domingo, 4 de setembro de 2011

Vocação e parentesco



Uma das maiores dificuldades no ministério de um pastor diz respeito não à sua fé, ou à sua vida devocional, mas diz respeito ao reconhecimento de seu próprio pastorado entre seus familiares. Os próprios apóstolos viram esta questão no ministério de Jesus Cristo, Marcos e Mateus transcreveram as palavras de Jesus:
“E Jesus lhes dizia: Não há profeta sem honra senão na sua pátria, entre os seus parentes, e na sua casa.”Marcos 6:4
“E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa.”Mateus 13:57
Jesus não está aqui ditando uma regra que deve acontecer com todo “profeta” (cf I Coríntios 14.3), mas para mostrar a pecaminosidade no coração daqueles que rejeitam tanto o profeta quanto à sua palavra. Não foi diferente com outros profetas, como Moisés por exemplo, Mirian e Arão se insurgiram contra o irmão. No caso destes foram penalizados por isso.
A questão perpassa pela intimidade com o referido profeta, de conhecer toda a sua vida, de conhecer sua intimidade, suas fraquezas, suas falhas. No caso de Jesus Cristo seus irmãos conviveram com toda a sua infância, viram-no crescer, era para eles um igual.

Mas isso tem de ser assim sempre? Tem de continuar assim pelo resto da vida? A pergunta procura responder até que ponto a desconsideração de um homem, por parte de seus familiares, chamado para o ministério por Deus é lícita, ou se é lícita em algum momento. Procura também responder se o problema está no “profeta”, ou se está em seus familiares e amigos.
Excetuando a Jesus Cristo, o passado dos profetas, é levado em consideração por seus familiares, os pecados cometidos, as falas mal ditas e malditas, as ações intempéries das relações familiares, tudo afeta diretamente na consideração do profeta.

Tal desconsideração não passa somente por este ponto, mas também pela não aceitação da exortação que possa vir do que foi chamado por Deus para o ministério. E tal chamado é posto pelos que o desprezam como sendo um chamado territorial, local, dizem: “ele é pastor lá, aqui não”.
Este é um ato que tem por fundamento o não entendimento sobre o que é ser chamado (vocacionado) para o ministério. A vocação ministerial não se trata de uma vocação local, territorial, é um chamado para a vida, independente do local em que se está. O chamado não é para uma igreja, uma denominação, mas para a igreja do Senhor Jesus Cristo independente de placa ou localização. Tal chamado vem revestido de autoridade delegada pelo próprio Senhor Jesus e pela igreja e como tal deve ser respeitado. (Atos 9.15; Tito 2.15; Romanos 13.1-2).

O problema do reconhecimento da autoridade do “profeta” não está no profeta, mas está em quem o ouve, nos seus pré-conceitos e conhecimento de um passado, de certa forma, íntimo com o vocacionado. Via de regra, sempre esse passado é relembrado, como que quisessem diminuir a autoridade do profeta. Mas lembremos de três coisas: 1. Em Marcos 11.27-33 vemos os escribas e sacerdotes questionando a Jesus sobre sua autoridade, pois não o reconheciam como sendo um profeta, muito menos como Deus encarnado. 2. A rebeldia contra o profeta ou a palavra profética sempre foi considerada pecado, independente de parentesco com o profeta. (Números 12.11; João 10.26). 3. Quem sempre levanta o nosso passado contra nós, se feito intencionalmento ou não, é fruto de uma influência satânica para diminuir não só o “profeta”, mas também sua palavra (Apocalipse 12.10).

No caso de Miriã e Arão, reconheceram seu pecado, mas no caso dos sacerdotes e fariseus, alguns poucos reconheceram a autoridade de Cristo, mas o problema não estava em Moisés ou em Cristo, mas no pecado daqueles que os rejeitaram. O fato de até mesmo lembrar o passado como desprezo pelo pastorado, cingido de diversão se torna um ato pecaminoso, pois a autoridade de um pastor não reside nele mesmo, mas em Quem a ele chamou e delegou tal autoridade. Rejeitá-lo é rejeitar a quem o vocacionou.


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