E as ovelhas caminham ao Paraíso Celestial

Enquanto aos néscios sua impressão de bem estar 

Lhes dirige os passos até ao inferno chegar...


Manjedoura, cruz e túmulo vazios

Mostrando ao mundo seu glorioso brio

O trono, sim, ocupado

Concedendo vida eterna a quem aceitar seu legado!


Gabriela Martins Pinto ✍️🥰🙏🙌

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Sermão de domingo 17 de outubro de 2010 - Baião PA


 

Mateus 16.13-20

Tendo Jesus saído da margem do lado norte do mar da Galiléia, da região de Tiro e Sidom, da Decápolis, foi então para o território de Magadã, que também recebeu o nome de Magdala ou ainda de Dalmanuta, que poderia se pronunciar também Talmanuta. Em chegando à essa região, logo os fariseus, possivelmente já tendo conhecimento dos milagres da multiplicações dos pães de Jesus, lhe pediram um sinal tal qual seus antepassados tiveram no deserto, o maná: o pão que  desceu do céu para alimentar não dez mil, porém mais de um milhão de pessoas. Jesus lhes mostra que Ele mesmo era o pão vivo que desceu do céu, sendo Ele mesmo o maior milagre que poderiam ver, e ainda disse que o sinal como prova do que Ele estava falando seria o sinal de sua morte e ressurreição após três dias. Mas logo Jesus deixou esta região e aqui inicia o  nosso texto de hoje:

 

13  Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? 14 E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas. 15  Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?16  Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. 17  Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. 18  Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19  Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus. 20  Então, advertiu os discípulos de que a ninguém dissessem ser ele o Cristo.

 

 

 

13  Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?

A destreza de Jesus Cristo em ensinar quem quer que fosse é inigualável, sua técnica, habilidade, autoconfiança, confiança em Deus, e nunca perdeu qualquer chance de ensinar algo é de fato algo que nunca se viu em qualquer pessoa, mesmo naqueles que foram e são considerados verdadeiros gênios. A pergunta que Jesus faz aos seus discípulos poderia levar alguns a imaginar que Jesus estava preocupado com a sua reputação, mas isso é um engano. Jesus nunca se preocupou com a sua reputação, em demonstrar ser Ele grande vulto, em demonstrar ser Ele o verdadeiro Deus. Pelo contrário, ao lermos os evangelhos Jesus tentou se manter e viver sempre de forma discreta.

Muitas foram às vezes que pudemos observar nos grandes feitos de Jesus que ele fugia da popularidade e até mesmo aconselhava veementemente as pessoas que não lhe expusessem à publicidade.  Como foi o caso das pessoas a quem Ele curou quando estava na Sinagoga em Mateus 12.16.

Contrariamente a isso todos aqueles que se preocupavam com a publicidade dizendo-se grandes profetas, ou até mesmo o próprio Messias, esses se auto-entitulavam de alguma coisa. Em Atos 8.9 vemos a um homem chamado Simão que era um mágico, que iludia o povo com os seus truques e a si mesmo popularizava-se fazendo publicidade de si mesmo.

A poucos anos tivemos aqui no Brasil um louco que fazia a mesma coisa, mas ele tinha a audácia de se chamar de Inri Cristo. Dizia ele ser a própria encarnação de Jesus Cristo. E as redes de televisão iam atrás desse homem para coloca-lo em programas e ele se mostrava ao público e se apresentava ao público como sendo o próprio Jesus Cristo. O que o próprio Senhor Jesus nunca fez, se expor à publicidade, esse homem fez, tal como o mágico Simão.

Nos tempos de Jesus Cristo, um homem conhecedor da Lei de Deus, se deixou levar pela publicidade e deixou-se colocar no lugar de Deus, mas o fim desse homem, foi trágico. Herodes certa vez, vestido de traje real se dirigia ao povo e o povo exclamou dizendo: não é a voz de um homem, é a voz de um deus! Herodes deixou que a sua popularidade fosse levada ao extremo de ser comparado ele a um deus e mesmo sendo conhecedor da Lei de Deus permitiu tal coisa, mas o seu fim vemos em Atos 12.23 foi comido de vermes e no mesmo instante morreu.

Jesus se intitula diferentemente desses que acabamos de ouvir. Ao invés de grande vulto, de um deus, Ele se intitula de “Filho do Homem”. De fato era necessário esse reconhecimento por parte não só dos discípulos mas de todos quantos chegassem ao conhecimento o plano de salvação de Deus para a raça humana, de que o próprio Deus se encarnou, tornando-se à semelhança de sua criatura, para que pudesse ser ouvido diretamente, para que a própria raça humana pudesse tocar o Verbo da vida, de que Ele de fato existe e viveu como homem, sofreu como homem, morreu como homem, mas não permaneceu morto, ressuscitou e hoje está ao lado de Deus Pai para rogar por nós, se assim nós o aceitarmos, como nosso Salvador. A humanidade da Segunda Pessoa da Trindade precisa ser conhecida pelos homens, por que assim temos quem de fato pode se compadecer de nossas necessidades, pois Ele sabe como é ser humano. Foi exatamente essa a profecia dada a Satanás quando esse fez a raça humana cair em pecado no Édem. Em Gênesis 3.15, podemos perceber a mensagem de Deus a Satanás que dizia: “Da mulher que você usou para fazer a humanidade cair em pecado, dela virá um homem, que irá destruir as suas obras”. Esse é exatamente um dos motivos que Jesus Cristo adota esse título, de Filho do Homem, para provar que Nele havia si cumprido essa promessa de Deus.

De qualquer forma Jesus tinha um propósito em sua pergunta e ouviu a resposta de seus discípulos:

14 E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.

 

Algumas pessoas pensavam que Jesus era João Batista havia ressuscitado, como foi o caso de Herodes que havia sido acusado por João Batista de estar em pecado com Herodias, sua cunhada, mulher de seu irmão. Herodias havia pedido a cabeça de João Batista durante uma festa que não era nem um pouco uma festa inocente, mas havia sido preparada com uma finalidade sensual e macabra. Herodes atende ao pedido de Herodias e manda matar a João Batista cortando-lhe a cabeça. E ao ouvir acerca de Jesus e dos milagres que fazia, logo ele pensou que se tratava de João Batista como vemos em Mateus 14.02.

Desta forma algumas pessoas também pensavam ser Jesus Elias. Muitos foram os sinais que o profeta Elias havia feito no passado, até mesmo de ressuscitar um morto e de multiplicar o azeite da viúva, dando-lhe sustento e a seu filho pelo resto da vida. Então algumas pessoas poderiam estar associando os feitos de Elias, aos que Jesus realizava como ressurreição de mortos e multiplicação de comida.

Elias também era tido como o precursor do Messias, como vemos em Malaquias 4.5 “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR”; as pessoas que diziam ser Jesus Cristo o próprio Elias, também poderiam estar interpretando erradamente a profecia de Malaquias, pensando ser Jesus o próprio Elias que retornou dos céus. Mas o próprio Senhor Jesus esclarece que o seu precursor a quem seria chamado de Elias, pela semelhança de seu ministério e poder de Deus, era o próprio João Batista, a voz que clamava no deserto preparando o caminho do Senhor, como também previu Isaías em 40.3.

Outros apontavam a Jesus como sendo Jeremias ou um dos profetas. Havia uma grande semelhança no ministério de Jeremias e os profetas do AT com o ministério de Jesus. Em todos os casos havia grande embate dos profetas com os falsos profetas e discussões e até mesmo a morte dos profetas por que eles teriam enfrentado falsos profetas dentro do próprio povo de Israel.Da mesma forma que Jesus vivia tendo problemas com os fariseus, saduceus e escribas. 

Com respeito à Jeremias, talvez esse grupo que identificava Jesus como sendo Jeremias que ressurgiu dos mortos, estariam pensando em uma lenda que é descrita em 2 Macabeus 2.4-8, que dizia que o profeta Jeremias havia enterrado em uma cova a arca e o altar de incenso. A lenda também dizia que estes objetos Deus os faria retornar ao povo quando o número de seus escolhidos se completasse. E, talvez,esse grupo estaria propenso a esperar que Jesus fosse Jeremias ressurreto dentre os mortos para devolver o que ele havia enterrado como que o tempo da lenda havia se chegado para seu cumprimento.

E ainda havia outro grupo que achava que Jesus não era nada, apenas um profeta qualquer que havia retornado dos mortos.

Mas ainda podemos perceber que faltou uma comparação que o povo, principalmente os inimigos de Jesus, fariseus, saduceus e escribas, fizeram acerca de Jesus. Eles haviam dito que Jesus era Belzebú, ou pelo menos sua encarnação. Notadamente não vemos esta comparação feita pelos discípulos e de certo a omitiram com a finalidade de não entristecer a Jesus.

Mas a pergunta que Jesus, faz acerca de si mesmo aos discípulos, não tinha realmente como foco o pensamento da multidão acerca do Filho do Homem, mas seus discípulos.

 

15 Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?

Era aqui que Jesus queria chegar. Ele de fato não estava interessado na opinião pública, mas na opinião de seus discípulos. Jesus então pergunta: o que vocês pensam que eu sou? Ao escolher doze discípulos dentre os muitos que o seguiam, Jesus tinha um real interesse em viver de forma mais íntima do que com o restante da multidão que o seguia. Ensinar-lhes a verdade acerca do reino de Deus, acerca do propósito de Sua vinda, acerca dos planos de Deus para humanidade. Era salutar que os discípulos tivessem a perfeita noção de quem de fato era Jesus.

Jesus há pouco tempo atrás havia ouvido da boca dos mesmos discípulos a quem ele questionava agora, a mesma resposta à pergunta que agora Ele faz aos discípulos. A única diferença é que na ocasião anterior Jesus não questiona aos discípulos sobre quem eles pensavam ser Ele, mas os discípulos declararam de forma espontânea sobre quem de fato era Jesus. Esse momento foi quando Jesus atravessa o mar da Galiléia sobre as águas e depois entra no barco acalmando a tempestade. E nos diz o texto de Mateus 14:33  E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!

Uma importante observação é se os discípulos haviam dito isso a poucas semanas atrás, qual o motivo de Jesus perguntar sobre a mesma coisa aos que já lhe haviam declarado ser o Filho de Deus de forma espontânea? Haviam os discípulos se esquecido de suas declarações no barco acerca de Jesus? Quando Jesus faz a pergunta “E vós, quem dizeis que eu sou?”, ele faz a pergunta para o grupo todo não para um somente. Jesus quer saber a resposta do grupo todo. Esta resposta seria a declaração pessoal de cada um acerca de sua salvação. Crer no Senhor Jesus é de forma pessoal e intransferível. O grupo então responde naquele que já havia si mostrado como líder em outras ocasiões, Pedro então responde em nome do grupo, como porta-voz do grupo:

16  Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.

A mesma declaração que os discípulos haviam feito no barco, só que diferentemente da outra ocasião não é uma declaração espontânea, mas uma resposta direta a uma pergunta direta. Pedro em nome dos doze discípulos faz uma confissão de fé. Eles já haviam sido circuncidados segundo a aliança estabelecida em Abrão. Já haviam sido batizados com água, qual a necessidade da declaração direta ao próprio Senhor Jesus? Há uma grande diferença aqui. A declaração feita no barco pelos discípulos não tinham um elemento muito importante: a primeira eles disseram: “verdadeiramente este é o Filho de Deus”, mas na segunda disseram: “Tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Quando Pedro usa o título Cristo, para se referir a Jesus, ele está se referindo a Jesus como aquele que havia sido prometido, o Ungido de Deus, o mediador da aliança que haveria de vir. Esse mediador que havia sido prometido, era justamente quem conduziria o povo de Deus ao seu encontro, era quem eliminaria toda a desavença de todo ser humano com Deus por causa do pecado, e que o tivesse como seu único mediador, mas esse mediador não era um ser humano comum, era o próprio Deus encarnado, o Filho de Deus, a segunda pessoa da Trindade. E contrariamente ao próprio título que Jesus usa para si, Filho do Homem, eles dizem, não, não é Filho do Homem, mas , “Filho do Deus vivo”.

Declarar a Cristo como sendo o próprio Deus encarnado, Filho de Deus Pai, é exatamente a declaração que todo ser humano deve fazer com a própria boca. Sem essa declaração não há salvação. É necessário, nos diz Paulo em Romanos 10.9 que declaremos com a boca que cremos em Jesus Cristo, que o confessemos como nosso Senhor e Salvador, a fim de que sejamos salvos.

Mas alguém poderá lembrar-se de que o traidor estava dentre aqueles que declararam ser Jesus o Filho de Deus. Judas estava no meio dos doze e também fez a declaração sobre crer em Jesus. No entanto, além de trair a Jesus ainda tirou a própria vida. A simples declaração de que se crê no nome de Jesus não é suficiente! A declaração feita com a boca deve mostrar daquilo que o coração está cheio: da fé em Jesus Cristo. É exatamente como Paulo descreve no versículo 10 de Romanos 10. “porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”. Isso de fato não aconteceu com Judas, ele apenas disse com a boca, não creu com o coração.

Ao ouvir a declaração pelo porta-voz do grupo, Jesus logicamente não dá a resposta apenas para Pedro, como porta-voz do grupo, Pedro recebe a contra-resposta para todo o grupo:

 

17  Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.

A pronta resposta de Jesus à declaração do grupo  dada por meio de Pedro trás alguns traços que merecem comentário. Primeiramente Jesus declara que de fato é feliz (sendo uma felicidade segundo Deus) de quem faz esta declaração, e Jesus chama a Pedro por seu nome completo. Simão Barjonas, que quer dizer, Simão Filho de Jonas. Ao ouvir da boca de Pedro, de que o Filho do Homem, era de fato o Filho do Deus vivo, Jesus então está lhe respondendo: Simão, homem, Filho de homem, você é bem aventurado por que não foi a carne da qual você veio quem te revelou, não foi a tradição humana, mas o Deus vivo que está no céu do qual você disse e sabe de quem sou Filho é quem te revelou.

Jesus não está dizendo que Deus sussurrou aos ouvidos de Pedro sobre quem era Jesus. Mas que os meios de graça, como a Palavra revelada de Deus, a Escritura Sagrada, bem como o próprio testemunho de Jesus Cristo, como o Verbo de Deus, a Palavra encarnada de Deus, como João declara, é quem revelou à Pedro e aos demais apóstolos quem Jesus era de fato. Como podemos ver na oração de Jesus quando ele fala acerca dos apóstolos em João 17.8.

De fato a preocupação de Jesus era ouvir dos discípulos sobre sua fé Nele. E pelas palavras do Senhor a revelação não tem outro meio a não ser a própria Palavra de Deus. É como o autor de Hebreus nos fala em Hebreus 1.1. que Cristo é a suprema revelação do próprio Deus.

 

18  Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

 

Essa é uma importante declaração de onde surgiu uma divisão no cristianismo. Desde o entendimento sobre esse texto que foi distorcido pela igreja no quarto século depois de Cristo, até ao século XVI, depois de Cristo, a igreja permaneceu na obscuridade tendo como dirigente da igreja, como cabeça da igreja àquele que diz ser substituto de Pedro para conduzir a igreja. Nesse período que já fugia ao período dos apóstolos em três séculos com a morte de João por volta do ano 98 d.C. a igreja entendeu que deveria ter um dirigente universal da igreja, um cabeça da igreja na terra por causa desse texto.

Por todo esse tempo a igreja foi negligente, talvez até por conveniência de manter o povo sob seu controle, inclusive os impérios, com relação a esse texto. Mas já fazem quatro séculos que a igreja retornou ao entendimento correto desse texto, não pela igreja que o distorceu, mas pela igreja que nasceu do protesto do entendimento errado não somente desse texto, mas de vários outros, a igreja que foi reajuntada com a Reforma Protestante retornando ao ensinamento puro de Jesus Cristo e dos apóstolos.

Jesus é bem claro ao dizer: “Tú és Pedro”. Ele se dirige a Pedro na segunda pessoa do singular, “tú”; e também Jesus é bem claro ao dizer: “e sobre esta pedra”, a palavra “esta” é um pronome demonstrativo que é usado na terceira pessoa do singular. A palavra “esta”, portanto, em momento algum poderia estar se referindo a Pedro. Se assim quisesse, Jesus teria de dizer: “Tú és Pedro, e sobre ti edificarei a minha igreja”. E não foi isso que o Senhor disse, Ele disse: “és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Mas se Jesus não estava se referindo a Pedro, a quem poderia estar se referindo como pedra principal de uma edificação, a edificação da Igreja?

Ora, naquele momento Pedro havia acabado de dar uma importante declaração, uma confissão sobre ser Jesus o enviado de Deus ao mundo para salvação de todo aquele que Nele cresse. Esta declaração é de fato a pedra principal da edificação da igreja. Cristo é e sempre foi a Pedra Angular da Igreja. Todo aquele que confessa a Cristo como Senhor e no coração crê que Deus o ressuscitou dentre os mortos é salvo. Em outras palavras, passa a fazer parte do reino de Deus, fazer parte de sua igreja. Cristo é a própria pedra fundamental de construção de sua igreja, como Paulo fala diretamente à igreja de Éfeso dizendo que eles fazem parte de uma construção (a igreja) e que Cristo é a pedra principal dessa construção: Efésios 2:20  edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;

Cristo, a pedra principal, a pedra angular de construção da sua própria igreja.

O próprio Pedro entendeu claramente a declaração de Jesus naquele momento. Ele também afirmou dizendo: 1 Pedro 2:4-7 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, 5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. 6 Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. 7 Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular.

Ademais, quando vemos o primeiro concílio da igreja registrado na Escritura, após a morte de Cristo e sendo tratada uma questão doutrinária, Pedro, assim como outros tiveram sua participação deixando cada um seu argumento. Contudo, quem toma as rédeas de tal concílio para determinar o desfecho e determinar como a igreja deveria proceder dali para frente não foi Pedro, mas Tiago que agiu como moderador do referido concílio. O evento foi registrado no livro de Atos  15.1-29; vejamos o parecer de Tiago finalizando a discussão: Atos 15:19-21 19 Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, 20 mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue. 21 Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados.

A esta questão, não podemos, de forma alguma, conferir a Pedro, ou a qualquer outro homem um status de vigário de Deus na terra. Isso é tomar o lugar de Cristo, uma vez que foi Ele mesmo quem afirmou: Mateus 28:18 18 Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Não a representatividade de Cristo na terra,  mas sua autoridade delegada, pelo que mesmo vimos nesse registro de Atos 15, foi direcionada ao concílio, não a uma pessoa. Além do que já vimos que no próprio texto onde Cristo afirmou “...sobre esta pedra edificarei a minha igreja..” dizia ele acerca da afirmação de Pedro, de que “Ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo...”. Querendo com isso afirmar que o próprio Cristo é a principal Pedra da Igreja, jamais poderia ser um homem qualquer, senão o próprio Deus encarnado.

 

 19  Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.

Cristo havia acabado de dizer que a igreja seria construída tendo como Pedra principal Ele mesmo. E logo em seguida Jesus fala da função da igreja no mundo. Ali Pedro como porta-voz do grupo recebe a incumbência. Quando se fala que fora da igreja não há salvação, tem uma íntima ligação com esse versículo. É por meio da igreja, ou parte dela na pessoa de um de seus membros que alguém ouvirá a mensagem verdadeira do evangelho.

Ouvindo o evangelho e aceitando a Cristo o novo convertido passa a fazer parte do Reino de Deus. Ouvindo o evangelho e rejeitando aceitar a Cristo, a pessoa não fará parte do Reino de Deus. Mas isso não é poder da igreja ligar ou desligar alguém do reino de Deus. Se alguém não foi feito, não foi ligado aos céus era porque nos céus já havia sido desligado; e o que foi ligado aos céus, é porque nos céus já havia sido ligado.

Em outras palavras os que não aceitama Cristo são de fato os vasos preparados para a perdição. Rm 9.22

 

20  Então, advertiu os discípulos de que a ninguém dissessem ser ele o Cristo.

Esse versículo de fato nos mostra que Jesus não queria publicidade. Queria manter o seu ministério por tanto tempo quanto fosse necessário. Havia dia e horas marcados para que seu ministério tivesse fim. Se a publicidade fosse grandiosa sua morte seria antes do planejado, daí Cristo seguir cuidadosamente vivo até o momento certo de sua morte. Conforme vemos em Mateus 26.45.

 

Depois de sua morte nada deve permanecer escondido, ou sem publicidade. O evangelho deve ser pregado ao mundo como o próprio Senhor ordenou.

E todo aquele que aceitar a Cristo e confessá-lo como os discípulos o fizeram receberão a vida eterna, ou seja, já haviam sido ligados ao céu, mas aos que não fizerem tal declaração ou não crerem com o coração, é porque já teriam sido desligados do céu. Nunca fizeram e nem farão parte do povo de Deus.


terça-feira, 8 de março de 2022

Exposição de 1 Coríntios 13.

 1 Coríntios 12:31b  E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente

Capítulo 13

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. 2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. 3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. 4 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; 6 não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; 7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8 O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; 9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. 10 Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. 11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. 12 Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. 13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.

Paulo tendo iniciado o assunto sobre dons no capítulo 12, vem discorrendo sobre o papel dos dons na igreja, bem como da soberania do Espírito Santo ao distribuir tais dons. Esses dois pontos que mencionei, sobre o papel dos dons, e a soberania do Espírito Santo na distribuição deles, foram colocados por Paulo no capítulo 12.

Tanto um quanto outro ponto tratado por Paulo acerca dos dons tinha a intenção de corrigir falhas no que a igreja de Corínto entendia sobre os dons. Uma delas foi o erro da igreja de Corínto em pensar que a manifestação dos dons espirituais dava a aquele por meio de quem o dom era manifesto, um status de super crente.

Desta forma, desde o início da carta Paulo caminhou tratando a igreja de Corínto como sendo uma comunidade de crentes carnais que a despeito da manifestação dos dons que se operava naquela igreja, a comunidade cristã não praticava a unidade do Corpo de Cristo, nem ao menos tinha noção do que isso significava; pois vemos Paulo ensinando sobre a unidade do corpo de Cristo em vários momentos na carta. Um exemplo está no início do capítulo 12 e outro no capítulo 11 quando tratou da ceia, ou mesmo no primeiro capítulo quando falou acerca da divisão da igreja por preferências pessoais.

O outro erro foi o de imaginar que a ocorrência dos dons era devido a superioridade de alguns crentes. A princípio pode parecer o mesmo argumento anterior mas não é. O primeiro é como se os dons espirituais conferissem superioridade a alguns crentes. Aqui é justamente o contrário, é como se devido à santidade pessoal de alguns crentes e isso à parte de Deus, lhes desse o direito de receber dons; uma espécie de recompensa pela santidade própria.

Entretanto Paulo apontou que os dons são obra Soberana do Espírito Santo independente de mérito de qualquer que fosse o crente. Uma vez que os dons, assim como o batismo no Espírito Santo, são conferidos no momento exato da conversão de cada crente. Colocar esses dons à disposição da obra é outra coisa, mas o batismo ocorre na conversão e não em um momento posterior como uma segunda benção após um tempo de convertido. 

No texto de hoje, Paulo não vai tratar nem de autoria, nem de papel dos dons. Aqui, no capítulo 13, Paulo vai discorrer sobre o caráter dos dons. Mas, caráter em relação a que? Nos três primeiros versículos Paulo versa sobre o amor enaltecendo-o. Também Paulo oferece um quadro comparativo entre: o amor e outras atitudes, entre o amor e outros dons, entre o amor e até mesmo coisas impossíveis existentes apenas em nível de poesia.

Mas a seguir ainda no versículo quatro, Paulo nos aponto algo acerca do caráter dos dons dos quais ele quer tratar. E o que ele mostra a partir de uma série de Palavras que nos apontam o caráter desses dons frente ao caráter do dom do amor. Prestem bem a atenção à essas palavras e expressões do capítulo 13: v. 4. paciente, 5 se conduz 7 tudo espera, 8 jamais acaba; desaparecerão; havendo, cessarão; havendo, passará; 9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. 10 Quando, vier perfeito, será 11 Quando era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. 12, agora, veremos Agora, 13 Agora, permanecem

Percebam que todas essas palavras e expressões estão nos mostrando claramente que Paulo aponta para outro quadro comparativo. Desta vez a comparação que o apóstolo faz é de permanência x temporalidade. Paulo aponta algumas questões pertinentes aos dons exatamente como ele faz ao final do capítulo demonstrando a ideia de temporalidade x permanência ilustrando o crescimento de um menino. Na infância se age, pensa e fala como menino; mas na fase adulta o comportamento, a ideia e a forma de se conduzir e falar deve ser outra. Aquela fase da infância é demonstrada como a fase que deve passar quando se atinge à maturidade; ela deve ser deixada de lado e o caminhar deve ser de um adulto.

Estamos tratando já do final do texto uma vez que claramente o apóstolo dirigiu suas palavras à igreja em Corínto e está ensinando à igreja de Corínto que a igreja deve largar a infantilidade e caminhar para uma fase mais madura. Não é a primeira vez que Paulo trata a igreja de Corinto dessa forma. Ele já o tinha feito, usando termos muito mais agressivos no capítulo 3. 1 Coríntios 3:1-2 ​1 Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. 2 Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.

Nesse primeiro momento em que Paulo chamou aos crentes de Corínto de “crianças em Cristo” de “carnais”, o apóstolo apontou a infantilidade devido às divisões na igreja. Nesse momento do capítulo 13 o apóstolo apontou para a infantilidade da igreja também no que dizia respeito ao conhecimento dos dons. E acerca dessa infantilidade da igreja acerca dos dons ele a menciona bruscamente no início do capítulo 12 afirmando que os crentes de Corínto eram ignorantes no que se dizia respeito aos dons: 1 Coríntios 12:1 1 A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

Seguindo esse mesmo intuito, Paulo ao tratar do uso dos dons no culto público na igreja de Corínto ele aponta da mesma forma acerca da infantilidade dos crentes de Corinto: 1 Coríntios 14:20 20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos. O juízo do qual Paulo assevera de que os crentes de Corínto não deveriam agir como meninos era o juízo de estabelecer uma hora e forma apropriada para o uso dos dons.

Percebam, então, que a meninice da qual Paulo aponta em 1 Coríntios 13 não poderia ser outro assunto diferente da meninice da igreja em relação aos dons; pois tanto o contexto do capítulo anterior, quanto o contexto do capítulo posterior, quanto o próprio contexto da carta e do próprio capítulo 13 tratam a igreja de Corinto como sendo infantil, mas exorta que ela deveria caminhar para a fase adulta. 

Dito isso, vamos ao texto do início do texto:

Vejam que o texto inicia com a segunda parte do último versículo do capítulo anterior.

1 Coríntios 12:31b  E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente

Apesar de ser uma divisão estranha, temos que aceitar o fato de que o texto dito nessa parte se harmoniza muito bem com o texto do capítulo seguinte. Ao final do capítulo 12, vimos na última pregação que Paulo buscou mostrar que os melhores dons são aqueles que traziam edificação para a igreja como um todo. E segue apontando um dom supremo, um dom que aponta para o que de melhor se poderia ter na igreja por vários motivos.

O principal dos motivos é que todas as demais coisas poderiam ser vistas pelo foco do amor. E amor não tem nada a ver com sentimentalismo, paixão lasciva, sexo, ou mesmo a sensualidade, melancolia, ou mesmo complacência diante do pecado. Pelo contrário, quando existe severa exortação quanto ao pecado é uma verdadeira prova de amor, mesmo que isso venha a ser bem dolorido para quem recebe a exortação.   

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.

Algo que é necessário a todo crente, em primeiro lugar, é saber ler a Escritura. O problema é devido ao fato de que hoje, principalmente no que diz respeito ao Brasil, a grande parte da população é formada pelo que se conhece de analfabetos funcionais. Uma das piores coisas que pôde acontecer ao Brasil foi a educação com base nos escritos de Paulo Freire. Os escritos deste homem foram adotados como base para a educação nacional e o resultado disso é que hoje, o Brasil está em um dos últimos lugares da educação no mundo.

Dito isso, é mal do Brasil que a maioria da população sabe ler, mas não sabe extrair o significado do que leu. E falamos isso de coração apertado, pois se não sabem nem mesmo diferenciar em uma escrita moderno uma notícia falsa de uma notícia verdadeira, muito menos extrair o significado de um texto bíblico escrito há mais de dois mil anos atrás em uma cultura diferente em uma língua diferente.

Assim, quando Paulo inicia o versículo dizendo 1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos Paulo não está afirmando que exista uma língua de anjos e uma língua dos homens. Pode até ser que exista uma língua angelical. Contudo, em nenhum lugar da Bíblia encontramos os anjos falando em uma língua incompreensível a quem falou com eles, ou mesmo vemos anjos usando uma língua incompreensível quando falavam entre si e tal conversa foi presenciada por um homem.

 Paulo está levantando uma hipótese: Ainda que seja possível eu falar uma língua dos homens e uma língua dos anjos... Paulo fala de uma impossibilidade. Mesmo que aconteça algo impossível como eu falar a língua dos homens e uma língua dos anjos, se eu não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ou seja, serei um sino, uma peça de metal que faz barulho, mas não possui vida.  

O dom de línguas aqui é a glossolalia, ou seja: era o dom que conferia à quem o possuísse falar em uma língua nativa de outro país com o qual a pessoa não teve contato anteriormente, nem mesmo aprendeu a língua de maneira informal ou seja, no convívio de uma pessoa que falasse aquela língua naturalmente; ou que tivesse aprendido a língua de maneira formal. Ou seja, tenha frequentado uma escola para aprender aquela língua, como aconteceu com os israelitas que foram levados para servir na babilônia e tiveram que aprender a língua daquele país com um professor: Daniel 1:3-4 3 Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres, 4 jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus.

Quem possuísse o dom de línguas a qualquer momento poderia falar uma língua estranha, uma língua diferente do país em que nasceu. Como foi com os apóstolos no dia de Pentecoste: Atos 2:7-11 7 Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? 8 E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9 Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10 da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11 tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? É o que vemos acontecer aqui e também é o que Paulo menciona em vários de outros textos de sua autoria, inclusive na Primeira carta aos Coríntios. O dom de línguas era o dom que o Espírito conferia a alguns crentes de poder falar em uma língua de um país diferente de onde esse crente nasceu, sem que esse tenha aprendido essa língua de qualquer forma.

Em nenhum lugar vemos a Bíblia encorajar algum crente a falar algo que ninguém presente no culto público pudesse entender de alguma forma, mesmo que fosse necessário alguém que pudesse interpretar o que se falava em outra língua.

2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar

O dom da profecia, apesar de aparecer aqui depois do dom de línguas. Contudo, no conceito de Paulo o dom de profecias é superior ao dom de línguas. Isso é explicado pelo apóstolo no capítulo seguinte, o que vamos aguardar para ver o motivo pelo qual Paulo tinha esse conceito acerca do dom de profecias.  

e conheça todos os mistérios e toda a ciência;

Outra hipótese é trazida pelo apóstolo: Conhecer absolutamente todas as coisas.  Isso é algo impossível ao ser humano: ter um conhecimento pleno e perfeito de todas as coisas. Isso é algo que apenas Deus possui. Trata-se do atributo da onisciência. Entretanto o apostolo está trazendo uma hipótese a título de especular apenas a possibilidade, não que de fato isso fosse possível.

ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes,

Pouquíssimas pessoas na bíblia demonstraram fé a esse ponto. A mais evidente delas é Moisés, não esquecendo das dez pragas, ainda temos a abertura do mar Vermelho, as aguas de Mara, o Maná, as andorinhas, a Serpente de Bronze.  E apenas uma demonstrou ter uma fé muito maior do que esta de Moisés, a quem ele mesmo havia anunciado em Deuteronômio 18:15 15 O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás,.  E em Lucas 24 vemos Jesus Cristo ressurreto explicando o que as Escrituras anunciaram a seu próprio respeito e Ele começou por Moisés. E em Atos 3.19-26 Pedro anuncia que esse profeta predito por Moisés era o próprio Senhor Jesus Cristo.

Jamais houve, jamais haverá alguém com semelhante fé a de Cristo. Como Deus encarnado nenhum homem qualquer que seja, terá ou teve uma fé semelhante a de Cristo. 

se não tiver amor, nada serei.

Então, mesmo que fosse possível ter o mesmo conhecimento de Deus e saber tudo o que está oculto à mente humana, mesmo que tenha uma fé como a de Cristo, ou mesmo uma pequena fé como a de Moisés, se não tiver amor, minha existência não seria contada.

3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.

Aqui, nesse ponto vejo a necessidade de definir o que Paulo está chamando de amor. O que é esse amor para o apóstolo. Já disse no início do sermão o que esse amor não é. Eu afirmei no começo: “amor não tem nada a ver com sentimentalismo, paixão lasciva, sexo, ou mesmo a sensualidade, melancolia, ou mesmo complacência diante do pecado.” Mas o amor do qual o apóstolo está afirmando é o amor que tem origem em Deus. É o amor ágape. É o amor com o qual Deus requer que amemos ao próximo, e o amor expresso no mandamento: Mateus 22:37 37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento".

É desse amor que se disse que Deus amou ao mundo, ou seja: é o amor com o qual Deus amou a igreja, mesmo ainda pecadora, para que sua salvação pudesse alcançá-la em todo o mundo.

Só tem o amor de Deus, só tem o amor Agape, a quem Deus de fato amou com esse amor: 1 João 4:19 19 Nós amamos porque ele nos amou primeiro. A fonte do amor ágape é Deus, e nós só podemos tê-lo se Deus de fato nos amou com esse amor.

A caridade por caridade não tem valor algum. Fazer o bem ao próximo apenas para satisfazer à sociedade, ou mesmo ao ego de ser chamado de caridoso, isso não tem valor algum. Mesmo que eu me coloque a disposição de ser usado como sacrifício em favor de outro, se não tiver amor de Deus, se não tiver o amor ágape, isso tudo será em vão, será tempo perdido e não acrescentará nada de bom na vida eterna. Praticar todas essas coisas sem que haja de fato amor ágape são obras mortas, sem valor diante de Deus. 

4 O amor é paciente, a paciência tem a ver com o tempo, tem a ver com a circunstância vivida. Vemos o exemplo na vida de Jó, temos o exemplo supremo no ministério terreno de Cristo. Não obstante toda a vida de Cristo ser um exemplo de paciência suprema e perfeita; os últimos dias vividos por Cristo na terra se fossem vividos por Jó, esses dias seriam insuportáveis até mesmo para o paciente Jó.

Deus encarnado, sem pecado algum, tendo de suportar além da dor física, imagine a dor de quem nunca pecou ter de carregar a dor do pecado da igreja de todos os tempos. A paciência de Jó é mínima perto da paciência que Cristo teve de carregar na cruz. É desse exemplo supremo de paciência devido ao amor pelos cristãos que Paulo faz uso. O amor supremo, o amor ágape é paciente.

é benigno;

da mesma forma que paciente, o amor ágape também é benigno, e da mesma forma que a paciência está no amor ágape, a mesma origem tem a benignidade. Ser benigno é ser bom, ser gentil, fazer uso da bondade. Quer algo além da bondade vista em Deus ao fazer Ele uso de sua soberania, quando viu toda a humanidade condenada ao inferno e com amor ágape, resolveu ser benigno para com alguns desses perdidos e escolheu-os para salvação? É dessa maneira que o apóstolo descreve o ato soberano de Deus Efésios 1:4-5 4 assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor 5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade. O beneplácito de Deus, sua boa vontade em salvar parte da humanidade caída predestinando-os para salvação estava enraizada no seu amor, no seu amor ágape para com sua igreja.

Mesmo sem qualquer merecimento da igreja, mesmo sem qualquer coisa que agradasse a Deus na vida desses que Ele predestinou, ainda assim Deus os amou e escolheu livrá-los do inferno.

O amor verdadeiro, o amor ágape é benigno por que não deve depender do que o próximo faz, ou deixa de fazer contra nós ou a nosso favor. A benignidade com a qual eu vivo e devo compartilhar não pode depender do próximo ou de qualquer ato vindo dele, mas depende exclusivamente do reconhecimento que devo ter de minha condição com a qual nasci; deve depender do reconhecimento da minha própria condição com a qual Deus me amou e me salvou sem qualquer merecimento de minha parte. É com esse amor desinteressado que devo olhar para o próximo, olhar ainda mais para com o irmão na igreja. 

 

o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,

O amor ágape não arde em ciúmes. O ciúme está além do sentimento de posse. O ciúme aqui está relacionado à vontade de manipular está relacionado à dominar austeramente, dominar rigidamente. O ciúme está ligado à incerteza, o ciúme está atrelado ao que o outro pode ou não estar fazendo contra mim. Se esta fosse a posição de Deus, certamente Cristo não teria vindo ao mundo. Uma vez que todas as nossas justiças são como trapos da imundícia, como afirma Isaías; Uma vez que Ele nos amou sendo nós ainda pecadores, é o amor que não olha o presente, ou o passado, mas um amor que olha para o futuro eterno na glorificação e vida sem pecado por meio de Cristo; esse é o amor ágape que não arde em ciúmes.

O amor ágape que não se UFANA NÃO SE ENSOBERBECE, é   o amor que não se enaltece a si mesmo de forma excessiva. O amor ágape é o amor com o qual o publicano orava de cabeça baixa, batendo no peito e clamava misericórdia por ser pecador; ao invés do fariseu que estufava o peito e orava a Deus falando soberbamente de como ele era bom e cumpria os mandamentos, mas não reconhecia seus próprios pecados, não reconhecia seus próprios limites. 

 

5 não se conduz inconvenientemente,

O amor ágape não procura futilidades, não procura ver coisas que são perda de tempo, mas se conduz com bom senso e moderação.

 

não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;

não procura seus próprios interesses. Aqui está a raiz de todo pecado. A cobiça, o interesse pessoal em alguma coisa. É o olhar de Eva para o fruto na árvore, é o olhar de Davi para BeteSeba pela janela, é o olhar de qualquer ser humano para a pornografia; a cobiça é o olhar de Geazi, servo de Eliseu, com o qual cobiçou os presentes de Naamã ao ser curado de lepra.

Na falta do amor ágape, é o amor interesseiro cobiçoso com o qual o ser humano olha para o próximo e o mantém por perto mitigando o bem que lhe poderia fazer apenas para manipulá-lo enquanto ele servir aos interesses próprios. Depois que ele não tiver mais serventia, vai descarta-lo com puro desdém como quem descarta um saco de lixo.

Na busca pelo próprio bem estar pessoal, na busca pela satisfação dos prazeres da carne está a cobiça, e aí está a falta do verdadeiro amor ágape. Mas quando o amor ágape é o que move o ser humano; esse ser humano prefere não satisfazer seus próprios desejos; esse ser humano prefere não cobiçar os bens do próximo; esse ser humano que vive pelo amor ágape é o ser humano que ama realmente a Deus e ao próximo. Ele não quer ofender a Deus com seu pecado, tão pouco quer levar que outro peque juntamente com ele.    

O amor ágape é o antídoto ao veneno da cobiça.  

Não se exaspera, não se ressente do mal   tudo o que poderia ser validado para justificar um ato explosivo de vingança não passa de falta do verdadeiro amor que não se ressente do mal, mas deposita no altar de Deus a sua demanda e perdoa o ato de iniquidade contra ele. 

6 não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; 7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Uma vez mais podemos ver Cristo como exemplo supremo desse amor. Ele não se deixou conduzir pela injustiça com a qual Ele foi tratado pelos fariseus, tão pouco se deixou levar pelo julgamento parcial de Pilatos, que bem como havia dito: Poderia livrar a Cristo da Cruz se quisesse. E que dessa maneira conduziram Cristo a ser morto. Não digo que os ímpios que levaram Cristo a crucificação não estejam pagando no inferno; mas estou mostrando que Cristo poderia ter-se negado em ser crucificado, poderia ter-se negado a sofrer, poderia ter-se negado a suportar a dor. Mas acima de qualquer coisa Cristo fez tudo por amor ao Pai. Suas palavras no Getsêmani são conclusivas:

Mateus 26:38-39 38 Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. 39 Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.

Satisfazer ao Pai assumindo o pecado da igreja de todos os tempos e suportando a tristeza desses pecados e suportando a maldição da cruz e a separação momentânea do Pai; sabendo que a partir desse ato O Pai, por meio dele, Cristo, salvaria sua igreja. 

A partir do próximo versículo o apóstolo vai estabelecer comparações temporais entre o amor e outros dons.

8 O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão;

O contraste é explícito. O dom do amor é posto como algo existente e sem fim, é eterno; ao passo que as profecias enquanto predição de futuro, enquanto fonte de revelações da parte de Deus teriam um fim. E o mesmo contraste é posto diante do dom de línguas

 havendo línguas, cessarão; no tempo em que Paulo escreve estas duas palavras ele está afirmando: o dom de línguas existe, mas cessarão.  

havendo ciência, passará; Tanto o dom de profecia, quanto o dom de línguas   estão conectados à última palavra do versículo: passará. As profecias desapareceriam, as línguas cessariam, tudo passaria quando houvesse a ciência. A palavra ciência é conhecimento. Quando chegasse o conhecimento de algo as línguas e as profecias teriam cumprido o seu papel temporário. E esse papel é quando o conhecimento de algo específico tivesse chegado. 

9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.

Na falta do conhecimento, na falta da ciência dita ao final do versículo 8, ainda seria necessário a profecia, ainda seria necessário o dom de línguas.

Aqui uma palavra específica com respeito ao dom de línguas se faz necessária. Por que o apóstolo, via de regra, sempre enquadrou línguas e profecia e vezes por outra o dom específico de revelação lado a lado?

Percebam que no capítulo seguinte Paulo equipara o dom de línguas com o dom de profecia em 1 Coríntios 14:5 5 Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação. Paulo está dizendo que o dom de línguas tem o mesmo peso e validade do dom de profecia se o que for dito tiver intérprete.

Lucas registra em Atos que as grandezas de Deus estavam sendo pregadas por meio do dom de línguas durante o evento em Pentecoste.

O motivo pelo qual Paulo coloca profecias e línguas lado a lado e vez por outra especificamente o de revelação por que todos possuem um caráter de revelação direta de Deus. Todos revelavam a Deus, revelavam seu caráter, revelavam sua vontade. Entretanto, esse caráter de revelação se opõe ao que Paulo está abertamente dizendo com respeito à ciência, ou seja, com respeito a um conhecimento específico. Mas enquanto esse conhecimento específico não chegasse, esses dons ainda seriam necessários. 

10 Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.

O versículo 10 é o versículo que sela a disputa entre cessacionistas e continuístas. O cessacionista frequentemente é mal interpretado como aquele que não crê nos dons de uma forma geral, e isso não é verdade. O cessacionista apenas não crê nos dons revelacionais, ele não crê na atualidade dos dons que podiam revelar Deus de alguma forma extraordinária como era no passado. Ao passo que o continuísta crê que os dons, todos eles, continuam de alguma forma.

A base tanto para o continuísta, como para o cessacionista está na interpretação desse versículo, na definição do que vem a ser esse perfeito dito por Paulo. Para o continuísta, esse PERFEITO se refere a Cristo. A maneira, então, que o continuísta lê o versículo é da seguinte forma:

10 Quando, porém, vier Cristo que é o perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.

E de fato Cristo é perfeito em todas as coisas. Não houve nada, nem nunca haverá nada em que Cristo não tenha sido, ou deixará de ser perfeito disso ninguém discorda, nem mesmo os cessacionistas. Contudo, a posição do cessacionista é afirmar que esse perfeito dito por Paulo aqui no versículo 10, não diz respeito à Cristo, mas a outra coisa.

A palavra τελειος traduzida para perfeito, tem como significado básico aquilo que está pronto, acabado, aquilo que não precisa de complemento, não precisa de mudança, não precisa de acréscimo algum. Mas antes de afirmar sobre o que de fato é perfeito apontado por Paulo aqui, vamos nos direcionar de outra maneira. 

Vamos voltar ao versículo 9 e levar a cabo o raciocínio dos continuístas entendendo o perfeito como se fosse de fato a Cristo que Paulo estivesse apontando. 1 Coríntios 13:9-10 9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. 10 Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. A parte que seria aniquilada dita no versículo 10, seria a parte do que era profetizado e não se conhecia dita no versículo 9 mediante a chegada do PERFEITO. O ensejo é demonstrar que, com a chegada do Perfeito, o conhecimento se tornaria pleno e não haveria mais necessidade de línguas, revelações, ou qualquer dom que possuísse o caráter de profecia.  

Sendo esse perfeito de fato Jesus Cristo, então o que está sendo dito nesses dois versículos e juntamente com os seguintes que vimos no início do sermão apontando para a meninice da igreja, é que quando o Perfeito que é Cristo vier, nós conheceremos a Cristo na sua plenitude. Teremos o conhecimento do TODO PERFEITO  e não teremos mais necessidade de profecias, ou qualquer dom de caráter profético pois a ciência, o conhecimento se tornou pleno. Isso não é verdade.

Nunca, em momento algum, conheceremos a Cristo na sua plenitude. Cristo é Deus encarnado, mas é infinito em todo o seu Ser. Alcançar o conhecimento pleno de Cristo é conhecer a Deus na sua plenitude, algo impossível ao ser humano. Nem mesmo na glória teremos esse conhecimento. Passaremos a eternidade conhecendo a Deus sem jamais conhece-Lo na sua perfeição. Caso um dia isso aconteça, nós teremos nos tornado o próprio Deus.

Paulo aponta também para algo que ele conhecia em parte, mas no tocante ao que não conhecia era necessário dons com caráter profético, eram necessárias profecias. Mais do que nenhum outro apóstolo, ou mesmo profeta, Paulo aprendeu coisas e de um modo que nenhum outro ser humano jamais havia aprendido em vida.   Seu relato ao final da segunda carta aos Coríntios ele demonstra como aprendeu diretamente de Cristo glorificado. O que mais se assemelhou a essa forma de revelação recebida foi João ao ter as visões de apocalipse.

Seguindo a definição dos que defendem os dons, e que o PERFEITO dito por Paulo é Cristo, seria incoerência de Paulo afirmar que chegaria um dia a conhece-Lo na sua perfeição; não o conheceu quando foi levado ao terceiro céu e ouviu coisas que nenhum ser humano jamais ouviu, e nem vai conhecer na PERFEIÇÃO, pois nunca se tornará no próprio Deus.

No que diz respeito à posição dos cessacionistas, tal pensamento levado a cabo não encontra essa dificuldade. O que em parte Paulo conhecia e em parte haveria necessidade de dons proféticos? Pedro fala claramente sobre isso: 2 Pedro 1:20-21 20 sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; 21 porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. Pedro, assim como Paulo, estavam falando da própria Escritura. Nos tempos de Paulo e Pedro a Escritura estava em processo de escrita. O Novo Testamento ainda estava sendo produzido e o próprio Pedro sabia disso e compara os escritos de Paulo com mesmo peso do restante da Escritura no próprio contexto desse versículo que acabamos de ler:

2 Pedro 3:15-16 15 e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, 16 ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.

A igreja estava em fase de desenvolvimento, uma fase infantil que precisaria deixar de existir. Uma fase em que havia necessidade de revelação, profecias, línguas, dons de caráter profético para que a Escritura, fosse selada, fosse encerrada e tornar-se completa, perfeita, sem necessidade de complemento.

Cristo é perfeito e Ele é o nosso próprio modelo de perfeição que devemos buscar por meio das Escrituras que já está completa, acabada. A Bíblia nos foi entregue para que a igreja viva uma fase se maturidade. Uma fase que tem o conhecimento da vinda do Messias, da sua vida e ministério, morte e ressurreição; bem como a igreja madura tem o conhecimento da volta iminente de Cristo.

Por meio da perfeição da Escritura, somos exortados a buscar a perfeição inalcançável de Deus. É inalcançável se nos falta a maturidade de conhecimento da Escritura que nos mostra que Cristo é único Mediador entre Deus e o homem, que em Cristo somos mais que vencedores de nossos próprios pecados, que por causa de Cristo fomos aceitos diante de Deus; que pelo sangue de Cristo temos nossos pecados purificados e nos tornamos inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta.

A perfeição de Cristo é inalcançável tanto no conhecimento quanto na prática de vida, mas esse é nosso único modelo pelo qual vale a pena viver e buscar dia após dia viver para glória de Deus.

domingo, 9 de janeiro de 2022

Por que não podemos falar de política na igreja?

     Duas gerações se passaram desde que o período militar no Brasil se encerrou com a posse do primeiro presidente civil eleito diretamente pelo povo. Desde então o pensamento político foi banido da igreja e se tornou fruto cultural dessas gerações pós período militar.

    Falar de política ou ideologias após esse momento histórico se tornou um verdadeiro tabu entre a massa evangélica brasileira. Mas qual o verdadeiro motivo? O assunto não pode ser tratado na igreja? Isso não é assunto bíblico? Qual a verdadeira origem dessa ojeriza com a política?

    A máxima que deu origem a essa repulsa dentro da igreja tem a mesma fonte e motivação de outra. A máxima dentro da igreja é: “não se mistura política com religião”; e  tem a mesma fonte de outra máxima que é:  não se mistura religião com ciência.

    A pergunta que se faz necessária é: porque não se pode misturar nem política nem ciência com religião? Qual a razão dessas afirmações serem levadas ao extremo por muitos cristãos? E a melhor pergunta que podemos fazer é: Quais as razões bíblicas para se negar a falar desses assuntos na igreja?

    Prontamente podemos responder que não existe qualquer razão que nos impeça de falar de tais assuntos na igreja. Pelo contrário, existem razões bíblicas e razões seríssimas que nos obrigam a falar desses assuntos apontando princípios bíblicos que devem nortear a vida do cristão nessas questões. 

    Quando nos negamos a falar desses assuntos na igreja, estamos reduzindo a glória de Deus e repartindo o mundo entre espiritual e material como se Deus não pudesse nos orientar nessas questões comuns da vida.

    Quando o cristão não é ensinado dentro dos princípios bíblicos sobre como se deve conduzir, como deve construir suas opiniões, seus pensamentos acerca desses temas, ele, inevitavelmente será conduzido por princípios mundanos, princípios que não glorificam a Deus e nem tão pouco têm qualquer utilidade para santificação.

    O apóstolo Paulo conduziu a referência a todo e qualquer assunto ou a toda e qualquer princípio ético e/ou espiritual da seguinte maneira: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas 5 e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo,” (2 Coríntios 10:4-5).

    Paulo fala aqui do que hoje nós chamamos de “Cosmovisão”. A forma como nós olhamos o mundo à nossa volta, o analisamos e pautamos nosso comportamento; e a forma de pensamento é conduzida pela nossa cosmovisão. O cristão deve possuir uma cosmovisão bíblica.

    Quando negamos um determinado princípio bíblico para abraçar um princípio meramente humano pelo qual nos deixamos conduzir, nós estamos, na verdade, deixando de “ levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo”.  Isso é dividir a glória de Cristo, dividir a glória do Deus Trino com a pretensa "glória" dos homens, particularmente com aqueles que, não deveriam, mas estão pautando nosso pensamento. E isso definitivamente é idolatria.