Detalhes
Categoria: Culto
Publicado em Segunda, 30 Abril 2012 15:54
Escrito por Benjamin B. Warfield
Acessos: 140
O Pr. Alan Rennê gentilmente nos concedeu a autorização para publicarmos este artigo que ele traduziu e postou no seu blog Cristão Reformado
Recentemente eu recebi uma carta de um valioso amigo, pedindo-me para enviar-lhe uma “discussão sobre as palavras gregas laleo e lego em passagens como 1Coríntios 14.33-39, com referência especial à seguinte questão: O versículo 34 proíbe todas as mulheres em todos os lugares de pregar publicamente nas igrejas cristãs?” O assunto é de interesse universal, e tomo a liberdade de comunicar a minha resposta aos leitores do The Presbyterian.
Deve ser dito que, não existe nenhum problema com referência às relações de laleo e lego. Além das sutilezas de interesse meramente filológico, estas palavras se relacionam entre si, assim como as palavras portuguesas “falar” e “dizer”, isto é, laleo expressa o ato de falar, enquanto lego se refere àquilo que é dito. Como indicado, quando a referência é ao ato de falar, sem menção ao que é dito, laleo é usado, e deve ser usado. Nada há de depreciativo na intimação da palavra, mais do que há em nossa palavra falada, embora, é claro, às vezes pode ser usada depreciativamente como a nossa palavra falada, como quando às vezes os jornais afirmam que o governo é dado a simplesmente falar. Esta aplicação depreciativa de laleo, porém, nunca ocorre no Novo Testamento, embora a palavra seja usada com muita frequência.
Portanto, a palavra está no seu lugar correto em 1Coríntios 14.33ss, e necessariamente tem ali o seu significado simples e natural. No entanto, se precisássemos de algo para corrigir o seu significado, isso seria fornecido por seu uso frequente na parte inicial do capítulo, onde ela se refere não apenas ao falar em línguas (que era uma manifestação divina e ininteligível apenas por causa das limitações dos ouvintes), mas também para a fala profética, sobre a qual é dito ser para edificação, exortação e consolo (versos 3-6). Poderia ser fornecido, mais pungentemente, por seu termo contrastante “caladas” (versículo 34). Aqui temos laleo diretamente definida para nós: “conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar”. Calar-falar: estes dois são opostos; e um define o outro.
É importante observar agora que, o pivô sobre o qual a injunção destes versos volta, não é a proibição de falar tanto quanto a ordem de calar-se. Esta é a principal injunção. A proibição de falar é introduzida apenas para explicar o significado mais plenamente. Em síntese, o que Paulo diz é: “Que as mulheres estejam caladas nas igrejas”. Seguramente, isto é direto e específico o suficiente para todas as necessidades. Então, de forma explanatória, ele adiciona: “Porque não lhes é permitido falar”. “Não é permitido” é um apelo a uma lei geral, válido para além do mandamento pessoal de Paulo, e chama a atenção para a frase de abertura no verso anterior: “Como em todas as igrejas dos santos”. Ele está exigindo das mulheres de Corinto aquilo que está em conformidade com a lei geral das igrejas. E este é o significado das palavras quase amargas que ele acrescenta no versículo 36, em que, repreendendo-os pela inovação de permitirem que as mulheres falem nas igrejas, ele os lembra de que não são os autores do evangelho, nem são seus únicos possuidores, exorta-os a permanecerem na lei que vincula todo o corpo de igrejas, e a não procurarem uma nova moda de fazerem as coisas do seu próprio jeito.
Os versículos intermediários apenas deixam claro que, o que o apóstolo está fazendo precisamente é proibindo as mulheres de falarem a todos na igreja. Sua injunção de silêncio é colocada de tal maneira que ele até as proíbe de fazerem perguntas, e acrescenta, com especial referência a isso, mas através do assunto geral, a nítida declaração de que “é indecente”, pois este é o significado da palavra “para uma mulher falar na igreja”.
Seria impossível para o apóstolo falar de forma mais enfática e direta do que ele fez aqui. Ele requer que as mulheres fiquem em silêncio durante as reuniões da igreja. Pois isto é o que “nas igrejas” significa, visto que ainda não existiam os edifícios das igrejas. Ele havia acabado de descrever essas reuniões, nos versos 26ss. Elas eram muito semelhantes às nossas reuniões de oração. Observe as palavras “cale-se o primeiro”, no versículo 30, e compare com “conservem-se as mulheres caladas nas igrejas”, no versículo 34. A proibição de mulheres falarem abrange, dessa forma, todas as reuniões públicas da igreja; é o caráter público, não a formalidade da reunião, que é o ponto. E ele nos diz repetidamente que esta é a lei universal da igreja. Ele faz mais do que isso. Ele nos diz que este é o mandamento do Senhor, e enfatiza a palavra “Senhor” (verso 37).
A passagem de 1Timóteo 2.1ss é muito forte, embora seja mais particularmente direcionada para o caso específico do ensino público ou governo da igreja. Neste contexto o apóstolo já tinha, de forma incisiva, confinado a oração pública aos homens (versículo 8, “varões” em contraste com “mulheres”, do versículo 9), e agora ele continua: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio”. Nem o ensino nem a função de governar são permitidos à mulher. Aqui o apóstolo afirma: “E não permito”, em vez do que diz em 1Coríntios 14.33ss: “não lhes é permitido”, porque aqui ele está dando as suas instruções pessoais a Timóteo, seu subordinado, enquanto lá ele estava anunciando aos coríntios a lei geral da igreja. No entanto, o que ele instrui a Timóteo também é a lei geral da igreja. E assim ele vai adiante e fundamenta sua proibição numa razão universal que afeta igualmente a toda a raça.
Mulher pregando. Oposição às Escrituras
Em face destas duas passagens absolutamente simples e enfáticas, o que é dito em 1Coríntios 11.5 não pode ser usado como apelação para mitigação ou modificação. Precisamente, o que significa 1Coríntios 11.5 ninguém sabe direito. O que é dito nesta passagem é que toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua cabeça. Parece justo inferir que se ela ora ou profetiza com a cabeça velada, não desonra a sua cabeça. E parece ainda mais justo inferir que ela pode orar ou profetizar de maneira própria apenas se estiver com a cabeça velada. Estamos acumulando uma corrente de inferências. E elas não nos levam para muito longe. Não podemos inferir que seria próprio para ela orar ou profetizar na igreja se apenas ela estivesse velada. Nada é dito sobre igreja na passagem ou no contexto. A palavra “igreja” não ocorre até o versículo 16, e quando ocorre ela não governa a referência da passagem, porém apenas como fornecendo suporte para a injunção da passagem. Não há razão alguma para acreditar que “orar e profetizar” diz respeito à igreja. Nem era um exercício confinado à igreja. Se, como em 1Coríntios 14.14, a “oração” mencionada era um exercício estático – como o seu lugar por “profetizar” pode sugerir, então, para ser levado em consideração, haveria a divina inspiração substituindo todas as leis ordinárias. E já existiu ocasião para observar que a oração pública é proibida às mulheres em 1Timóteo 2.8,9. Salvo se simples presença na oração é o que significa, caso em que esta passagem é um paralelo próximo de 1Timóteo 2.9.
Então, o que deve ser notado, em conclusão, é: (1) Que a proibição de as mulheres falarem na igreja é precisa, absoluta e todo-inclusiva. Elas devem ficar caladas nas igrejas – e isso significa em todas as reuniões públicas de adoração; elas não podem nem mesmo fazer perguntas; (2) que esta proibição é dada por dois pontos especiais, precisamente pelas duas questões de ensino e governo, que abrangem especificamente as funções de pregação e governo dos presbíteros; (3) que os fundamentos sobre os quais a proibição é colocada são universais, e estão ligados à diferença de sexo, e particularmente sobre os lugares relativos atribuídos aos sexos na criação e na história fundamental da raça (a queda).
Talvez deva ser adicionado, em elucidação ao último ponto, que a diferença nas conclusões de Paulo e do movimento feminista de hoje está enraizada numa diferença fundamental em seus pontos de vista concernentes à constituição da raça humana. Para Paulo, a raça humana é constituída de famílias, e todos os diversos organismos, incluindo a igreja, são compostos de famílias, unidos por este ou outro vínculo. Por esta razão, a relação entre os sexos na família é refletida na igreja. Para o movimento feminista a raça humana é composta de indivíduos; uma mulher é apenas outro indivíduo ao lado do homem; e ele não pode enxergar nenhum motivo para as diferenças no tratamento com os dois. E, de fato, se não podemos ignorar a grande diferença fundamental de sexo, e destruir a grande unidade social fundamental da família por interesse do individualismo, não parece haver qualquer razão para não acabarmos com as diferenças estabelecidas por Paulo entre os sexos na igreja. Exceto, é claro, a autoridade de Paulo. Em tudo, finalmente, voltamos à autoridade dos apóstolos, como os fundadores da Igreja. Podemos gostar ou não do que Paulo diz. Podemos estar dispostos a fazer o que ele manda ou não. Mas não há espaço para dúvidas a respeito do que ele diz. E, certamente, ele nos diria o que disse aos coríntios: “O quê? Foi entre vocês que a Palavra de Deus se originou? Ou ela veio somente a vocês?” O nosso Cristianismo tem a ver com o que nós gostamos? Ou é a religião de Deus, recebendo dele as suas leis através dos seus apóstolos?
FONTE: The Presbyterian. 30/10/1919.
TRADUÇÃO: Alan Rennê Alexandrino Lima
REVISÃO: Carlos Almeida