Desde os primórdios da igreja, a rebeldia interna sempre se manifestou de formas sutis e, por vezes, escancaradas. A Escritura, ao narrar a história do povo de Deus, já demonstra que aqueles inclinados à subversão e ao desvio do caminho ordenado por Deus não surgiram apenas como adversários externos, mas como perturbadores no próprio seio do povo escolhido. Moisés advertiu: “Não perverterás o juízo do estrangeiro, nem do órfão; nem tomarás em depósito o manto da viúva” (Dt 24:17), mostrando que a obediência a Deus e o temor santo não são apenas regras exteriores, mas defesa contra a corrupção interna, que sempre se aproveita da fragilidade do coração humano.
A chamada “esquerda” dentro da igreja, entendida aqui como
uma tendência de rebeldia contínua e de subversão às autoridades ordenadas por
Deus, nunca foi novidade. Ainda no Antigo Testamento, vemos grupos que, embora
professassem servir ao Senhor, introduziam práticas estranhas, questionavam a
liderança legítima e distorciam os preceitos da aliança para satisfazer seus
desejos. Profetas como Amós e Isaías denunciaram repetidamente os que “removem
os limites antigos” (Am 7:17) e que “trazem o jugo desigual sobre o povo”
(Is 10:1-2). Essa tendência, portanto, não é apenas uma questão política ou
social, mas uma condição espiritual do coração humano inclinado à autonomia e à
contestação.
Nos tempos do Novo Testamento, o próprio Senhor advertiu
contra aqueles que, embora se autodenominassem irmãos, “vendem a liberdade
de Cristo por um jugo de servidão” (Gl 2:4-5) Paulo falava dos vários
momentos em que Cristo há havia advertido. Jesus repreendeu os fariseus, que
eram líderes e guardiões da Lei, pelo fato de elevarem suas tradições acima da
Palavra de Deus e por desconsiderarem a autoridade legítima estabelecida,
mostrando que o perigo de uma esquerda espiritual sempre habita dentro da
própria comunidade de fé. Esta esquerda não se manifesta necessariamente em
alianças políticas, mas compartilha com a esquerda secular a tendência à
insubordinação, à rejeição de regras, à distorção de princípios e ao desejo de
autonomia absoluta.
A história da igreja revela que, sempre que surgem grupos
que se autodenominam “igreja”, mas rejeitam a disciplina, a autoridade e a
tradição bíblica, a tendência é a proliferação de heresias, divisões e práticas
estranhas. Entre essas manifestações, destacam-se:
·
Avessos à autoridade: recusam sujeição às
Escrituras e aos líderes legítimos;
·
Extremismo que roça a anarquia: estabelecem
regras próprias e modos de culto arbitrários;
·
Doutrinas e práticas não prescritas: misturam
elementos de espiritualidade não revelada, gnose, libertinagem moral e carismas
distorcidos;
·
Distinção da tradição histórica: rejeitam a
liturgia, os sacramentos e a disciplina eclesiástica, criando novos rituais e
fórmulas de fé.
Este padrão não é novidade moderna. Já encontramos exemplos
de movimentos gnósticos e antinomianos que corromperam a igreja primitiva,
confundindo liberdade em Cristo com licenciosidade e minando a autoridade
pastoral, reproduzindo a lógica da esquerda: autonomia, relativismo e desprezo
pela Palavra.
Ao longo da história, o padrão da esquerda espiritual
manteve-se constante: grupos que, embora professassem fé, desrespeitavam a
ordem de Deus, subvertiam a autoridade legítima e promoviam práticas contrárias
à Escritura. Hoje, essa tendência se manifesta de maneira mais visível nos
chamados “desigrejados”: indivíduos ou grupos que se autodenominam igreja, mas
rejeitam qualquer forma de disciplina eclesiástica, liderança pastoral ou
ensino fundamentado na Palavra. A gnose é a fonte de conhecimento para eles,
dizem: “O Espírito é autoridade final”, como se eles fossem um grupo seleto de
supercrentes que receberam uma “revelação” especial e querem envolver, a todo custo,
a outros em suas mistificações. Nada
diferente do gnosticismo, ou do antinomianismo antigo, apenas receberam uma
roupagem moderna.
Esses grupos reproduzem características históricas da
esquerda:
·
Avessos à autoridade: recalcitram contra
pastores, anciãos e líderes legítimos, reinterpretando a Escritura a seu modo,
como fizeram os rebeldes da sinagoga de Corinto que “se levantavam e dividiam a
igreja” (1 Co 1:11-13). Paulo, ciente desse tipo de subversão, adverte que
“aquele que causa escândalo ao irmão, peca contra Cristo” (Rm 14:15), mostrando
que a desordem interna é sempre uma afronta ao Senhor.
·
Extremismo que roça a anarquia: a busca por
autonomia total leva à rejeição das estruturas da igreja e ao culto segundo
critérios próprios. Assim como os coríntios introduziam práticas contrárias ao
decoro e à ordem (1 Co 14:40), esses grupos inventam doutrinas e rituais,
confundindo liberdade em Cristo com libertinagem espiritual.
·
Doutrinas e práticas não prescritas: misturam
elementos de gnose, carismas distorcidos e interpretações pessoais da
Escritura. Paulo denuncia os que “introduzem heresias estranhas” (Tt 1:10) e
aqueles que se afastam da verdade do evangelho “para seguir fábulas” (2 Tm
4:4). Não há novidade aqui; a Escritura sempre advertiu contra aqueles que
“transformam em dissolução a sã doutrina” (2 Tm 3:6-7).
·
A semelhança com movimentos políticos de
esquerda: assim como certos movimentos sociais buscam subverter estruturas,
promover igualitarismo absoluto e abolir autoridade, os desigrejados promovem a
anarquia dentro da igreja, negando hierarquia eclesiástica e disciplina
bíblica. O paralelismo é evidente: em ambos os casos, a raiz é a rejeição da
ordem e da autoridade estabelecida, seja de Deus ou de homens, que representam
a Sua vontade.
·
Autonomia e relativismo moral: aqueles que se
autodenominam igreja sem sujeição à Palavra tendem a redefinir o certo e o
errado conforme seu próprio entendimento. Paulo já advertia: “Todos se
desviaram, juntamente se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um
só” (Rm 3:12). A lei moral e a norma revelada são desprezadas, e a autoridade
divina é relativizada.
No Novo Testamento, Jesus apresenta o contraste: a
verdadeira obediência é viver sob o senhorio de Deus, não segundo a vontade
própria. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer a
um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro” (Mt 6:24). O
desigrejado moderno, assim, escolhe servir a si mesmo, ao prazer ou à
ideologia, ou ao ego, e não a Deus, reproduzindo o padrão dos rebeldes
históricos.
O Antigo Testamento já mostrava que a corrupção interna é
mais perigosa que a ameaça externa. Nabucodonosor, por exemplo, submeteu Judá,
mas o verdadeiro perigo eram os falsos profetas, sacerdotes negligentes e
líderes rebeldes que promoviam idolatria e injustiça dentro do povo de Deus (Jr
5:31; Ez 22:26). Do mesmo modo, a esquerda espiritual atual no meio
eclesiástico não se apresenta sempre de forma ostensiva; ela se infiltra,
corrompe e desvia o rebanho com discursos sedutores, “com aparência de piedade,
mas negando o poder dela” (2 Tm 3:5; Jo 17.17; 1 Pe 1.23, etc.).
Portanto, o paralelo é claro: desde os rebeldes do Sinai até
os desigrejados contemporâneos, a esquerda espiritual segue um padrão imutável:
rejeição da autoridade, relativização da lei divina, promoção de práticas e
doutrinas estranhas e autodenominação de igreja. A Escritura adverte que a
vigilância é necessária: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts 5:21), e “não
deis ocasião ao diabo” (Ef 4:27). A fidelidade à Palavra e à ordem
estabelecida por Deus é o antídoto contra a infiltração da rebeldia interna, e
só a adoração genuína, centrada em Cristo, mantém a igreja protegida.
A Escritura não apenas identifica o problema, mas também
orienta a resposta adequada. A primeira medida é a disciplina eclesiástica fundamentada
na Palavra, para preservar a pureza do rebanho. Paulo deixa claro: “Se
alguém não ouve a palavra deste, considerai-o como gentio e publicano” (Mt
18:17), indicando que a submissão à autoridade legítima e à doutrina bíblica é
condição para a comunhão. A tolerância diante da subversão interna não é
recomendada; permitir que os desigrejados distorçam a fé é abrir brecha para
contaminação espiritual, tal como os falsos profetas corromperam Israel (Jr
23:1-2).
A segunda medida é o ensino contínuo e sólido da Escritura.
Não basta repreender os rebeldes; é necessário que a congregação inteira seja
firmada na verdade: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts 5:21). A
exegese histórico-gramatical, estudando a Palavra em seu contexto original,
protege o povo de interpretações pessoais ou sedutoras, que caracterizam os
movimentos gnósticos e antinomianos ao longo da história.
A terceira medida é viver a adoração e o serviço em toda a
vida. O Senhor advertiu: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt
6:24). A adoração não se limita ao culto formal, mas é expressão de submissão
diária à vontade de Deus. Aqueles que amam a Cristo verdadeiramente não podem
simultaneamente abraçar práticas contrárias à Sua Palavra. O serviço integral à
Deus, tanto no culto comunitário quanto na vida cotidiana, fortalece a igreja
contra a sedução da rebeldia.
Por fim, a igreja deve cultivar vigilância espiritual e
oração constante. Paulo exorta: “Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos
varonilmente, fortalecei-vos” (1 Co 16:13). A vigilância é preventiva e
corretiva: preventiva, porque identifica e frustra infiltrações antes que se
estabeleçam; corretiva, porque disciplina e restaura aqueles que se desviam. O
modelo bíblico mostra que a fidelidade de líderes e do povo, enraizada na Palavra,
é a garantia de preservação da igreja ao longo do tempo.
A presença de esquerda espiritual na igreja não é fenômeno
novo, mas padrão recorrente. Desde os rebeldes do Sinai, passando pelos falsos
profetas, até os desigrejados contemporâneos, a ameaça é sempre a mesma:
rejeição da autoridade, distorção da Lei, promoção de doutrinas e práticas
estranhas, e autodenominação de igreja. A resposta bíblica, historicamente
consistente, é disciplina, ensino sólido, adoração íntegra e vigilância
constante.
Assim, a igreja permanece protegida, não pela força humana
ou por ideologias, mas pela obediência à Palavra e pela santidade de vida, que
refletem a glória de Deus. O chamado é claro: resistir à rebeldia interna,
guardar a verdade e viver a fé em Cristo com amor, temor e fidelidade,
mantendo-se firme contra qualquer tentativa de subversão que se disfarce de
espiritualidade.
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