Pregação realizada em
27 de janeiro de 2013 na IPB - Baião
Levítico
23:36
“Sete
dias oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; ao dia oitavo, tereis santa
convocação e oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; é reunião solene, nenhuma
obra servil fareis”.
Quando se trata de palavras que são de
domínio da igreja evangélica, o que encontramos são várias ideias acerca delas.
Ideias até mesmo contrárias umas às outras, ideias que podem, inclusive excluir
umas às outras e também ideias que são contrárias à própria Bíblia. Quando
pensamos na palavra culto, imediatamente surge uma grande variedade de
definições, mesmo que não sejam definições técnicas, ou teologicamente
elaboradas, ou até mesmo bíblicas sobre o que vem a ser um culto. Esta
variedade Pode assumir tantas quantas variedades forem do mesmo número das
pessoas consultadas. Mesmo quando duas respostas pareçam idênticas, os autores
delas na prática podem ser divergentes quanto à aplicação de suas próprias
definições.
Para iniciarmos nossa exposição nesta noite
acerca do culto precisamos entender e termos bem definido em nossa mente que o
culto não é uma invenção humana. O culto como NÃO sendo uma invenção humana,
não pode ser definido pelo próprio homem, nem mesmo ser reivindicado por ele
como deve ser feito um culto na prática. Tanto a definição, quanto a prática do
culto devem ser feitos pelo seu legislador, ou seja, por quem o inventou, por
quem o determinou, Deus.
Deus quando revelou toda a sua vontade e
desígnio e fez com que fossem escritos, fez uso dos meios de comunicação
disponibilizados ao homem para que esse, quando determinado por Deus divulgasse
Sua revelação. Inicialmente quando Deus se revelou à humanidade e Ele o fez por
meio de eventos que chamamos de Teofanias. Tais eventos inicialmente foram
repassados aos descendentes, ou seja, aos filhos, netos, bisnetos e etc.,
daqueles que presenciaram estas manifestações por meio da oralidade, ou seja,
por meio da fala.
Obviamente esta tradição oral atingiu a um
limite que fez com que outra forma de revelação fosse necessária, a escrita. O
primeiro homem a ser inspirado por Deus a escrever sua revelação foi Moisés.
Claramente pode ter Moisés recebido muitas informações ao longo de sua vida por
meio da tradição oral, ou seja, pelos seus pais, tios, avós, avôs, etc. Mas o
ser humano é falho e claramente a tradição também o é, daí a necessidade de que
estas tradições passassem pelo crivo da inspiração do Espírito Santo para serem
escritas. Desta forma se iniciou a escritura bíblica.
O
uso de palavras humanas foi necessário para o registro da revelação de Deus.
Assim sendo, persiste na revelação de Deus o limite da compreensão humana por
meio de sinais grafados de modo que pudéssemos ter um entendimento daquilo que
Deus queria que fosse registrado. Da mesma forma que as tradições poderiam
carregar em si mesmas distorções e sendo absolutamente necessário a inspiração
do Espírito Santo para seleção destas tradições orais para serem escritas,
também foi necessária a inspiração do Espírito Santo na escolha das palavras
humanas para o registro da revelação.
Nesta escolha de palavras, aprouve a Deus que
fosse feito na linguagem de um povo, uma nação. A linguagem usada pela nação de
Israel que estava se formando a partir da saída do Egito no comando de Moisés.
Sua língua utilizada era o hebraico. Quando chegamos ao período de Daniel, este
mesmo povo estava como escravo no império babilônico que influenciou a língua
utilizada pelos hebreus em sua comunicação e escrita, referindo-me, portanto
àquelas pequenas porções da Bíblia escritas em uma língua irmã do hebraico, o aramaico.
Quando acontece uma sucessão de quedas de
impérios e surgimento de outros, aparece a nação grega que domina o mundo
conhecido. Sua marca mais profunda na humanidade foi o início do pensar humano
como sendo sua principal atividade, daí nascendo a filosofia. Como as ideias só
podem ser expressas por meio de sinais, e que naquele tempo só existiam duas
maneiras: teria de ser escrita, ou falada, a língua grega dominou o mundo
conhecido, e se tornou uma língua universal. Obviamente como língua universal
toda comunicação que tivesse uma necessidade de atingir um maior público
possível teria de ser comunicado nesta língua, como o inglês é hoje.
É por estes motivos que temos, então, na
escrita bíblica original três línguas. Principalmente o grego e o hebraico, e
uma pequena porção em aramaico. Decorrente desta situação, toda e qualquer
definição de termos que precisamos fazer há a inteira necessidade de iniciarmos
pelos significados das palavras no contexto em que elas se encontram, se em
grego, precisamos entendê-la conforme os falantes e leitores do grego bíblico
daquele tempo o faziam, da mesma forma com relação ao hebraico e ao aramaico.
Temos de ter em mente também que nem sempre a
definição do termo vem junto com o uso dela no texto. Até mesmo podem surgir
situações em que há uma total descrição de um termo sem que se faça o uso dele.
Para entender melhor um exemplo é o nosso interesse de hoje com relação ao
culto. Podemos ter um exemplo prático do que é o culto naquele texto sem que a
palavra culto apareça nele; da mesma forma podemos ter a palavra culto
aparecendo no texto sem que se tenha a definição da idéia, ou o exemplo da
prática no próprio texto.
A primeira vez que a palavra culto aparece em
nossa tradução A.R.A. é nos DEZ MANDAMENTOS no livro de Êxodo 20.5 quando ele diz: “não as adorarás nem lhes prestarás
culto...” falando este texto acerca das imagens de escultura. O
significado da palavra culto neste texto quer dizer: trabalhar, servir, servir
a outro com qualquer tipo de trabalho. Desta forma o culto é um serviço
prestado a alguém. Qualquer trabalho que você dirige a outro, a grosso modo, é um culto.
No entanto, quando o texto apresenta o culto
como um serviço prestado, precisamos diferenciar entre o serviço prestado no
tocante a aspectos religiosos e o serviço prestado no tocante a aspectos de
sobrevivência material, ou simplesmente de relacionamentos entre as pessoas. O trabalho prestado para a sobrevivência
material, física, não pode ser confundido com o trabalho, o serviço religioso.
O serviço espiritual se difere do serviço material na sua intenção. Enquanto um
tem aspirações à sobrevivência espiritual o outro tem aspirações à
sobrevivência material, física. Com isso também não
nos dá a liberdade de termos um serviço com intenções de sobrevivência física,
mas que fira os princípios da sobrevivência espiritual. Ou seja, é um
contracenso um crente prestar qualquer tipo de serviço seja como empresa, seja
como autônomo para fins de uma festa pagã, por exemplo.
Desta forma, a restrição e a definição de culto
em Êxodo 20.5 dizem que não podemos exercer qualquer tipo de trabalho de
aspectos espirituais a qualquer outro ser ou coisa a não ser a Deus. Quando se
foge a esta regra Deus afirma ser pecado, o pecado da idolatria. Conquanto o
nosso trabalho para sobrevivência física deva estar submisso às regras da
sobrevivência espiritual. Ou seja, o que fazemos para sobreviver fisicamente
deve estar de acordo com o que Deus estipulou ser o certo a se fazer,
moralmente, espiritualmente e fisicamente. Quando uso a expressão sobrevivência
espiritual afirmo com o sentido de ser o modo correto de atender às
expectativas de Deus reveladas na sua Palavra de como deve ser nossa vida em
relação a Ele e ao mundo que nos rodeia que em nenhum momento estas duas
relações são desassociadas uma da outra.
Apesar do aparecimento da palavra culto vir
apenas em Êxodo encontramos uma prática de culto vista anteriormente com o
encontro do servo de Abraão com Rebeca. Quando este percebeu que Deus havia
dirigido sua viagem até o seu destino e de forma como lhe havia dito Abraão,
nos diz o texto que o homem adorou ao Senhor. Gênesis 24.26 “Então, se inclinou o homem e adorou ao Senhor”.
A palavra adorou tem exatamente o
sentido de ajoelhar-se diante de alguém. Quando lemos em Êxodo 20.5 encontramos
a mesma palavra, adorarás ela
exprime, significa o mesmo que aqui em Gênesis. Em si mesmo o texto de Êxodo
proíbe todo e qualquer o serviço espiritual a não ser a Deus, mas proíbe também
o ato de se inclinar para merecer um favor, ou enaltecer outro, a não ser a
Deus. Pois a adoração também faz parte do ato de culto. Desta forma ajoelhar-se
diante de uma imagem de qualquer criatura é um completo insulto a Deus, pois
Deus não pode ser trocado por uma de suas criaturas.
O que vemos até aqui é que o culto diz
respeito à maneira com que o homem se relaciona com o que lhe seja divino. Não
importa aqui para nossa definição o que vem a ser esse ser divino, mas importa
que culto diz respeito a maneira com que nos relacionamos com o espiritual.
Sendo esta a definição de culto cumpre-nos
lembrar que o culto não pode ter sido determinado pelo próprio homem, pois o
homem à parte da Revelação de Deus não teria como determinar para si mesmo a
maneira correta de se relacionar com Ele. É Deus mesmo quem determinou este
modo, esta maneira de relação.
Desta forma o inicio do culto se dá com a
criação do homem. Logo que Deus o cria e o coloca no jardim no Éden, Deus
determina a forma de viver do homem, ou seja, o seu culto a Deus. Gênesis 2.15-17 determina que o
homem poderia viver segundo as determinações de Deus para ele. Ele poderia
comer de todos os frutos gerados pela terra, exceto um que em si mesmo não
carregava uma maldição, ou fórmula mágica, mas o comer dele simbolizava a
rebeldia do homem com o seu Criador. Dito de outra forma, o culto determinado
por Deus ao homem, à raça humana, está fundamentado na obediência de como Deus
determina que esta relação aconteça, não como o homem acha que deva acontecer.
Foi com esse pensamento de rebeldia que Eva comeu do fruto e deu ao seu marido
que, de qualquer forma, acatou a mesma maneira que pensou Eva, aceitando comer
daquilo que lhe era proibido: um fruto real e verdadeiro, contudo, simbolizando
a rebeldia contra Deus.
O culto então, quando não acontece de acordo
com a Revelação de Deus, é um culto meramente humano, pagão e rebelde contra a
ordenação divina de como ele deve acontecer.
Temos trabalhado já há algum tempo com os
irmãos acerca de como deve acontecer este culto. Queremos inicialmente lembrar
aos irmãos alguns pontos, que, creio eu, já estão sendo firmados nos irmãos.
1.
O
primeiro dos pontos está em Isaías
43.7: o homem foi criado para
glória de Deus. Desta forma o culto não existe em função do homem. O culto
nunca deve ter como seu âmago, a necessidade existencial do ser humano, seja em
qual aspecto for. O culto bíblico não tem como objetivo central suprir as
carências humanas no que diz respeito a qualquer área de sua vida, seja ela
sentimental, emocional, financeira, nem mesmo a espiritual. Uma vez realizado
de forma correta, o culto é prestado a Deus. É feito para Ele, para
enaltecê-lo, dar o devido lugar a Ele em nossos corações, em nossa vida
cotidiana e expressamos isso em um momento solene, onde pessoas se achegam com
o mesmo objetivo em um mesmo local em um mesmo horário. Quando isso acontece,
uma das necessidades específicas do homem é preenchida, a necessidade
espiritual, pois esta se resume aos anseios próprios do ser humano em manter
relação com o Seu Criador.
2.
I Timóteo 2.5: O culto deve exaltar
a principal ligação entre Deus e o homem, e esta ligação se chama Jesus Cristo,
o único que pode mediar nossa relação para com Deus. À parte de Cristo não existe culto a Deus. Quando
se diz que estão realizando um culto religioso, mas se não se destaca a pessoa
de Cristo, mas se fala em nós mesmos, nas nossas necessidades, sejam quais
forem, quando o destaque são os seres humanos, ou enaltece o próprio pregador,
trata-se simplesmente de um culto pagão revestido de cristão.
a.
E
se você ainda não declarou a Cristo como Senhor de sua vida, não existe
qualquer possibilidade de você fazer, ou participar de um culto a Deus. Se
Cristo não está entre você e Deus, não há como você ir a igreja e dizer que
participou do culto a Deus. Pois o que existe à parte de Cristo é apenas a
idolatria. Um pecado cometido na tentativa sincera de se relacionar com Deus.
b. Isaías 59.2: Uma vida de pecado
não tem como expressar um culto a Deus. Mesmo um crente ansioso por pregar o
evangelho não tem qualquer autoridade para fazê-lo por que o pecado lhe tira
esta autoridade. Se o pecado é conhecido seja pelo própria pessoa que o
cometeu, ou se o pecado é conhecido pela comunidade em que ele vive, ou mesmo
seja um pecado desconhecido por todos e conhecido apenas por você e Deus, o seu
culto, a sua pregação se torna uma abominação a Deus, por que não provém de um
coração contrito, arrependido e que tem o pecado tratado por quem tem a
autoridade para fazê-lo, Efésios 4. 11 E ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, 12 com
vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, ‘Para
isso Deus instituiu autoridades na igreja conforme seu desejo, para que elas
corrijam os faltosos em sua caminhada, em seu culto a Deus. Se não há esta
correção por parte de uma autoridade, o faltante fica a mercê de seu parco
entendimento.
3.
João 4.23: O culto não tem
aspectos físicos, relevantes. O culto no Antigo Testamento era fundamentado em
rituais determinados na Escritura de maneira clara. Vemos vários elementos
destacados em todo o Antigo Testamento. Destes elementos físicos encontramos:
rituais de sacrifício, incenso, óleo, dentre outros. É exatamente neste ponto
que vou me deter nesta noite. Sobre os elementos físicos, ou pelo menos um
deles, pertinentes ao culto no tempo em que Deus afirmou que o verdadeiro culto
seria em espírito e em verdade. Vale destacar aqui que quando nos referimos a
elementos físicos envolve os cinco sentidos. Audição, visão, tato, paladar,
olfato.
a.
Destacamos na reunião
solene no AT, práticas relativas aos sentidos.
i. Audição: a palavra
era lida e ensinada, música era ouvida,
ii. Visão: A princípio as
pessoas presenciavam teofanias, manifestações de Deus que podiam ser percebidas
por um, ou mais dos sentidos. Como a nuvem sobre o tabernáculo e a fumaça do
incenso, bem como o sacrifício feito à vista do povo.
iii. Paladar: parte do
sacrifício era comido; a comemoração da páscoa também envolvia este sentido.
iv. Tato: no ato do
sacrifício o ofensor teria de impor a mão sobre a cabeça do animal e matá-lo. Obviamente
sentia em si mesmo a responsabilidade da morte daquele animal quando este,
enquanto seu sangue se esvaía, lutava contra a própria morte.
v. Olfato: o perfume do
incenso era característico, o holocausto queimado também fazia sentir-se seu
cheiro.
4.
A
questão relevante é pensarmos como poderia surgir em uma era vindoura um culto
que deveria ser feito em espírito e em verdade?
a.
O
Senhor falou sobre este culto solene realizado no AT sobre o que ele pensava
acerca dele:
i. Isaías 1:13
Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e
também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não
posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene.
b.
Este
versículo nos mostra que o culto previsto para a era futura ao tempo do AT, era
um culto que tinha intima ligação com a vida de cada ser humano e não com a
forma com que o culto era realizado. Aliás não era somente uma perspectiva para
o culto vindouro, pois claramente o texto nos diz que Deus afirma que o culto
que eles faziam conforme os mandamentos de Moisés, eram para Ele uma abominação,
simplesmente por que davam mais importância à forma do que à essência que
deveria vir de uma vida santificada a Deus. Ou seja, desde aquele tempo a forma aparente
do culto nunca teve importância, apenas foi necessária como uma maneira
didática de ensinar e de mostrar que o culto perfeito só poderia ser realizado
através do Messias. Desta forma as coisas aparentes, percebidas pelos sentidos
do ser humano, no ato de culto, não tinham qualquer relevância para esta
perspectiva do culto idealizado por Deus, nem no passado, muito menos no
presente.
5.
Desde
que aqui cheguei há mais de cinco anos, tenho falado com os irmãos sobre os
desvios que o culto solene tem sofrido nas nossas igrejas, inclusive nas
igrejas reformadas. Desde o primeiro ano também tenho avisado aos irmãos que à
medida que caminhássemos juntos, eu iria mostrar biblicamente aos irmãos tudo
aquilo que não estaria de acordo com a Sagrada Escritura e que foi sendo
desenvolvido dentro das igrejas.
6.
Também falei aos irmãos que o culto mesmo
aqui, em Baião, ainda tinha muitas coisas a serem revistas pela Palavra, não
poderiam ser revistas por uma instituição, ou mesmo tradição. Nossa vida diante
de Deus é um caminhar cada vez mais rumo à santificação idealizada no próprio
Ser de Deus. Diante disso, hoje quero tratar de um assunto extremamente
delicado com os irmãos acerca do culto que aqui realizamos. Na prática de culto
da igreja de Baião haviam alguns elementos que foram tirados por que
biblicamente não tinham qualquer fundamento:
a.
Dança
litúrgica
b.
Grupos
separados de louvor
c.
Teatro
d.
Palmas
e.
Cânticos
e até hinos que não condizem com a verdade revelada de Deus
f.
O
natal e a páscoa
g.
E
hoje trataremos acerca de outro elemento: O USO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NO
LOUVOR.
7.
Um
dos grandes erros de pastores e teólogos é fazer uso da teologia para
justificar aquilo que ele tem preferência, ou aquilo que ele crê, ou aquilo que
a maioria faz, ou que a maioria crê com o fim de ser bem aceito nesse meio.
8.
A
Escritura não é para ser usada como muleta para amparar os nossos desejos,
nossas expectativas, nossas crenças, nossas cobiças, e principalmente não deve
servir de escora sobre o nosso pensar, ou o nosso achar sobre como deva ser um
culto que esteja de acordo com a vontade de Deus.
9.
Nem
a tradição, nem nosso entendimento, muito menos nossa prática costumeira não
mostra em nenhum momento a vontade de Deus revelada na Escritura, apenas a
própria Escritura pode fazer isso. Foi por esse motivo que Lucas afirmou em
Atos que “...os discípulos de Beréia
eram mais nobres que os de Tessalônica, pois todos os dias examinavam as
Escrituras para ver se de fato as coisas eram assim.” Desta forma a Escritura e somente a Escritura
deve ser nosso guia para um culto conforme a vontade revelada de Deus.
10.
É
por isso que quero me fazer valer, neste momento, de meu passado com relação à
música na igreja. Sempre participei da música de uma forma efetiva na igreja.
Iniciei aos nove anos cantando em uma bandinha de crianças na igreja, cantei em
dois corais, tocava guitarra com o grupo de louvor da igreja. Se há alguém
presente aqui hoje com uma história que poderia sair na defesa do uso de
instrumentos no culto solene, este alguém seria eu mesmo. Mas este não deve ser
o nosso proceder em relação à Escritura. Devemos ser humildes o suficiente para
mostrarmos que a Escritura deve falar mais alto do que as nossas preferências,
nosso gosto, ou maneira de, pensar, crer e agir. Sendo assim: vamos à Escritura.
a.
A primeira vez que vemos alguma referência com
relação á música instrumental, ou seja, a música feita com instrumentos é
justamente com a descendência de Caim. Gênesis 4:21 O nome
de seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. Temos que lembrar que na narrativa de Gênesis, quando chega
a esse ponto ela se separa em duas narrativas paralelas: uma dizendo a respeito
da descendência de Caim e outra dizendo respeito à descendência de Adão.
b.
Essa
separação ocorre de forma natural devido aos propósitos que cada descendência
enfoca em sua vida. De um lado temos a descendência
de Caim enfocando o aspecto cultural, e de outro vemos a descendência de Adão
enfocando o aspecto espiritual, quando vemos que um de seus filhos nascidos
após a morte de Abel, Sete, gera a Enos, neto de Adão e diz-se a respeito dele
que aí, a partir dessa descendência é que se começou a invocar o nome do
Senhor. Gn 4.26.
c.
A
raça humana se dividiu em duas, uma capaz de atender à expectativa de Deus, por
que assim Deus a capacitou e a outra de forma alguma é capaz de atender nem
mesmo ao seu chamado geral, por que são completamente incapazes de ouvi-lo.
d.
Apesar
de vermos músicas instrumentais bem cedo na Bíblia, foi apenas com Davi que a
música instrumental foi organizada como parte integrante do culto oferecido a
Deus. Ele não pode construir o templo, o que coube a
seu filho Salomão, mas a Davi coube deixar tudo organizado sobre como
funcionaria. Lembremos que Davi era músico antes de se tornar rei. Até mesmo
chegou a cantar na presença do rei Saul, quando este era atormentado por um
espírito maligno enviado por Deus. I Crônicas 6.31-32. A música como algo
essencial ao serviço divino foi considerada apenas nos dias de Davi. Antes
disso não havia qualquer estipulação sobre quem deveria, ou como se deveria
proceder com relação à música instrumental no serviço divino.
e.
Há
um ditado dentro da ciência que vale para todos os aspectos de nossa vida e a
própria Bíblia nos mostra isso. Aliás, esse ditado
tem um fundamento bíblico. O ditado diz: “A tendência de todas as coisas é ir
em direção ao caos”. E constatamos isso em nossas vidas: a dona de casa a
arruma e em pouco tempo a casa está como se tivesse passado um furacão por ela,
principalmente se existem na casa, um Davi, uma Bibi, um Tiago, e um JULIO.
f.
Na
nossa vida em particular, a vida espiritual, isso também é válido. Se deixamos de vir a igreja, se deixamos de dar a devida
importância à Palavra, se não observamos os ensinamentos da palavra como devem
ser observados, a tendência é justamente nós cairmos em pecado.
g.
A
organização promovida por Davi com relação à música, bem como o culto ordenado
e estipulado por Deus com Moisés, via de regra encontramos períodos de
decadência seguidos de reforma tanto no culto, quanto na música utilizada ali,
no culto. Nos primeiros anos do reinado de Salomão, o
que se seguiu foi uma preocupação primeira acerca da construção do templo. Essa
foi a dedicação máxima de sua vida. É certo que encontramos que durante seu
reinado, Salomão determinou que se fizessem instrumentos para os levitas os
utilizarem no templo, mas esta não foi sua organização, ele estava renovando
este aspecto, de acordo com o que seu próprio pai havia instituído.
h.
Os
períodos de reforma subseqüentes ao reinado de Salomão que encontramos na
Bíblia, quando se referiam ao culto, à música, eram reformados todos eles de
acordo com o que Davi havia prescrito. Estes três períodos a que nos referimos
foi com o sacerdote Joiada, com o Rei Ezequias e com a reforma pelo rei Josias.
Em todos eles, observamos claramente que suas reformas concernentes ao culto em
relação à música, deveriam ser feitas conforme Davi havia deixado ordenado. Um
exemplo é o texto de 2 Crônicas 23:18
diz: “Entregou Joiada a superintendência da Casa do SENHOR nas mãos dos
sacerdotes levitas, a quem Davi
designara para o encargo da Casa do SENHOR, para oferecerem os
holocaustos do SENHOR, como está escrito na Lei de Moisés, com alegria e com
canto, segundo a instituição de Davi.”
i.
O mesmo processo acontece após o retorno do
povo do cativeiro babilônico. Quando voltam a Jerusalém e restauram o templo e
restituem a aquele lugar o culto a Deus, a música se vê mais uma vez enquadrada
nos moldes estabelecidos por Davi. Esdras
8.20 e dos servidores do templo, que
Davi e os príncipes deram para o ministério dos levitas,
j.
Assim nós podemos evidenciar que os padrões
buscados por aqueles reformadores e restauradores não eram novos padrões, mas
segundo o culto no tocante aos sacrifícios e a lei, voltavam-se para Moisés, no
tocante à música, voltavam-se para Davi.
k.
No que diz respeito ao AT, estes eram os
moldes em que o culto era estabelecido.
11. Quando
chegamos no período do NT, a primeira referência que temos acerca do culto
devido a Deus, do serviço espiritual dos santos a Deus, surge na conversa de
Jesus com a mulher samaritana à beira do poço.
12.
Em sua conversa com Jesus, a mulher demonstrou que tinha
conhecimento de um aspecto cultual devido a Deus e profetizado no AT, de que o
culto seria realizado em Espírito e em Verdade. Nossa pergunta feita no início
do sermão, nos direciona para esse momento. Como poderia surgir em uma era vindoura
um culto que deveria ser feito em espírito e em verdade, sendo que no passado o
culto era completamente baseado em elementos visuais, elementos olfativos,
elementos táteis, elementos palatáveis?
Em João 4.20 vemos a mulher reclamando com
Jesus em um aspecto do culto. Ele reclama de que os judeus afirmavam que o
único lugar em que se poderia ter um culto solene, um culto verdadeiro era
segundo o que fora prescrito no AT, ou seja, em Jerusalém, segundo a orientação
dada por Davi, segundo os moldes antigos. Mas a resposta de Jesus põe fim à
reclamação da mulher: 21 Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a
hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
13.
Jesus afirma que o lugar
não é o que importa. Em outras palavras o físico, o visível não importa, pois o
que de fato importa é uma adoração em espírito. Não há uma predisposição, por
menor que seja, por qualquer escritor bíblico do Novo Testamento, inclusive do
próprio Senhor Jesus de restaurar o culto conforme a prescrição de Davi, ou de
Moisés.
14.
Esta afirmação tem exatamente o fundamento de que o culto
verdadeiro não pode se basear no sentimentalismo humano sobre o seu gosto,
sobre suas preferências, sobre o fato de ter que ver para crer, sobre o fato de
se sentir bem para estar ali no culto. O culto não é feito para nos agradar,
por que o culto foi idealizado por Deus e para Deus.
15.
Havia uma necessidade pedagógica com respeito ao culto do AT que
era de preparar o coração do povo de Deus ao longo de séculos que se seguiriam
para entender que o culto verdadeiro é muito além do poder ver, apalpar, sentir
o gosto, cheirar. O culto verdadeiro só requer de nós uma predisposição da
nossa alma em estar aqui com a finalidade de aprender a vontade de Deus para
nossas vidas para seguí-lo de forma fiel.
16.
Paulo levanta uma importante questão no que diz respeito ao culto
verdadeiro. Paulo afirma que de forma alguma esse culto verdadeiro tem a ver
com os sentidos que possuímos. Pelo contrário. Paulo afirma que o nosso culto
deve ser RACIONAL. Em outras palavras, os únicos atos físicos para que este
culto espiritual/racional aconteça são: os ouvidos e os olhos por onde a
verdade da palavra pregada ou lida possa entrar. Tendo sido feito a absorção do
conhecimento o culto espiritual é a prática daquilo que se sabe, o culto
coerente, lógico.
17.
Se tentarmos buscar em todo o Novo Testamento alguma referência de
um culto realizado por seres humanos em devoção à Deus, não iremos encontrar em
nenhum lugar qualquer referência à música na igreja acompanhada de instrumentos
musicais. Há um silêncio completo em relação a este aspecto do culto no Novo
Testamento.
18.
Mas há passagens importantes que precisamos ver no Nt com respeito
ao culto, ou a um ato de culto realizado.
a. Na última
ceia - Marcos 14:26 Tendo cantado
um hino, saíram para o monte das Oliveiras.
b. Efésios
5:19 falando entre vós com salmos,
entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,
c. Colossenses
3:16 Habite, ricamente, em vós a palavra
de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.
19.
Todas as referências, sem exceção quando se reportam a um culto,
ou quando há uma referência direta de como deve ser um culto a Deus expresso
nas linhas do Novo Testamento, como este de Colossenses, o que há são apenas referências quanto ao
cantar, nunca quanto ao tocar.
a.
Mas quando vemos as
referências com relação à música instrumental no At, as referências são
extremamente ricas, por que esta diferença? Paulo ao escrever aos Colossenses
explica essa diferença: Colossenses 2:17 porque
tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. Em
outras palavras o culto do AT era imperfeito em relação ao culto no NT. O culto
do AT rico em elementos visuais, sonoros, degustáveis, paupáveis, o culto no NT
é essencialmente espiritual. É o mais simples possível para o que de fato
importa possa ser exaltado: Jesus Cristo.
b.
Mas é tudo bíblia, por que não voltarmos ao At? Em nenhum momento
observamos os apóstolos incentivando a igreja a retornar aos moldes do AT no
aspecto do culto e em muitos aspectos doutrinários também. Pois o At tinha a
função de apresentar o Messiaso e os pré-moldes da relação do homem com Deus.
Quando Cristo veio, esses pré-moldes são vistos como aqueles que tinham a única
função de apontar para Cristo, o Messias que veio. Os moldes se tornam
obsoletos e desnecessários para darem lugar ao produto verdadeiro, à forma
verdadeira de culto.
20.
Mas isso é algo novo? De forma alguma. Durante o período da
reforma os principais reformadores não aceitavam de forma alguma o uso de
instrumentos musicais no culto solene. Calvino, Lutero, João Wesley. Nenhum
destes homens foram apóstolos ou profetas, mas por que eles negaram o uso de
instrumentos no culto? Por que eles perceberam nas escrituras que o uso de
instrumentos tem um aspecto além de irrelevante para o culto solene, como
também tem um aspecto até mesmo pecaminoso diminuindo a essência do culto a
Deus que deve ser estritamente espiritual.
21.
A questão final que precisamos deixar aqui é: seguiremos a
escritura, ou seguiremos os homens?
(CAROS LEITORES, SE, PORVENTURA ENCONTRAREM ALGUM ERRO DE ESCRITA, OU REFERÊNCIA, OU MESMO UM CONTRAPONTO ESCRITURÍSTICO, NÃO DEIXEM DE POSTAR SEUS COMENTÁRIOS).
Me questionaram sobre 3 textos do NT que mencionam instrumentos musicais:
Apocalipse 5:8 E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.
Apocalipse 14:2 E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um grande trovão; e ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas.
Apocalipse 15:2 E vi um como mar de vidro misturado com fogo; e também os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus.
1. Sem excessão nenhum deles retrata um culto da igreja militante, mas da igreja triunfante. Portanto não se aplicam ao culto solene para o período em que vivemos.
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IMPORTANTE: NOTA EXPLICATIVA.
Depois de algumas repercussões acerca destas duas mensagens, vi ser necessário esclarecer o sentido e a aplicação em um contexto específico. Quando se faz uma exegese bíblica dizemos ser necessário avaliar o contexto histórico no qual o texto referido se aplicava e por que se aplicava àquela circunstância. Mas ao que pude perceber, as exegeses de textos pessoais não se observam as mesmas regras. Aqui, nesta nota, não cabe trazer as razões específicas da IPB em Baião, mas elucidarei a motivação e se o resultado aguardado foi alcançado.
A motivação única destes dois textos foi o de colocar peso ao outro lado da balança da liturgia aqui aplicada. Equilibrar foi a intenção. E como resultado, têm hoje o que se esperava. Um culto ainda com instrumentos sendo utilizados apenas como acompanhamento, um responsável dirigindo a liturgia, bem como as vozes, sem que se deixem impressionar consigo mesmos; nada que possa lembrar um espetáculo, ou uma apresentação; mas dirigindo toda honra, todo louvor e toda glória ao Senhor.