domingo, 7 de setembro de 2025

Por que “o Filho do Homem é o Senhor do sábado”? (Mt 12.8)

     Os leitores mais atentos perceberam que a afirmação que Cristo fez foi transformada em pergunta no título desse texto. O motivo é questionarmos exatamente o que significa a afirmação que Cristo fez. A resposta a isso tem implicações diretas com os extremos vistos tanto no meio evangélico quanto no contexto de seitas no que diz respeito ao quarto mandamento.

    De um lado temos os sabatistas que enfatizam o dia de sábado como sendo o dia correto para se ter a reunião solene. Por outro lado, temos um setor evangélico que afirma não ter um dia específico para isso.

    Podemos começar levantando a dúvida se o Shabbath, conforme traduzido em muitas línguas por “sábado”, de fato se concretiza especificamente no nosso calendário como o sétimo dia da semana. Também podemos fazer o mesmo se o Shabbath, determinado no Quarto Mandamento, não encontra respaldo para que a igreja o guarde nos nossos dias.

    Perceba que existe uma tensão entre os dois argumentos; são extremos. É para manter o Shabbath no sábado, ou a partir de Cristo o Quarto Mandamento deixou de ser válido?

 

A definição de Shabbath.

    A palavra Shabbath, literalmente, não se refere a um dia específico da semana que, hoje, chamamos de sábado. A tradução literal de Shabbath é “descanso”.  O termo sábado é tão somente a transliteração do termo שַׁבָּת Shabbath, dos caracteres hebraicos, para outras línguas. Mas sua tradução consiste em “Descanso”. A palavra שַׁבָּת (shabbāth) vem do verbo hebraico שָׁבַת (shābath), que significa literalmente: "cessar, parar, descansar, interromper uma atividade

    O quarto mandamento, de fato, não se refere a um dia, mas a um princípio: o princípio de um período de descanso a cada seis períodos trabalhados.

    O respaldo dessa afirmação está em várias passagens do Antigo Testamento. Veja a ordem em Êxodo 35:2: “Trabalhareis seis dias, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso solene ao SENHOR; quem nele trabalhar morrerá.

    O princípio de se trabalhar o período de seis dias e descansar um é plenamente visto aqui, e não há definição plena no texto de que esse dia do Shabbath (descanso) se aplica a um determinado dia específico da semana.

    Em Levítico 25:2-4, esse mesmo princípio do Shabbath (descanso) é aplicado de forma plena e nominal, não a um dia específico, mas ao período de um ano. “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra, que vos dou, então, a terra guardará um sábado ao SENHOR. Seis anos semearás o teu campo, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos. Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao SENHOR; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha.

    Sem mais nem mas, o termo descanso, “Shabbath”, não significa um dia específico que conhecemos como sábado. O que se vê claramente aqui é que ele se trata de um princípio onde se deve resguardar um período de descanso a cada seis períodos trabalhados. E isso era válido tanto para o trabalho dos homens quanto para o trabalho da terra.

    Desta maneira, precisamos ter claro em nossa mente o sentido real do termo quando lemos: “Guarda o dia de sábado para o santificar”. Deus está, literalmente ordenando: “Guarda o dia de descanso para o santificar”. Deus está ordenando o princípio do descanso, e não um dia específico.

    Daqui podemos entender o motivo pelo qual se gera um certo desconforto entre as palavras e as atitudes de Jesus. Justamente por não entenderem o princípio do descanso, os fariseus acusaram Jesus e seus discípulos de quebrarem o quarto mandamento. Pois, para eles, se tratava de um dia específico que se passou a ser chamado de sábado.

    Cristo, em várias ocasiões afirmou que Ele não teria vindo para desfazer as Leis de Moisés, mas para cumprí-las. Se, de fato, o Shabath significa um dia específico da semana, Cristo o quebrou em várias ocasiões. Não é à toa que os fariseus tentaram matá-lo por isso, pois assim eles entendiam o sábado.

    Contudo, Jesus, de fato, não quebrou o quarto mandamento quando ele curou no “sábado”, ou permitiu e anuiu aos seus discípulos que colhessem do fruto da terra em dia de “sábado”. A consistência de Jesus estava em conhecer a natureza do Shabath como o princípio do descanso e não como um dia específico.


  A perenidade do descanso

 Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações.” Êxodo 31:16

    Desse texto temos três ensinos que podemos extrair. Primeiramente do que vimos ao final do último argumento, de que Cristo cumpriu o quarto mandamento, não em guardar um dia específico da semana, mas em guardar o princípio do Shabbath, o descanso. E, em segundo lugar, de que o Shabath nunca teria fim, é “perpétuo”. O terceiro ensino é que a ordem trazida por meio de Moisés teve um início, e esse início não foi historicamente no Éden.

    Desse segundo ensino, direcionamos exatamente contra aqueles que afirmam que, hoje, não temos obrigação de guardar um dia específico para a adoração. Se não se trata de um dia específico, mas um princípio, e esse princípio é “perpétuo” então não podemos afirmar que esse princípio tenha sido anulado por Cristo ao fazer a afirmação de que Ele “... é o Senhor do sábado...”; afinal de contas Ele diz: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.” (Mateus 5:17).

    Sobre o terceiro ensino devemos lembrar que Moisés é o autor de Gênesis, não foi Adão. O que Moisés escreveu, sob inspiração do Espírito Santo, é decorrente da revelação de Deus, no monte Sinai depois da saída do Egito, e não do que Adão e Eva ou seus descendentes já conheciam e guardavam desde a criação.

    Neemias, ao retornar do exílio Babilônico, escreveu: “O teu santo sábado lhes fizeste conhecer; preceitos, estatutos e lei, por intermédio de Moisés, teu servo, lhes mandaste.” (Neemias 9:14). Ele está claramente afirmando que o shabbath só passou a ser conhecido ao povo israelita que saía do Egito, por meio de Moisés e que, portanto, não era conhecido daqueles que vieram antes de Israel. 

    Tal preceito é contrastante no que diz respeito ao dízimo, que é atemporal em relação à Lei. O argumento sobre isso é o contrário do argumento relativo ao sábado, mas é notório quando vemos Abraão dar o dízimo a Melquisedeque; ou quando vemos Jacó afirmar, enquanto fugia de seu irmão, que seria dizimista, e isso antes de Moisés trazer a revelação da lei acerca do dízimo. Já o princípio do Shabath, tendo sido revelado por meio de Moisés, instituiu que fosse, pelos judeus, guardado temporariamente no sétimo dia da semana, resguardando o princípio perene do Shabath.

 

"A guarda do domingo é a marca da besta"

Essa é uma afirmação feita por Ellen White em seus escritos, como em “O Grande Conflito” (1888/1911) no capítulo 25 (“A Lei Imutável de Deus”) e também no capítulo 36 (“O Fim do Conflito”).  Ellen não tinha conhecimento de línguas originais, nem teve uma formação teológica, mas afirmou reiteradamente ter recebido revelações extrabíblicas.

    Ellen G. White afirmou repetidamente que suas mensagens não vinham de si mesma, mas de visões, sonhos e revelações angelicais. Ela usa expressões como “um anjo me mostrou” ou “fui arrebatada em visão”. Isso aparece em várias de suas obras mais antigas e também nas posteriores.

 Alguns exemplos diretos:

 “Primeiros Escritos” (1851, ampliado em 1882). Logo no início, ela descreve sua primeira visão (dezembro de 1844), dizendo: “Enquanto orava no altar da família, o Espírito Santo veio sobre mim, e parecia que eu estava subindo mais e mais alto, muito acima do mundo escuro. Voltei-me para olhar pela Terra e procurei o povo adventista, mas não o encontrei. Então uma voz me disse: ‘Olha outra vez, e olha um pouco mais alto’...”

Aqui ela fala claramente de revelação sobrenatural. “Testemunhos para a Igreja”, vol. 1–9. Diversas vezes ela escreve: “Fui em visão levada à presença de Deus”, “um anjo me disse”, ou “fui instruída pelo Senhor”.

Exemplo: no Testemunhos, vol. 1, p. 62, ela afirma: “Deus tem-me dado luz sobre o futuro, através de sonhos e visões da noite.”

“O Grande Conflito” (edições de 1884, 1888, 1911). Embora o tom seja mais histórico e expositivo, ela afirma que muito do que escreve veio de “visões que me foram dadas”.

“Vida e Ensinos” / “Minha Vida Hoje” (compilações posteriores). Reúnem trechos em que ela se refere a instruções recebidas por anjos.

    Certamente, Ellen G. White entendia seus escritos como sendo inspirados diretamente pelo Espírito Santo. Essa perspectiva é corroborada por diversos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia que reconhecem nela o dom profético. Abaixo, apresento duas citações que refletem essa visão:

“Somos testemunhas de como a Igreja tem sido abençoada e guiada por Deus através do conselho inspirado de Sua mensageira [Ellen G. White]… Reconhecemos em Ellen G. White o dom de profecia e afirmamos que, quando este dom é valorizado e sua instrução atendida, a Igreja prospera…” https://defendendoafe.com.br/citacoes-sobre-ellen-g-white-de-fontes-adventistas/?utm_  

“A razão de não haver mais profundo fervor religioso, nem mais ardente amor uns pelos outros na igreja, é que o espírito missionário vem-se extinguindo.”

https://ellenwhite.cpb.com.br/livro/index/24/126/131/o-verdadeiro-espirito-missionario?utm

    Essas citações evidenciam a crença de que os escritos de Ellen G. White são considerados por seus seguidores como instruções inspiradas diretamente por Deus, desempenhando um papel fundamental na orientação espiritual e no fortalecimento da fé da comunidade adventista.

 

Profecias hoje?

    Primeiramente, precisamos entender que as profecias e revelações foram encerradas com o período apostólico. Paulo afirma categoricamente em 1 Coríntios 13, contrastando a perenidade do amor com os dons transitórios, temporários da igreja: línguas e profecias, revelações (conhecimento). Tais dons tinham o propósito específico de perdurarem até que a revelação completa, suficiente e inerrante da Escritura estivesse encerrada: "o perfeito”. Então aquilo que era conhecido em parte “a Escritura” deixaria sua imperfeição, no sentido de completude (até então somente o AT estava escrito) para que alcançasse a perfeição: Gênesis até Apocalipse. Tais dons ainda persistiriam um tempo na igreja pois, era através deles que a Escritura estava sendo escrita pela inspiração do Espírito Santo debaixo da autoridade apostólica.

    Judas declara: “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.” (Judas 1:3). Essa “fé... entregue de uma vez por todas” diz respeito a todo ensino deixado por Cristo e entregue pelos apóstolos. Tudo o que é necessário para que o eleito seja convertido (Ef 1.13) e, tudo para que o Cristão viva em santificação (2Tm 3.15-17).

    Por isso, Paulo ao escrever aos gálatas afirma que qualquer revelação diferente daquilo que eles deixaram para a igreja, deve ser considerada uma maldição. É das próprias palavras de Ellen em seus escritos que, ela mesma, se enquadrou nessa maldição descrita por Paulo. “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gálatas 1.8)

    Ellen, ao sugerir que a guarda do domingo ao invés do sábado seria a marca da besta, estava considerando “teologicamente” apesar de não ter formação para isso, duas questões: O decreto de Constantino e um reforço posterior pela igreja romana.

    O primeiro decreto civil sobre o domingo não veio de um papa, mas do imperador Constantino, em 7 de março de 321 d.C.. Ele determinou que o “venerável dia do Sol” fosse observado como dia de descanso em todo o império romano, excetuando-se os trabalhos agrícolas. Esse foi um edito imperial, não papal e tratou-se de um decreto civil e não eclesiástico.

    Para Ellen, a igreja de Roma, gradualmente, reforçou a prática. Seu fundamento está no Concílio de Laodiceia (por volta de 363–364 d.C.) quando decretou no cânon 29 que os cristãos não deviam “judaizar” guardando o sábado, mas deviam trabalhar nesse dia e honrar o domingo. Os bispos de Roma (que mais tarde seriam chamados papas) apoiaram e ampliaram esse costume, mas o início concreto veio de Constantino.

    Como lhe faltava conhecimento bíblico e julgava suas “revelações extra-bíblicas” superiores à da Escritura, o entendimento pessoal de Ellen acerca do Shabath foi transmitido aos seus discípulos dessa maneira. Aos seus adeptos lhes cabe procurar fazer conforme de Bereia: examinar as escrituras para ver se, de fato, as coisas eram assim.

 

A permanência do princípio nas duas Alianças.

     O parco entendimento bíblico e teológico de Ellen fez com que fossem suprimidas informações históricas relevantes para essa questão. O mesmo se dá para aqueles que abandonaram completamente a guarda do Shabbath nos dias de hoje dizendo eles que Cristo o aboliu. Neste seguimento, vamos tratar primeiramente de escritos históricos, ou seja, não canônicos, mas anteriores a Constantino e já de conhecimento da igreja apostólica e primitiva. Posteriormente iremos tratar do princípio resguardado pelos apóstolos e pela igreja de seu tempo.

    Já no século II aparecem testemunhos sobre a prática dominical. O nome que mais se destaca é Justino Mártir (c. 100–165 d.C.). No seu escrito “Primeira Apologia”, capítulo 67, ele explica o culto cristão e menciona o domingo: ele diz que os cristãos se reuniam “no dia chamado do Sol” (dies solis). Ele justifica a prática dizendo que foi o dia em que Deus começou a criar o mundo e também o dia em que Jesus ressuscitou dos mortos. A reunião incluía leitura dos escritos dos apóstolos e profetas, instrução, oração em comum, e depois a celebração da Ceia do Senhor.

    Em resumo, Justino não fala de um mandamento bíblico para a guarda do domingo, mas descreve o costume já presente entre comunidades cristãs de Roma no século II, associando-o à ressurreição e à criação.

 Outros Pais da Igreja também falam sobre o domingo, mas em termos um pouco diferentes:

 ·        Inácio de Antioquia (c. 110 d.C.), em sua Epístola aos Magnésios, cap. 9, fala do “dia do Senhor” como tempo de viver segundo Cristo, em contraste com o sábado judaico.

·        Barnabé (na chamada Epístola de Barnabé, c. 130 d.C.) diz que o “oitavo dia” é o dia em que Cristo ressuscitou, visto como dia de alegria.

     Há, também, um documento muito anterior aos pais da igreja que já mencionava o domingo, conforme definido em Apocalipse 1:10: “Achei-me em espírito, no dia do Senhor...”, A Didachê (Instrução dos Doze Apóstolos), um escrito cristão do final do século I, é um dos documentos mais antigos fora do Novo Testamento.

    No capítulo 14, esse documento trata especificamente da assembleia cristã e menciona o “dia do Senhor” (κυριακὴ ἡμέρα). O texto diz:

“No dia do Senhor, reuní-vos, parti o pão e dai graças, depois de ter confessado os vossos pecados, para que o vosso sacrifício seja puro. Todo aquele que tiver algum conflito com o irmão não se junte convosco até que estejam reconciliados, para que o vosso sacrifício não seja profanado. Pois este é o sacrifício do qual o Senhor disse: ‘Em todo lugar e tempo oferecer-me-ão um sacrifício puro, porque sou um grande Rei, diz o Senhor, e o meu nome é admirável entre as nações’ (Malaquias 1:11,14).”

    O que vemos aqui é que a Didachê fala em “dia do Senhor” como o momento de reunião, e a prática é partir o pão (Ceia) e dar graças (oração eucarística). Não entra em debates sobre o sábado nem apresenta um mandamento de “guardar” o domingo como substituição. No documento, o domingo como sendo o “Dia do Senhor” é algo natural. O foco é no culto comunitário, reconciliação e pureza antes da Ceia.

    Ou seja: já no fim do século I, a expressão “dia do Senhor” estava ligada ao domingo (dia da ressurreição), mas em tom de prática litúrgica, não como lei cerimonial guardada pelos judeus em detrimento do princípio eterno do Shabath.

 

O texto bíblico de Apocalipse 1.10

 João escreve:  ἐγενόμην ἐν πνεύματι ἐν τῇ κυριακῇ ἡμέρᾳ - Transliterando temos: egenómen en pneumati en tē kyriakē hēmera

Literalmente é: “Achei-me em espírito no dia do Senhor.”

Aqui, κυριακῇ ἡμέρᾳ (kyriakē hēmera) significa “dia pertencente ao Senhor”.

Na tradução latina desse texto, que é chamada de Vulgata escrita por de Jerônimo (séc. IV), a frase foi traduzida:  fui in spiritu in dominica die

dominica die = “dia do Senhor”.

O adjetivo dominicus vem de dominus (senhor).

Esse dominica (dies) começou a ser usado como designação técnica para o domingo.

     O desenvolvimento linguístico deu origem ao termo “domingo”. No latim vulgar, a expressão dies dominica (dia do Senhor) se simplificou para apenas dominica. Das línguas românicas saíram formas como:

·        Português: domingo

·        Espanhol: domingo

·        Italiano: domenica

·        Francês antigo: demenche → dimanche

·        Romeno: duminică

 

    Portanto, o nosso “domingo” deriva diretamente da expressão de Apocalipse 1.10 na tradução latina, que preservou o adjetivo “dominicus” como marcador do dia semanal ligado ao Senhor.

     Observando a história é interessante notar que, em grego, João não criou um termo novo, apenas usou “dia do Senhor”. Em latim, a Vulgata acabou fixando a palavra que geraria o nome do dia. Enquanto os povos germânicos (ex.: inglês Sunday, alemão Sonntag) mantiveram a antiga raiz pagã (“dia do sol”), as línguas latinas herdaram o termo cristão: dies dominica - domingo.

    Em resumo: a expressão κυριακὴ ἡμέρα de Apocalipse 1.10, traduzida por Jerônimo como dominica die, foi absorvida pelo uso litúrgico cristão e acabou se tornando o próprio nome do primeiro dia da semana nas línguas românicas, o nosso domingo.


 "O domingo tem origem pagã"

    No contexto bíblico e da prática apostólica, essa mudança de nome reflete também a transição da observância do Shabbath judaico para o dia em que a igreja se reunia para o culto e a ceia, mostrando que o princípio do descanso e da consagração não dependia de um nome específico.

    O sábado também possui uma origem ligada a uma divindade pagã. Em inglês, o sábado é chamado de Saturday, em alemão Samstag (ou Sonnabend, em algumas regiões). Saturday vem do latim dies Saturni, literalmente “dia de Saturno”, o deus romano da agricultura e do tempo. Assim como o domingo (“dies solis”) homenageava o Sol, o sábado romano homenageava Saturno.

    Originalmente, no calendário romano, cada dia da semana era associado a um corpo celeste e à divindade correspondente: Sol (domingo), Lua (segunda), Marte (terça), Mercúrio (quarta), Júpiter (quinta), Vênus (sexta) e Saturno (sábado).

    Quando os germânicos receberam essa semana de sete dias dos romanos, mantiveram os nomes, mas adaptaram a maioria aos seus próprios deuses, com exceção de Saturday, que preservou o nome de Saturno.


 Quando, de fato, ocorreu a mudança do dia de sábado para o domingo

     Apesar da afirmação de Ellen acerca da guarda do domingo se tratar de um sinal da Besta, sua fala, como já dito, se baseou na sua falta de conhecimento bíblico, teológico e histórico.

    Antes de falarmos da mudança vista na Escritura, precisamos tratar um pouco sobre formulação de doutrinas. Uma doutrina para ser bíblica precisa estar embasada diretamente em um texto bíblico, mas não de forma isolada, e sim em todo o contexto bíblico. Não necessariamente precisamos ter uma ordem explícita e direta, mas a partir de exemplos práticos, embasados no contexto bíblico, a doutrina pode e deve ser estabelecida.

   Certamente, ocorreu uma mudança na prática apostólica e da igreja neotestamentária com respeito ao dia do descanso. Não há um texto específico no Novo Testamento dizendo algo do tipo: “Agora o dia a ser guardado é o domingo, e não mais o sábado”. E por que não há tal ordem explícita? Não há essa ordem explícita porque o Quarto Mandamento nunca especificou um dia da semana, mas um princípio, o Shabbath – literalmente descanso. Esse princípio permaneceu intacto no Novo Testamento e os apóstolos, bem como a igreja primitiva, viveram e praticaram esse princípio perene.  

    O Novo Testamento já afirmou a mudança da prática dos apóstolos em não mais guardar o dia do Shabbath (descanso) no dia da semana que conhecemos por sábado, último dia da semana. A prática apostólica já demonstrou que a igreja daquele tempo já havia passado a guardar o domingo. Entretanto, como já vimos, a palavra domingo passou a ser usada bem posteriormente a Jerônimo com sua versão da Vulgata.  

    Em dois momentos distintos no Novo Testamento, o apóstolo Paulo fala do “primeiro dia da semana”, que é o nosso domingo, como sendo o dia em que eles se reuniam para: ouvir a pregação, cear e trazer as ofertas; ou seja, cultuar ao Senhor.

    Em Atos 20.7, lemos: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite.”. É notório que as palavras: “primeiro dia da semana” é uma referência ao dia em que hoje conhecemos por domingo.

    O mesmo se dá quando Paulo escreve à igreja de Corinto em 1 Coríntios 16:2: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for”. A pergunta é, por que no “primeiro dia da semana”?  A resposta é clara e objetiva, porque a igreja se reunia no “primeiro dia da semana”, domingo.

    É por esse motivo que Paulo, quando escreve aos Colossenses, enquadra o sábado judaico não como um sábado profanado, mas o inclui nas leis cerimoniais e o exclui do princípio eterno do descanso. Ele assim diz: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; ...” (Colossenses 2:16).

    Alegar que esse sábado, dito por Paulo, é um sábado profanado é fechar os olhos para o contexto do próprio versículo, para o seguinte e para o contexto da Lei que Paulo resgatou no texto. Paulo fala sobre um conjunto de coisas similares: “...comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados”. Todas estas coisas, diz ele: “eram sombra”. Essa afirmação aponta para algo que existia em comum com todas estas coisas. Paulo está falando do conjunto cerimonial entregue e praticado pelos judeus e que era aceito como prática ordenada por Deus aos Israelitas. E, se os sábados ditos aqui fossem sábados profanados, o mesmo se deveria dizer da "...comida, bebida, festas, lua nova...”.

    O autor de Hebreus fala da Lei cerimonial como sombra no mesmo sentido de Paulo: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10.1). Em momento algum no Antigo ou Novo Testamento, a Lei, fossem os sacrifícios, festas, lua nova ou os sábados, poderia ou pode “tornar perfeitos os ofertantes”. A razão disso é que se tratavam de mero cerimonialismo judaico que apontava para a obra suficiente de Cristo, o Senhor. Voltar ao cerimonialismo é desprezar a suficiência da obra de Cristo, é desprezar a afirmação restante de Paulo em Colossenses 2.17: “porém o corpo é de Cristo.

    Ao dispor lado a lado “dia de festa, ou lua nova, ou sábados”, Paulo está evocando o cerimonialismo descrito em múltiplos textos do AT, como em Levítico 23.1-44. Quero me deter apenas ao que Moisés apontou sobre quais seriam estas festas: “Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas.

    Veja que não há uma descrição nesse versículo sobre quais seriam estas festas, mas ele passa a descrever nos versículos seguintes, do 3 ao 44. A primeira festa é definida no versículo 3: “o Sábado”. As outras são descritas posteriormente: a Páscoa, as Primícias, o Pentecostes, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos.

    Também precisamos observar que Paulo utiliza um plural: “sábados” ao invés de sábado, como visto singularmente no Quarto Mandamento. Ao contrário do princípio do Shabbath que é único – descanso – a aplicação desse descanso era visto de forma múltipla, plural no AT, como já tratamos, por exemplo, do sábado que deveria ser guardado pela terra. Naquele contexto a terra não poderia ser cultivada no sétimo ano, após um período de seis trabalhados. Daí a designação de sábados, usada por Paulo por se tratar de variadas aplicações do princípio do descanso em situações diversas.


 A guarda do domingo partiu da autonomia dos apóstolos?  

     A autoridade apostólica não residia nos apóstolos em si mesmos. Paulo deixa claro que sua competência e poder para ministrar não vinham de mérito próprio, mas eram delegados por Cristo e sustentados pelo Espírito Santo. Ele mesmo afirma:

 

·        2 Coríntios 3.5 “Não que sejamos competentes por nós mesmos para pensar algo como vindo de nós mesmos, mas a nossa competência vem de Deus.”

·        2 Coríntios 10.8 “Pois, se ousamos nos gloriar, não é para vos humilhar, mas para trazer à vossa lembrança a medida da autoridade que Deus nos deu para edificar, e não para vos destruir.

·        1 Coríntios 2.4-5 “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.

 

    Portanto, qualquer autoridade apostólica não dependia da pessoa em si, mas era fruto da delegação de Cristo para que a obra da evangelização e edificação da igreja fosse conduzida segundo a vontade e poder de Deus.

    Ao falar desse ponto, alguns argumentam que os apóstolos guardavam o “sábado”, conforme o judaísmo, baseando-se em quatro textos de Atos: 13.14, 13:42; 13:44 e 16:13. Apesar de serem referências distintas de idas dos apóstolos à sinagogas em dia de sábado, não podemos ser inocentes em afirmar que eles estariam guardando o sábado judaico nessas ocasiões.

    Nessa afirmação que fazem, dizem que os apóstolos iam às sinagogas cultuar conforme a prescrição do Quarto Mandamento. Trata-se, aqui, de um argumento vazio, desprovido de fundamento teológico e bíblico.

    Teologicamente, os apóstolos não tinham nenhuma razão para cultuar a Deus em uma sinagoga juntamente com ímpios. Sim, todo aquele que não recebeu e não confessou a Cristo como Senhor e não admite sua ressurreição a Palavra o descarta como crente, mas o define como ímpio.

    Reiteradamente, Cristo tratou a judeus com ímpios, não de forma generalizada, mas apenas aqueles que não criam no Seu nome. “Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus... 43 Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.” (Mateus 21:31,43). Outros textos asseveram o mesmo:

·        João 3:18 “Quem nele crê não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não creu no nome do unigênito Filho de Deus.

 ·        João 3:36 “Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem, porém, não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.

 ·        João 8:24 “Por isso vos disse que morrereis nos vossos pecados; se não crereis que eu sou, certamente morrereis nos vossos pecados.

     Embora os judeus nas sinagogas, vistos em Atos, buscassem cumprir a Lei de Moisés, eram ímpios; justamente pelo fato de não crerem no nome de Cristo. A pergunta relevante é:  Por qual motivo os apóstolos iriam a uma sinagoga cultuar juntamente com ímpios? De certo não iam com motivação de cultuar.  

    Biblicamente, eles tinham um propósito em mente que havia sido determinado por Cristo logo após sua ressurreição: “...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:8). O propósito, não era cultuar, mas divulgar o evangelho primeiramente no contexto judaico. Eles iam à sinagoga em dia de sábado como uma estratégia evangelística. Os apóstolos, por serem judeus, sabiam que o dia de culto guardado por aqueles que ainda não conheciam o evangelho, era o sábado e num lugar específico, a sinagoga.

    Mas, então, de onde os apóstolos tiraram a ideia de mudar o dia de culto, o dia da Assembleia Solene do sábado para o domingo? De uma nova revelação? Claro que não, se bem que tinham autoridade para isso se nada mais pudéssemos dizer acerca desse assunto. Mas não é a questão. Foi tanto da afirmação quanto da  prática de Cristo. Da afirmação quando disse: “o Filho do Homem é o Senhor do sábado”. Mas, e a prática?

    Para falarmos da prática de Cristo não estamos, nesse momento, nos referindo às vezes em que Cristo profanou o sábado segundo a avaliação dos fariseus. “O Filho do Homem é Senhor do sábado...” aponta para Cristo como autoridade final do sábado. Com esta afirmação, literalmente, Cristo está se sobrepondo ao estabelecimento do Shabath no Quarto Mandamento. Cristo está afirmando: “O Filho do Homem é Senhor do Shabbath”. O Shabbath é fundamentado na autoridade de Cristo e não num dia específico da semana dado no contexto judaico.

    Tendo enfatizado isso, Cristo, de fato, alterou o dia do Shabbath. Cristo, com sua prática, estabeleceu novo dia de culto não apenas nos momentos em que Ele foi rechaçado pelos judeus, mas em prática vista após a sua morte e ressurreição. Na última ceia Cristo fez uma afirmação relevante sobre isso.

E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.” (Lucas 22:15-16).

    Duas questões interessantes, uma delas pertinente ao nosso tema. A primeira, não tão pertinente, é o fato de a Páscoa judaica ser guardada no dia 14 do mês de Nisã, segundo o calendário hebraico, que corresponde à véspera da Páscoa (ou “Pré-Páscoa”), antes do início do pão ázimo (Êxodo 12:6, 18). O dia 14 de Nisã não correspondia, necessariamente, a um dia fixo da semana (domingo, sexta, etc.), porque o calendário judaico era lunar.

    A celebração incluía o sacrifício do cordeiro pascal ao entardecer e a refeição ritual com pão sem fermento. A festa se estendia depois com os sete dias de pães ázimos (Êxodo 12:15-20). No contexto do Novo Testamento, isso significa que a crucificação de Jesus coincidiu com o 14 de Nisã, a véspera da Páscoa, que naquele ano caiu na sexta-feira, segundo o relato nos evangelhos sinóticos.

    No texto de Lucas, Cristo afirma que a Ceia somente seria celebrada novamente quando o Reino de Deus já tivesse sido estabelecido: “nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.”. E, quando de fato isso aconteceu? Quero ir um pouco além do argumento de que os apóstolos passaram a guardar o domingo como sendo o Shabbath cristão por ter sido o dia da ressurreição de Cristo, observando os acontecimentos daquele dia. Aqui, abrimos um parênteses para falar sobre uma teoria, extrabíblica, sobre um Reino futuro de Cristo, milenar. Ao contrário dessa teoria, o Reino se estabeleceu quando essas palavras de Cristo se cumpriram. 

    Lucas, ao escrever sobre o dia da ressurreição de Cristo, afirmou: “Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios.” (Lucas 24:13). Quando ele diz, “Naquele mesmo dia,” Lucas se refere ao dia em que ele havia mencionado em Lucas 24:1: “...no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo...”. Está claro aqui a fala de Lucas: “primeiro dia da semana” portanto era domingo.

    No caminhar juntos aos discípulos em direção a Emaús, Cristo fez menção de não seguir com eles, mas eles insistiram e o que vemos é a prática de Cristo determinando um dia.

 “E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles . E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?... 35 Então, os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão.” (Lucas 24.27-32, 35).

    Naquele dia, Cristo pregou a Palavra (expôs a Escritura) e realizou a ceia (o partir do pão) com os discípulos. Nesse mesmo dia, cumpriu-se a Palavra de Cristo dada na última ceia. O Reino estava estabelecido e a Igreja, que teve como seu protótipo a nação de Israel, ali  teria seu início. Na prática, Cristo mostrou que, de fato, o Filho do Homem é o Senhor do sábado. Por isso o domingo passou a ser conhecido e chamado de “Dia do Senhor”,  pois repousa na autoridade de Cristo, e não na caducidade da Lei cerimonial.

 

Conclusão: o Shabath e o Domingo como princípio eterno

     O Shabath não é, nem nunca foi, um “dia” nomeado; trata-se de um princípio eterno instituído por Deus: trabalhar seis períodos e descansar no sétimo. Esse padrão se manifesta em qualquer contexto cultural ou histórico, e sua essência depende de como Cristo, como Senhor do Shabath, o estabeleceu através de Sua fala e prática.

    O exemplo do descanso da terra (Êxodo 23:10-11; Levítico 25:2-4) mostra que o sábado não é apenas um ritual religioso, mas um princípio de ordem divina aplicado à criação. Os ciclos de trabalho e descanso garantem sustento, cuidado e manutenção da vida. Assim, o descanso humano semanal é um reflexo microcósmico desse princípio cósmico, que transcende calendários, nomes ou culturas.

    Enquanto o domingo ou “dies dominica” recebeu um nome cristianizado em algumas línguas, e Saturday manteve sua raiz romana, o Shabath bíblico permanece inalterável em sua função e significado. É descanso ordenado por Deus, não costume cultural; e Cristo determinou que fosse celebrado no domingo, com Seu ensino e prática. Os apóstolos e a igreja primitiva entenderam e acataram esse princípio, guardando o domingo para culto, Ceia e pregação da Palavra.

 Portanto, ao analisar o sábado, a língua ou o nome são secundários; o que é perene é o princípio do descanso e da consagração do sétimo dia após seis dias trabalhados. Este princípio permite que o Shabath seja um sinal de aliança e da ordem divina, como se lê em:

·        Gênesis 2: Deus descansou após a criação, estabelecendo o padrão do Shabbath.

·        Êxodo 31:13-17: O Shabath é um sinal perpétuo entre Deus e Seu povo, lembrando-os de que Ele é o Senhor.

·        Colossenses 2:16-17: O descanso do Shabbath é sombra das coisas vindouras; Cristo é a realidade plena.

 

Em síntese:

·        O Shabath é princípio eterno, não limitado a um dia da semana.

·        Cristo, como Senhor do Shabbath, estabeleceu a prática do descanso no domingo, integrando culto, Ceia e ensino da Palavra.

·        A igreja primitiva seguiu esse princípio, não por costume cultural ou imposição legalista, mas pela autoridade de Cristo e pela prática dos apóstolos.

·        O nome ou idioma é irrelevante; o que importa é o propósito divino do descanso e da consagração, perpetuado na história da igreja como manifestação do Shabbath.

 

    O domingo, portanto, não é um “dia de lazer” ou um costume histórico; tao pouco o homem está livre de qualquer obrigação pactual, cultual; ele é a continuação viva do Shabath, um sinal da ordem divina e da aliança de Deus com Seu povo, cumprido plenamente em Cristo e celebrado com fé e obediência na igreja.

    Com tudo isso, o perfeito Shabbath ainda não se consumou. O sábado estava para o israelita, assim como o domingo está para a igreja. Nesses dois contextos jazem imperfeições devido à presença do pecado. Da mesma forma que os judeus lutavam por cumprir o Shabbath no sábado, nós hoje lutamos por cumprir o mesmo Shabbath no domingo. Essa perfeição só se tornará realidade no Dia Eterno, o eterno Shabbath quando finalmente estaremos juntos com o "Filho do Homem, o Senhor do Sábado" conforme dito pelo autor de Hebreus: "Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia. Portanto, resta um repouso para o povo de Deus." (Hebreus 4:8-9)