“1 João 2:27 E a
unção que vós recebestes dele, permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine;”
A classe
pastoral é uma das mais desacreditadas nos nossos dias segundo instituto de
pesquisa. Os fatores que levam a isso não foram examinados, mas temos várias
possibilidades. Digo com toda tranquilidade que uma das causas responsáveis por
tal descrença provém do abuso da fé promovida pelos defensores da Teologia da Prosperidade
– que subleva os crentes a quererem mais do que realmente têm para receber de
Deus e os leva a crer mais em homens do que no próprio Deus causando a decepção
de forma generalizada com a classe. Isso também leva o crente a perceber a sede
de poder e angariação de fundos para o que está além do previsto na Escritura,
simplesmente para suprir a ganância destes pastores.
Não
estamos aqui para falar da prosperidade, mas do fato de os crentes agirem de
forma a contestar os ensinos pastorais. Que existem muitos falsos profetas é
verdade, mas colocar todos na mesma sacola? Este momento inicial serviu apenas
para tratar do contexto geral do descrédito da classe pastoral.
Especificamente outro ponto que
colabora para esta descrença é o que quero me deter um pouco mais: o uso
indiscriminado e erroneamente interpretado do texto de 1 Jo 2.27. Veladamente muitos crentes se
apoiam neste versículo, de forma isolada, para não acatarem aos ensinos
trazidos pelo pastor responsável pela igreja. Subjetivamente permanece em seus
corações a ideia de que o pastor é apenas um adicional a aquilo que ele, o
crente, já sabe. O fato é que o crente concorda e acata ao ensino do pastor
apenas naquilo que lhe é conveniente.
Todavia, para entendermos o texto
em questão, veja que a realidade do grupo de crentes para os quais João escreve
esta carta.
1.
Logo no inicio do capítulo (2.7) João relembra
aquilo que os seus leitores primários tinham aprendido e que agora (2.8) ele
lhes ensinaria algo novo.
2.
João alerta aos irmãos de que muitos anti-Cristos
estavam no meio deles (1Jo 2.18-19).
3.
João também exorta aos “filhinhos” da fé, que
permanecessem naquilo que eles haviam aprendido (foram ensinados – ouviram v.24).
Ora se no próprio contexto João
exorta aos seus leitores primários a permanecer naquilo que eles foram
ensinados (vs. 7,24); que ele estava ensinando algo novo (v.8); como, pois, na
interpretação de alguns João estaria generalizando a negação de todo e qualquer
tipo de ensino? É absurda a ideia ao próprio contexto que é claro.
A ideia também contraria outros textos
da Escritura, como próprio princípio da existência de pastores e mestres na igreja
ensinado por Paulo quando ele escreve: Efésios 4.11-12 “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros
para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo...”
A interpretação errônea contraria
ao Apóstolo Paulo quando ele instrui a Timóteo lembrando que ele havia sido ensinado nas “Sagradas
Escrituras” e que por isso, Timóteo deveria utilizar a Escritura para repassar
o ensino, para outros: “2 Timóteo 3.14-17
Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste
inteirado, sabendo de quem o tens
aprendido, E que desde a tua meninice
sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em
Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para
ensinar, para redargüir, para corrigir,
para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e
perfeitamente instruído para toda a boa
obra.”
A mesma contrariedade desta ideia
de não aceitar ensino de qualquer um acontece com dois textos de Hebreus: 13:7 Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram
a palavra de Deus, a fé dos quais
imitai, atentando para a sua maneira de viver.
13.17 Obedecei a vossos pastores,
e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas
almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos
seria útil.”
Para entender de forma coerente o
texto de I João 2.27 precisamos levar em consideração o que o povo para os
quais João escreveu esta carta primeiramente entendeu quando leu: “...não é
necessário que ninguém vos ensine”. A pergunta correta a se fazer é: Quem é
este “ninguém”? Vimos no contexto a existência de falsos mestres e anti-cristos
no meio do povo. A fim de ser coerente com o próprio texto em si e com o
restante da Bíblia, a única maneira de percebermos corretamente este texto é de
que João não estaria falando que este “ninguém” seria qualquer um, qualquer
pastor, qualquer mestre. Mas, obviamente não seria necessário que nenhum crente
aceitasse ensino de um Ninguém que fosse um falso profeta, ou um anti-cristo
que estivesse no círculo social e religioso dos crentes que leram a carta de
João em primeira mão. Daí a necessidade de João lembrar aquilo que eles já
tinham aprendido e que apenas, agora, precisavam relembrar para rejeitar os
falsos ensinos que lhes fossem dados por esses Ninguéns perniciosos, lobos em
peles de cordeiro.
Rev. Júlio Pinto
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