terça-feira, 16 de setembro de 2025

QUANDO A ESQUERDA SE FAZ DE SANTUÁRIO: O Perigo da Autoridade Ignorada

    Desde os primórdios da igreja, a rebeldia interna sempre se manifestou de formas sutis e, por vezes, escancaradas. A Escritura, ao narrar a história do povo de Deus, já demonstra que aqueles inclinados à subversão e ao desvio do caminho ordenado por Deus não surgiram apenas como adversários externos, mas como perturbadores no próprio seio do povo escolhido. Moisés advertiu: “Não perverterás o juízo do estrangeiro, nem do órfão; nem tomarás em depósito o manto da viúva” (Dt 24:17), mostrando que a obediência a Deus e o temor santo não são apenas regras exteriores, mas defesa contra a corrupção interna, que sempre se aproveita da fragilidade do coração humano.

    A chamada “esquerda” dentro da igreja, entendida aqui como uma tendência de rebeldia contínua e de subversão às autoridades ordenadas por Deus, nunca foi novidade. Ainda no Antigo Testamento, vemos grupos que, embora professassem servir ao Senhor, introduziam práticas estranhas, questionavam a liderança legítima e distorciam os preceitos da aliança para satisfazer seus desejos. Profetas como Amós e Isaías denunciaram repetidamente os que “removem os limites antigos” (Am 7:17) e que “trazem o jugo desigual sobre o povo” (Is 10:1-2). Essa tendência, portanto, não é apenas uma questão política ou social, mas uma condição espiritual do coração humano inclinado à autonomia e à contestação.

    Nos tempos do Novo Testamento, o próprio Senhor advertiu contra aqueles que, embora se autodenominassem irmãos, “vendem a liberdade de Cristo por um jugo de servidão” (Gl 2:4-5) Paulo falava dos vários momentos em que Cristo há havia advertido. Jesus repreendeu os fariseus, que eram líderes e guardiões da Lei, pelo fato de elevarem suas tradições acima da Palavra de Deus e por desconsiderarem a autoridade legítima estabelecida, mostrando que o perigo de uma esquerda espiritual sempre habita dentro da própria comunidade de fé. Esta esquerda não se manifesta necessariamente em alianças políticas, mas compartilha com a esquerda secular a tendência à insubordinação, à rejeição de regras, à distorção de princípios e ao desejo de autonomia absoluta.

A história da igreja revela que, sempre que surgem grupos que se autodenominam “igreja”, mas rejeitam a disciplina, a autoridade e a tradição bíblica, a tendência é a proliferação de heresias, divisões e práticas estranhas. Entre essas manifestações, destacam-se:

·        Avessos à autoridade: recusam sujeição às Escrituras e aos líderes legítimos;

·        Extremismo que roça a anarquia: estabelecem regras próprias e modos de culto arbitrários;

·        Doutrinas e práticas não prescritas: misturam elementos de espiritualidade não revelada, gnose, libertinagem moral e carismas distorcidos;

·        Distinção da tradição histórica: rejeitam a liturgia, os sacramentos e a disciplina eclesiástica, criando novos rituais e fórmulas de fé.

    Este padrão não é novidade moderna. Já encontramos exemplos de movimentos gnósticos e antinomianos que corromperam a igreja primitiva, confundindo liberdade em Cristo com licenciosidade e minando a autoridade pastoral, reproduzindo a lógica da esquerda: autonomia, relativismo e desprezo pela Palavra.

    Ao longo da história, o padrão da esquerda espiritual manteve-se constante: grupos que, embora professassem fé, desrespeitavam a ordem de Deus, subvertiam a autoridade legítima e promoviam práticas contrárias à Escritura. Hoje, essa tendência se manifesta de maneira mais visível nos chamados “desigrejados”: indivíduos ou grupos que se autodenominam igreja, mas rejeitam qualquer forma de disciplina eclesiástica, liderança pastoral ou ensino fundamentado na Palavra. A gnose é a fonte de conhecimento para eles, dizem: “O Espírito é autoridade final”, como se eles fossem um grupo seleto de supercrentes que receberam uma “revelação” especial e querem envolver, a todo custo, a outros em suas mistificações.  Nada diferente do gnosticismo, ou do antinomianismo antigo, apenas receberam uma roupagem moderna.

Esses grupos reproduzem características históricas da esquerda:

·        Avessos à autoridade: recalcitram contra pastores, anciãos e líderes legítimos, reinterpretando a Escritura a seu modo, como fizeram os rebeldes da sinagoga de Corinto que “se levantavam e dividiam a igreja” (1 Co 1:11-13). Paulo, ciente desse tipo de subversão, adverte que “aquele que causa escândalo ao irmão, peca contra Cristo” (Rm 14:15), mostrando que a desordem interna é sempre uma afronta ao Senhor.

 

·        Extremismo que roça a anarquia: a busca por autonomia total leva à rejeição das estruturas da igreja e ao culto segundo critérios próprios. Assim como os coríntios introduziam práticas contrárias ao decoro e à ordem (1 Co 14:40), esses grupos inventam doutrinas e rituais, confundindo liberdade em Cristo com libertinagem espiritual.

 

·        Doutrinas e práticas não prescritas: misturam elementos de gnose, carismas distorcidos e interpretações pessoais da Escritura. Paulo denuncia os que “introduzem heresias estranhas” (Tt 1:10) e aqueles que se afastam da verdade do evangelho “para seguir fábulas” (2 Tm 4:4). Não há novidade aqui; a Escritura sempre advertiu contra aqueles que “transformam em dissolução a sã doutrina” (2 Tm 3:6-7).

 

·        A semelhança com movimentos políticos de esquerda: assim como certos movimentos sociais buscam subverter estruturas, promover igualitarismo absoluto e abolir autoridade, os desigrejados promovem a anarquia dentro da igreja, negando hierarquia eclesiástica e disciplina bíblica. O paralelismo é evidente: em ambos os casos, a raiz é a rejeição da ordem e da autoridade estabelecida, seja de Deus ou de homens, que representam a Sua vontade.

 

·        Autonomia e relativismo moral: aqueles que se autodenominam igreja sem sujeição à Palavra tendem a redefinir o certo e o errado conforme seu próprio entendimento. Paulo já advertia: “Todos se desviaram, juntamente se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3:12). A lei moral e a norma revelada são desprezadas, e a autoridade divina é relativizada.

 

    No Novo Testamento, Jesus apresenta o contraste: a verdadeira obediência é viver sob o senhorio de Deus, não segundo a vontade própria. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer a um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro” (Mt 6:24). O desigrejado moderno, assim, escolhe servir a si mesmo, ao prazer ou à ideologia, ou ao ego, e não a Deus, reproduzindo o padrão dos rebeldes históricos.

    O Antigo Testamento já mostrava que a corrupção interna é mais perigosa que a ameaça externa. Nabucodonosor, por exemplo, submeteu Judá, mas o verdadeiro perigo eram os falsos profetas, sacerdotes negligentes e líderes rebeldes que promoviam idolatria e injustiça dentro do povo de Deus (Jr 5:31; Ez 22:26). Do mesmo modo, a esquerda espiritual atual no meio eclesiástico não se apresenta sempre de forma ostensiva; ela se infiltra, corrompe e desvia o rebanho com discursos sedutores, “com aparência de piedade, mas negando o poder dela” (2 Tm 3:5; Jo 17.17; 1 Pe 1.23, etc.).

    Portanto, o paralelo é claro: desde os rebeldes do Sinai até os desigrejados contemporâneos, a esquerda espiritual segue um padrão imutável: rejeição da autoridade, relativização da lei divina, promoção de práticas e doutrinas estranhas e autodenominação de igreja. A Escritura adverte que a vigilância é necessária: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts 5:21), e “não deis ocasião ao diabo” (Ef 4:27). A fidelidade à Palavra e à ordem estabelecida por Deus é o antídoto contra a infiltração da rebeldia interna, e só a adoração genuína, centrada em Cristo, mantém a igreja protegida.

    A Escritura não apenas identifica o problema, mas também orienta a resposta adequada. A primeira medida é a disciplina eclesiástica fundamentada na Palavra, para preservar a pureza do rebanho. Paulo deixa claro: “Se alguém não ouve a palavra deste, considerai-o como gentio e publicano” (Mt 18:17), indicando que a submissão à autoridade legítima e à doutrina bíblica é condição para a comunhão. A tolerância diante da subversão interna não é recomendada; permitir que os desigrejados distorçam a fé é abrir brecha para contaminação espiritual, tal como os falsos profetas corromperam Israel (Jr 23:1-2).

    A segunda medida é o ensino contínuo e sólido da Escritura. Não basta repreender os rebeldes; é necessário que a congregação inteira seja firmada na verdade: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts 5:21). A exegese histórico-gramatical, estudando a Palavra em seu contexto original, protege o povo de interpretações pessoais ou sedutoras, que caracterizam os movimentos gnósticos e antinomianos ao longo da história.

    A terceira medida é viver a adoração e o serviço em toda a vida. O Senhor advertiu: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6:24). A adoração não se limita ao culto formal, mas é expressão de submissão diária à vontade de Deus. Aqueles que amam a Cristo verdadeiramente não podem simultaneamente abraçar práticas contrárias à Sua Palavra. O serviço integral à Deus, tanto no culto comunitário quanto na vida cotidiana, fortalece a igreja contra a sedução da rebeldia.

    Por fim, a igreja deve cultivar vigilância espiritual e oração constante. Paulo exorta: “Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos” (1 Co 16:13). A vigilância é preventiva e corretiva: preventiva, porque identifica e frustra infiltrações antes que se estabeleçam; corretiva, porque disciplina e restaura aqueles que se desviam. O modelo bíblico mostra que a fidelidade de líderes e do povo, enraizada na Palavra, é a garantia de preservação da igreja ao longo do tempo.

    A presença de esquerda espiritual na igreja não é fenômeno novo, mas padrão recorrente. Desde os rebeldes do Sinai, passando pelos falsos profetas, até os desigrejados contemporâneos, a ameaça é sempre a mesma: rejeição da autoridade, distorção da Lei, promoção de doutrinas e práticas estranhas, e autodenominação de igreja. A resposta bíblica, historicamente consistente, é disciplina, ensino sólido, adoração íntegra e vigilância constante.

    Assim, a igreja permanece protegida, não pela força humana ou por ideologias, mas pela obediência à Palavra e pela santidade de vida, que refletem a glória de Deus. O chamado é claro: resistir à rebeldia interna, guardar a verdade e viver a fé em Cristo com amor, temor e fidelidade, mantendo-se firme contra qualquer tentativa de subversão que se disfarce de espiritualidade.

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