sexta-feira, 18 de abril de 2025

O QUE É MAIS LÓGICO E SENSATO? A TEORIA DO BOLO


     Você chega em casa e encontra, sobre a mesa, um belo bolo de chocolate, com cobertura de lascas de chocolate meio amargo, cerejas e um suculento recheio de brigadeiro. Naturalmente, começa a se perguntar como aquele bolo foi parar ali. A partir disso, você desenvolve duas teorias.

     Na primeira, você imagina que um caminhão de supermercado descia a rua em alta velocidade. De repente, um cachorro atravessa seu caminho. Para não atropelá-lo, o motorista dá um brusco golpe no volante, fazendo o caminhão capotar. Durante as cambalhotas, os ovos que estavam no baú se quebram, misturam-se com a farinha de trigo, que também se espalha, tudo na quantidade exata da receita. Os litros de leite se derramam na proporção ideal, e o mesmo acontece com o chocolate em pó, o açúcar e o fermento. No meio do caos, essa mistura acaba caindo dentro de uma forma de bolo que, por coincidência, também estava no caminhão. Logo após, o caminhão explode e, com o calor, a massa assa.

    Quando os bombeiros chegam e apagam o fogo, uma barra de chocolate meio amargo derretida cai sobre o bolo, seguida das cerejas de um vidro que se quebrou no acidente. Um dos bombeiros encontra a forma com o bolo exatamente em frente à porta da sua casa. Por achar que pertence a você, ele pega o bolo e o coloca em cima da sua mesa.

    Essa é a primeira teoria.

 A segunda teoria que você considera é bem mais simples: alguém que conhece a receita, sabe as quantidades corretas, domina o método de preparo, fez o bolo, confeitou com cuidado e, depois de pronto, o deixou na sua mesa.

Qual das duas teorias é mais plausível?

Qual é a mais racional e lógica?

     Obviamente, a segunda. A ideia de que alguém intencionalmente preparou o bolo é infinitamente mais coerente do que supor que uma sequência improvável de acidentes aleatórios gerou aquela iguaria com perfeição. A primeira teoria, por mais detalhada e cheia de coincidências que seja, é absurda.

    E, no entanto, é justamente esse o tipo de lógica adotado por quem defende que o mundo e a vida surgiram por acaso — fruto de incontáveis coincidências acumuladas ao longo do tempo (Diga-se da Teoria da Evoluçao, Big, Bang e outras páreas). Ainda assim, ironicamente, são os que creem em uma narrativa planejada e inteligente da origem de todas as coisas que costumam ser chamados de irracionais.

 A RAZÃO DOS ANTIGOS

Essa percepção de ordem e intenção na origem de tudo não é novidade entre os que buscam a verdade. Filósofos como Platão e Aristóteles, mesmo sendo gregos e rodeados por narrativas mitológicas acerca da cosmogonia, não concebiam um mundo surgido ao acaso. Para eles, a harmonia e a regularidade expressas nas leis da natureza apontavam para algo maior — para um princípio racional, para uma Causa Primeira, um Logos, ou como Aristóteles dizia, um Motor Imóvel. Onde há leis, pressupõe-se um Legislador; onde há ordem, existe propósito. O caos não gera beleza funcional.

 ORDEM, PROGRESSÃO, PROPÓSITO

    Contudo, ao olharmos para a narrativa da Criação descrita em Gênesis, vemos exatamente o oposto da aleatoriedade: há ordem, intencionalidade, progressão e propósito. Tudo segue uma sequência lógica e funcional, com cada parte preparando o ambiente para a próxima. É uma estrutura de planejamento — e não de acidente. A natureza não apenas funciona com harmonia, mas exige uma base precisa para existir como é: leis físicas ajustadas com exatidão, ciclos interdependentes, estruturas biológicas interligadas.

    Negar a lógica de um Criador inteligente em favor do acaso absoluto é como acreditar que um bolo nasceu de um desastre.


NATURALISMO ANTIGO: AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO ACASO

    Contudo, a ideia de que a vida poderia ter surgido sem propósito também não é nova. Muito antes de Darwin, alguns filósofos naturalistas da Grécia Antiga propuseram hipóteses semelhantes às que hoje sustentam a teoria da evolução: 

  • Tales de Mileto (c. 621–543 a.C.) propôs que a água era o princípio de tudo, e que os processos naturais, e não divinos, originaram o mundo.
  •  Anaximandro (c. 610–547 a.C.), seu discípulo, acreditava que tudo se formou a partir de quatro elementos (terra, água, ar e fogo), derivados de um princípio indefinido chamado apeiron. Ele também sugeriu que os seres vivos evoluíram por transformações graduais.
  •  Empédocles (c. 492–430 a.C.) foi mais explícito: afirmou que os organismos se formaram separadamente e sobreviveram aqueles que estavam mais bem adaptados — uma ideia ancestral da chamada seleção natural.
  •  Leucipo e Demócrito (séc. V a.C.) defenderam que tudo é composto por átomos em movimento no vazio. Embora Leucipo reconhecesse ordem e necessidade (“nada acontece por acaso”), o foco da escola atomista era explicar a realidade de forma puramente material e mecânica.

 Esses pensadores lançaram as bases filosóficas do naturalismo que séculos depois seriam retomadas, secularizadas e popularizadas por Darwin.

 A lógica nos mostra que quando há design, complexidade, simetria e funcionalidade, há também inteligência por trás. A verdadeira irracionalidade está em não reconhecer o óbvio: há um Autor por trás da receita.



Obras primárias 

Platão

  1. Timeu

    • Principal obra onde Platão descreve a criação do mundo por um "demiurgo" (artesão divino), que organiza o caos conforme a razão e a ordem.

    • Tradução: Platão. Timeu, edições Loyola ou Martins Fontes.

  2. República (especialmente Livro VI e VII)

    • Aqui Platão introduz a ideia do "Bem" como causa suprema de tudo o que é bom e racional, e fala da "alma do mundo".

    • Tradução: Platão. A República, edições Nova Cultural, Vozes ou Martins Fontes.

Aristóteles

  1. Metafísica (Livros VII, VIII e XII são centrais)

    • Fala sobre o "Motor Imóvel", a causa primeira de todo movimento e ordem no universo.

    • Tradução: Aristóteles. Metafísica, edições Abril Cultural (Os Pensadores) ou Loyola.

  2. Física (especialmente Livro II)

    • Discute a ideia de finalidade (causa final) na natureza. Tudo tem um propósito — o que indica direção e design. Tradução: Aristóteles. Física, edições Abril Cultural ou Unesp.


Tales de Mileto

Tales não deixou obras escritas conhecidas, mas seus pensamentos foram preservados por autores posteriores.

  • Fonte indireta:

    • Os pré-socráticos – Giovanni Reale e Dario Antiseri (Ed. Loyola)

    • Diels & Kranz – Fragmentos dos Pré-Socráticos (edição crítica alemã traduzida em várias línguas)

    • História da Filosofia Ocidental – Bertrand Russell, Vol. 1 (L&PM ou Ediouro)

Anaximandro de Mileto

  • Obras indiretas:

    • Fragmentos em:

      • Diels & Kranz – Die Fragmente der Vorsokratiker

      • Os Pensadores – Pré-Socráticos (Ed. Abril Cultural)

      • A Origem da Filosofia – Gerd A. Bornheim (Ed. Vozes)

Empédocles de Agrigento

  • Obras (fragmentos):

    • Empédocles: On Nature and the Sacred – tradução e comentários de Brad Inwood (inglês)

    • Os Pensadores – Pré-Socráticos (Ed. Abril Cultural)

    • Giovanni Reale – História da Filosofia Antiga, Vol. 1 (Ed. Loyola)

⚛️ Leucipo e Demócrito

  • Fragmentos disponíveis em:

    • Os Pensadores – Pré-Socráticos (Abril Cultural)

    • História da Filosofia – Frederick Copleston, Vol. 1 (Ed. Paulinas)

    • Demócrito e o atomismo antigo – André Pichot (Ed. Papirus)


Obras secundárias 

Frederick Copleston – História da Filosofia, Vol. 1: Grécia e Roma

  • Excelente introdução com comentários sobre a concepção platônica e aristotélica de ordem no cosmos. Editora: Edições Paulinas.


Étienne Gilson – O Espírito da Filosofia Medieval

  • Mostra como os pensadores medievais cristãos receberam e reinterpretaram Platão e Aristóteles à luz da Criação. Editora: Martins Fontes.Edward Feser – Aristotle’s Revenge: The Metaphysical Foundations of Physical and Biological Science

  • Obra contemporânea que mostra como as ideias aristotélicas de ordem, finalidade e causa ainda sustentam o entendimento do mundo natural.

  • Editora: Editiones Scholasticae (em inglês).

Alvin Plantinga – Where the Conflict Really Lies: Science, Religion, and Naturalism 

  • Embora mais moderno e voltado ao cristianismo, Plantinga mostra como o raciocínio teleológico tem raízes antigas, inclusive em Aristóteles. Editora: Oxford University Press. 

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