segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

IDEIA ABOMINÁVEL



“1 João 2:27  E a unção que vós recebestes dele, permanece em vós, e não tendes necessidade  de que alguém vos ensine;”

               A classe pastoral é uma das mais desacreditadas nos nossos dias segundo instituto de pesquisa. Os fatores que levam a isso não foram examinados, mas temos várias possibilidades. Digo com toda tranquilidade que uma das causas responsáveis por tal descrença provém do abuso da fé promovida pelos defensores da Teologia da Prosperidade – que subleva os crentes a quererem mais do que realmente têm para receber de Deus e os leva a crer mais em homens do que no próprio Deus causando a decepção de forma generalizada com a classe. Isso também leva o crente a perceber a sede de poder e angariação de fundos para o que está além do previsto na Escritura, simplesmente para suprir a ganância destes pastores.
               Não estamos aqui para falar da prosperidade, mas do fato de os crentes agirem de forma a contestar os ensinos pastorais. Que existem muitos falsos profetas é verdade, mas colocar todos na mesma sacola? Este momento inicial serviu apenas para tratar do contexto geral do descrédito da classe pastoral.
Especificamente outro ponto que colabora para esta descrença é o que quero me deter um pouco mais: o uso indiscriminado e erroneamente interpretado do texto de 1 Jo 2.27. Veladamente muitos crentes se apoiam neste versículo, de forma isolada, para não acatarem aos ensinos trazidos pelo pastor responsável pela igreja. Subjetivamente permanece em seus corações a ideia de que o pastor é apenas um adicional a aquilo que ele, o crente, já sabe. O fato é que o crente concorda e acata ao ensino do pastor apenas naquilo que lhe é conveniente.
Todavia, para entendermos o texto em questão, veja que a realidade do grupo de crentes para os quais João escreve esta carta.  
1.      Logo no inicio do capítulo (2.7) João relembra aquilo que os seus leitores primários tinham aprendido e que agora (2.8) ele lhes ensinaria algo novo.
2.      João alerta aos irmãos de que muitos anti-Cristos estavam no meio deles (1Jo 2.18-19).
3.      João também exorta aos “filhinhos” da fé, que permanecessem naquilo que eles haviam aprendido (foram ensinados – ouviram v.24).   
Ora se no próprio contexto João exorta aos seus leitores primários a permanecer naquilo que eles foram ensinados (vs. 7,24); que ele estava ensinando algo novo (v.8); como, pois, na interpretação de alguns João estaria generalizando a negação de todo e qualquer tipo de ensino? É absurda a ideia ao próprio contexto que é claro.
A ideia também contraria outros textos da Escritura, como próprio princípio da existência de pastores e mestres na igreja ensinado por Paulo quando ele escreve: Efésios 4.11-12  “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para  evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para  edificação do corpo de Cristo...”
A interpretação errônea contraria ao Apóstolo Paulo quando ele instrui a Timóteo  lembrando que ele havia sido ensinado nas “Sagradas Escrituras” e que por isso, Timóteo deveria utilizar a Escritura para repassar o ensino, para outros: “2 Timóteo 3.14-17  Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado,  sabendo de quem o tens aprendido,  E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te  sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para  redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para  toda a boa obra.”
A mesma contrariedade desta ideia de não aceitar ensino de qualquer um acontece com dois textos de Hebreus: 13:7  Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé  dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver.  13.17  Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas  almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com  alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.”
Para entender de forma coerente o texto de I João 2.27 precisamos levar em consideração o que o povo para os quais João escreveu esta carta primeiramente entendeu quando leu: “...não é necessário que ninguém vos ensine”. A pergunta correta a se fazer é: Quem é este “ninguém”? Vimos no contexto a existência de falsos mestres e anti-cristos no meio do povo. A fim de ser coerente com o próprio texto em si e com o restante da Bíblia, a única maneira de percebermos corretamente este texto é de que João não estaria falando que este “ninguém” seria qualquer um, qualquer pastor, qualquer mestre. Mas, obviamente não seria necessário que nenhum crente aceitasse ensino de um Ninguém que fosse um falso profeta, ou um anti-cristo que estivesse no círculo social e religioso dos crentes que leram a carta de João em primeira mão. Daí a necessidade de João lembrar aquilo que eles já tinham aprendido e que apenas, agora, precisavam relembrar para rejeitar os falsos ensinos que lhes fossem dados por esses Ninguéns perniciosos, lobos em peles de cordeiro.
Rev. Júlio Pinto



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