sábado, 30 de abril de 2011

A Bíblia pode ser usada de escudo para prática homossexual?

Achei este texto abaixo na internet. Claramente se vê que o seu autor é um adepto do homossexualismo e com palavras que traduzem um cinismo horripilante. Ele interroga uma senhora que é conhecida por Laura Schlessinger, aparentemente (não a conheço, nem nunca ouvi falar) defensora da Palavra de Deus . O texto publicado na internet não possui as repostas da Laura, mas tomei a liberdade, por se tratar de uma carta aberta, de confeccionar as respostas que eu as daria se estivesse em seu lugar. Obviamente, as questões levantadas por esse ouvinte são simplesmente argumentos absolutamente frágeis que estão sendo usados como escudo para suas práticas homossexuais, ou das de quem ele quer defender. As minhas respostas estão logo em seguida aos questionamentos e tendo o título de “resposta” e ao final em "comentário" formatado em negrito. Rev. Júlio Pinto

Laura Schlessinger é uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show.
Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoada em qualquer circunstância. O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano e também disponibilizada na Internet.

“Cara Dra. Laura
Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso. Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levíticos 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.
Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:

a. Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

Resposta: lei ritual, ou cerimonial – as leis rituais de sacrifício tinham a perspectiva de anunciar o verdadeiro e cabal sacrifício que haveria de vir, o de Cristo. Tendo Ele realizado seu auto-sacrificio, as leis rituais estão dispensadas. Hebreus 9.11-15 cf. Colossenses 2.16-17.

b. Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

Resposta: lei para um país teocrático, as chamadas leis civis – temos que ter em mente que determinadas leis dadas ao povo de Israel foi em uma condição única, uma vez que foram a única nação no mundo e na história que por um período viveu sob leis teocráticas (dadas diretamente por Deus) e era governada por Deus através de um representante seu, um profeta, ou juiz. Mas pouco tempo depois com Saul, a nação deixou de ser teocrática e passou a ser aristocrática, e agora não há nação assim, apenas democráticas ou ditaduras, ou semelhantes, mas as leis são feitas pelos homens. E isso é aceitável por Deus uma vez que o único princípio da lei que Ele ainda requer e vai requerer até a volta de Cristo são os princípios de padrão moral, no qual o próprio Deus é a imagem ideal para o ser humano dessas leis, e nós como sua imagem temos o dever de refletir a sua imagem, seu padrão moral que é altíssimo. I Pedro 1.16. e seguirmos as leis humanas é aceitável diante de Deus uma vez que elas não agridam os Seus princípios morais (Leia-se Romanos 13:1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. – conforme - Atos 4:19 Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus;

c. Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levíticos 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

Resposta: I Coríntios 7.5 – Esta lei não mais se aplica como se vê no texto citado.


d. Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

Resposta: leis civis – já respondido

e. Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo mesmo?

Resposta: o sábado é um princípio de que um dia da semana deverá ser do Senhor, não diz respeito ao sábado em si, tanto é que os discípulos de Jesus começaram a guardar o domingo ao invés do sábado. Esse dia não é do homem, para seu descanso como se nada mais ele pudesse fazer. Pelo contrário, esse dia é para trabalhar, mas para o Senhor, é o dia do Senhor e não nosso. Além do mais qualquer lei que tivesse a pena de morte, não seria qualquer um que o poderia matar, mas haveria de ter um julgamento com essa finalidade, como por exemplo Números 35:24. Mesmo assim a lei da pena de morte é ainda questionada hoje, uma vez que interpelado por uma situação que exigiria a pena de morte, Jesus não condenou a mulher pega em adultério, guardadas as diferenças notáveis. O que não aconteceu com as leis morais. Mesmo não havendo a pena de morte o adultério ainda assim é condenado por Deus e como todo pecado dessa mesma natureza, o que gera é a morte do próprio indivíduo mesmo que não seja uma morte por tribunal humano, mas será pelo tribunal divino. Como diz Paulo aos Romanos em 6.23 “O salário do pecado é a morte...”

f. Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

Resposta: A liberação quanto ao que se pode comer é uma liberdade que foi dada progressivamente. Antes do dilúvio só se poderia comer frutas e vegetais (Gênesis 1.29), depois do dilúvio determinados tipos de carne (Gênesis 9.3-4), e após a vinda de Cristo, qualquer coisa que se vende no mercado I Co 10.25. Liberação esta que não aconteceu com respeito às leis morais.

g. Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

Resposta: A lei ritual para o AT só poderia ser feita pelo mediador que era o sumo-sacerdote, e isso uma vez por ano apresentando o sacrifício de um animal sem defeito e ele mesmo não poderia ter defeito físico, pois prefigurava o perfeito sacerdote que haveria de vir, Cristo, fazendo o papel de mediador e o animal também prefigurando Cristo, o perfeito sacrifício. Neste caso Cristo ao morrer quebrou essa separação que havia entre o seu povo e Deus que era por meio de um sumo-sacerdote que não tinha defeitos físicos, mas era pecador como qualquer outro ser humano, pois como o ritual exigia um sacerdote perfeito, hoje é totalmente dispensável, pois sua perfeição dizia respeito apenas a aparência física, ou decorrente dela, como no caso de uma boa visão. Mas Cristo veio e além de sumo sacerdote (mediador) perfeito, dito assim por não ter cometido pecado, Ele também se fez o próprio sacrifício não havendo mais necessidade nem da figura do sumo-sacerdote humano, pois Cristo é o único e perfeito mediador e nem mesmo do animal sacrificado, pois Cristo também foi o sacrifício perfeito.


h. A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

Resposta: Sobre a pena de morte já foi respondido. Quanto ao aparar a barba e o cabelo este texto queria que o povo de Deus não fosse confundido com outras nações que praticavam abominações, como o ferir o próprio corpo, como praticar o agouro e a adivinhação como está nos versículos que antecedem e procedem do Lv 19.27. Como exemplo os adoradores de Baal citados em 1 Reis 18.26-28; e como citados em Jeremias 9.26.


i. Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco).

Resposta: Não era somente a pele de um porco morto, era a de qualquer animal. Como em Levítico 5.2-3 e 7.21. Contudo não há mais restrições sobre leis que visavam a saúde do povo de Deus. O que não ocorreu com as leis morais.

j. Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19 porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

Resposta: Lembremos que a pena de morte fazia parte de um nação com regime teocrático. As leis seguiriam a forma como Deus a estipulou. Contudo determinadas leis visavam a saúde, outras visavam a boa convivência social, outras visavam os rituais, sacrifícios , outras leis eram especificamente no tocante à moral. Lembrando que a lei se expressava em três aspectos apenas: moral, civil e cerimonial. De todas estas leis do Antigo Testamento permaneceram no Novo Testamento apenas as leis morais. As leis morais refletem o padrão moral divino, pois o homem fora criado assim, à imagem e semelhança do único Deus totalmente santo, totalmente puro, totalmente inquestionável, totalmente soberano e criador de todas as coisas, inclusive do ser humano. Uma vez assim Ele legisla sobre esse padrão moral da maneira como Ele quer e pedirá contas de todos os que tiverem praticado o mal por meio do corpo, como justiça ao insulto feito à sua perfeita moral divina de quem havíamos herdado no Éden. Mas o pecado manchou a imagem dessa moral e desde então a raça humana só tende a desviar-se cada vez mais para longe dessa moral divina. E Paulo afirma em Romanos 1. 22-25 que a homossexualidade é a pior degradação desse padrão moral divino. É por isso que também se afirma I Coríntios 6.9-10 que nenhum sodomita (ativo ou passivo na relação homossexual) ou efeminado (que se comporta apenas como mulher) de forma alguma entrará no Reino de Deus. Pedro ao falar deste pecado ele diz: 2 Pedro 2.13 “...recebendo injustiça por salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco...” a expressão luxúria carnal que Pedro usa é traduzida do grego exatamente por “vida efeminada” e o fim deles, diz Pedro no versículo 17, é a negridão das trevas, uma figura para falar da condenação eterna. Isso demonstra claramente que a Lei moral permanece e quanto ao homossexualismo é inquestionável a posição da Palavra de Deus no tocante aos nossos dias. A homossexualidade como qualquer outro pecado, até mesmo o do mexerico, a conhecida e velha fofoca, devem ser questionados e colocados sob a mira da Palavra de Deus. Se qualquer um destes pecados vir a ser algo evidente, o praticante deverá ser excluído da congregação, se fizer parte dela, caso não queira deixar a prática do pecado. Como qualquer outro pecador, o homossexual deve ter a oportunidade de ouvir a Palavra de Deus e avaliar o seu padrão moral sobre o qual Deus lhe pedirá contas. Todo pecador, independente de seu pecado, deve ter o direito de ouvir esta verdade. Homofobia, deveria ser chamado a falta de oportunidade de lhes pregar o evangelho, pois certamente se não o ouvirem estarão em breve no inferno. Deixá-los para lá, por que o padrão moral deles não reflete o padrão moral divino é o pior ato de homofobia que alguém pode cometer. Pois há perdão sim, para a homossexualidade, pois Jesus afirmou que o único pecado que não será perdoado, é o pecado da ofensa contra o Espírito Santo.


Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável. Seu discípulo e fã ardoroso.”

Comentário: Para aqueles que estão considerando apenas as perguntas do ouvinte da Laura, não espero que minhas respostas, com toda a sinceridade, convença ninguém de absolutamente nada, pois quem convence as pessoas do pecado, da justiça e do juízo de Deus é o Espírito Santo. João 16.7-8. Rev. Júlio César Pinto

domingo, 17 de abril de 2011

"COELHINHO DA PÁSCOA QUE TRAZES PRA MIM?" Entre mitos pagãos e a verdadeira redenção: uma análise histórica, teológica e pastoral da Páscoa"


    Vivemos em dias onde a sublime realidade da Páscoa foi substituída por uma caricatura comercial. Nossas crianças são ensinadas desde cedo a associar esta sagrada celebração com ovos de chocolate e um coelho mitológico - uma narrativa que, embora aparentemente inocente, esconde perigosas raízes pagãs e uma profunda alienação espiritual. Como bem alertava o puritano Thomas Watson: "O diabo não se importa com que tipo de erro um homem abrace, contanto que não seja a verdade" (A Body of Divinity). Este engano massivo exige de nós, como servos de Cristo, uma resposta clara e bíblica.

    A verdadeira Páscoa foi ordenada por Deus como memorial perpétuo da libertação de Israel do Egito (Êx 12:14). O reformador John Owen, em sua obra "A morte da morte na morte de Cristo", destaca que cada elemento da primeira Páscoa era tipológico:

    O Cordeiro Imaculado (Êx 12:5) - "Sem defeito", prefigurando Cristo "como um cordeiro sem defeito nem mácula" (1Pe 1:19). O puritano John Flavel comentava: "A seleção do cordeiro quatro dias antes (Êx 12:3) apontava para Cristo entrando em Jerusalém antes de ser imolado" (The Fountain of Life).

    O Sangue nas Umbreiras (Êx 12:7) - Sinal visível da fé obediente, como observava Jonathan Edwards: "O sangue não salvou por seu poder intrínseco, mas como símbolo da futura expiação de Cristo" (História da Redenção).

    As Ervas Amargas (Êx 12:8) - Lembrança da amargura da escravidão, que, segundo Matthew Henry, "tipificava o sofrimento de Cristo por nós" (Comentário Bíblico).

    Na última ceia (Mt 26:17-30), Jesus revelou o cumprimento escatológico da Páscoa. O teólogo puritano John Gill destaca: "Cristo comeu a Páscoa judaica como seu último ato de obediência à lei cerimonial, antes de instituir o memorial de sua morte" (Exposition of the Bible). A nova ceia mantém elementos simbólicos, mas com significado transformado:

    O Pão (1Co 11:24): "Isto é meu corpo" - Não transubstanciação, mas memorial, como enfatizava o reformador Ulrich Zwinglio: "O” é' significa 'representa', como em 'a rocha era Cristo' (1Co 10:4)" (Sobre a Ceia do Senhor).

    O Vinho (1Co 11:25): "Nova aliança em meu sangue" - O puritano Stephen Charnock explica: "Como o sangue do cordeiro selou o pacto mosaico, o sangue de Cristo ratificou o eterno pacto da graça" (A Existência e os Atributos de Deus).

 

A Ceia do Senhor e o Fim da Páscoa:

Por Que os Cristãos Não Devem Celebrar a Páscoa Hoje.

 Quando Jesus reuniu seus discípulos para a última ceia, estava prestes a realizar algo revolucionário. Ele não estava simplesmente celebrando mais uma Páscoa judaica - estava prestes a transformá-la e, em seguida, substituí-la. A Ceia do Senhor, instituída naquela noite, não era uma continuação da Páscoa, mas seu cumprimento e, consequentemente, seu fim para o povo de Deus da Nova Aliança.

    A Páscoa como instituída no livro de Êxodo era Provisória. A primeira Páscoa, instituída no Egito (Êxodo 12), tinha um propósito claro: apontar para Cristo. Cada elemento - o cordeiro imaculado, o sangue nas portas, as ervas amargas - era uma sombra da realidade que viria. O apóstolo Paulo deixa isso claro quando diz: "Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1 Coríntios 5:7). O reformador John Owen explicou que "as ordenanças cerimoniais do Antigo Testamento eram como velas acesas à noite; quando o sol da justiça (Ml 4:2) surgiu, elas se tornaram desnecessárias" (A Morte da Morte na Morte de Cristo).

    Quando Jesus celebrou a Páscoa com os discípulos (Mateus 26:17-30), estava encerrando um ciclo. Naquela ceia, Ele não apenas comeu o cordeiro pascal - Ele se declarou ser próprio e verdadeiro Cordeiro. Ao dizer "isto é o meu corpo" e "isto é o meu sangue", Jesus estava transferindo o significado da Páscoa para Si mesmo. Como observou o puritano John Flavel: "Cristo não veio para reformar a Páscoa, mas para cumpri-la e assim aboli-la" (A Fonte da Vida).

    Tendo feito isso, e cumprido o tipo da Páscoa em si e consigo mesmo, após a ressurreição de Cristo, os apóstolos nunca mais ordenaram a celebração da Páscoa. Em vez disso, a Igreja passou a observar a Ceia do Senhor (Atos 2:42; 1 Coríntios 11:23-26). O apóstolo João, escrevendo já no período da Nova Aliança, refere-se à Páscoa como "festa dos judeus" (João 6:4), não dos cristãos (Data mais antiga para a Escrita do Evangelho de Joao é de 80 d.C. -  inteiramente dentro do contexto da Nova Aliança). O teólogo puritano Thomas Boston foi incisivo: "Guardar a Páscoa hoje é como construir o andaime depois que o edifício está pronto" (The Crook in the Lot).

    A Escritura, no Novo Testamento, nunca ordena que a Igreja, estando na Nova Aliança (cf última Páscoa) celebre a Páscoa. William Perkins, um dos principais teólogos puritanos, advertia: "Onde a Escritura não ordena, a Igreja não tem autoridade para instituir" (Um Católico Reformado).

    Outro erro que comete quem comemora a páscoa ainda hoje, é a confusão entre as Alianças. A Páscoa pertencia à Antiga Aliança, que foi superada pela Nova (Hebreus 8:13). Richard Baxter argumentava que "reintroduzir elementos da lei cerimonial é minar a suficiência de Cristo" (O Pastor Reformado).

    A ceia é um memorial permanente ao contrário do que foi a Páscoa. A Ceia do Senhor não é uma "nova versão" da Páscoa - é algo completamente diferente. Enquanto a Páscoa olhava para frente, para um sacrifício futuro, a Ceia olha para trás, para um sacrifício já consumado. Como escreveu o reformador João Calvino: "Na Ceia, não repetimos sacrifícios, mas anunciamos um único sacrifício, perfeito e completo" (Institutas da Religião Cristã).

    Celebrar a Páscoa hoje não é apenas desnecessário - é contrário ao evangelho. Como declarou o puritano Thomas Watson: "Tudo o que Deus não ordenou no culto é, por natureza, idolatria" (Os Dez Mandamentos). A Igreja deve contentar-se com o que Cristo deixou: o pão e o vinho da Nova Aliança, memorial simples mas poderoso de que "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado" (1 Coríntios 5:7).

 

A Páscoa Cristã: Ceia do Senhor

    Desta maneira podemos resumir da seguinte forma a substituição da Páscoa pela Ceia: Após a ressurreição, a Igreja não continuou a celebrar a Páscoa judaica, mas sim a Ceia do Senhor (1Co 11:23-26). João registra que a Páscoa era "festa dos judeus" (Jo 6:4), não da Igreja. Por quê? Porque: Cristo cumpriu os símbolos (Cl 2:16-17), as sombras deram lugar à realidade (Hb 10:1) e A Nova Aliança substituiu a Antiga (Jr 31:31-34).

    Portanto, a celebração da Páscoa hoje não é apenas desnecessária — é ilícita, pois nega a suficiência de Cristo e reintroduz sombras já cumpridas. Que a Igreja permaneça fiel ao "pão e vinho" da Nova Aliança, anunciando "a morte do Senhor até que Ele venha" (1Co 11:26).

A Páscoa moderna

    A Páscoa moderna está repleta de símbolos pagãos (ovos, coelhos) que nada têm a ver com o evangelho. John Bunyan alertou: "Qual comunhão tem a luz com as trevas?" (2 Coríntios 6:14) (Pilgrim's Progress).

    Como então surgiram os símbolos atuais? Sua origem está no culto à deusa Astarte (ou Ishtar), divindade cananeia da fertilidade (Jz 2:13). Seus rituais incluíam:

·      Ovos pintados (símbolo de renascimento)

·      Coelhos (fertilidade)

·      Orgiais sexuais e até sacrifícios humanos

 

    O historiador puritano Thomas Beard documenta: "Os antigos saxões celebravam a deusa Eostre com ovos e lebres, símbolos de reprodução que a Igreja Romana posteriormente adotou" (O Teatro dos Julgamentos de Deus). William Perkins advertia: "Quando a Igreja adota costumes pagãos, profana o culto sagrado" (Um Católico Reformado).

    Particularmente grave é a origem da cantiga "Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim...", que deriva diretamente da invocação pagã: "Lebre de Eostre, o que tuas entranhas trazem para mim?" Como denunciava o puritano Richard Baxter: "Até que ponto os cristãos se conformaram com este mundo!" (O Pastor Reformado).

    Em face a esta distorção histórica, urge recuperar a pureza do culto. O puritano Isaac Ambrose propunha: "Em vez de ovos, ofereçamos a nossos filhos o pão da vida; em vez de coelhos, apontemos para o Cordeiro de Deus" (Olhando Para Jesus). Particularmente relevantes são as palavras de John Bunyan: "Qual comunhão tem a luz com as trevas? (2Co 6:14). Como pode o memorial da morte de Cristo conviver com símbolos de demônios?" (O Progresso do Peregrino).

    Aos negarmos com fundamento bíblico de não comemorarmos de nenhum modo a Páscoa, podemos estar descansados em todos esses princípios bíblicos e provas históricas. Podemos responder a uma só voz com o puritano Thomas Watson: "Todo culto não ordenado por Deus é idolatria inventiva" (Os Dez Mandamentos). Portanto, concluímos com algumas exortações:

 1.   Ao Comércio: Cessai de explorar símbolos pagãos para lucro (1Ts 5:22).

2.   Aos Pais: Ensinai vossos filhos "no caminho em que devem andar" (Pv 22:6), rejeitando mitos pagãos.

3.   À Igreja: Como exortava Charles Spurgeon (herdeiro da tradição puritana): "Mantenhamos a Páscoa não com fermento velho... mas com os pães asmos da sinceridade e da verdade" (1Co 5:8).

4.   Como podemos chamar-nos servos de Cristo se adotamos rituais pagãos?

5.   É lícito para pais cristãos presentear filhos com símbolos de fertilidade pagã ?????

 

A Páscoa cristã não é sobre chocolate, mas sobre o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29). Que possamos, como exortava o reformador João Calvino, "rejeitar as sombras e abraçar a Substância" - Cristo, nossa única Páscoa.

"Lançai fora o velho fermento... pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1Co 5:7).

 

Rev. Júlio César Pinto

 

Fontes:

 

·      Baxter, Richard. The Reformed Pastor.

·      Boston, Thomas. The Crook in the Lot.

·      Bunyan, John. Pilgrim's Progress.

·      Calvino, João. Institutes of the Christian Religion.

·      Flavel, John. The Fountain of Life.

·      John Cotton, "The Covenant of Grace"

·      John Owen, "The Glory of Christ"

·      Owen, John. The Death of Death in the Death of Christ.

·      Perkins, William. A Reformed Catholic.

·      Thomas Boston, "The Crook in the Lot" (sobre a soberania divina nas provações)

·      Thomas Manton, "A Treatise on the Lord's Supper"

·      Watson, Thomas. The Ten Commandments.

 

Outras fontes da informação sobre a deusa astarote (astarte) ou como na antiga canção: Eostre encontram-se em vários sites de origem pagã, dentre eles: http://www.magiazen.com.br/magia-na-origem-do-coelho-da-pascoa.html

Deusa Astarote fazia parte do culto cananeu. "Deusa do sexo e da guerra, uma representação vívida do paganismo em suas manifestações mais perversas". DIT, AT, 1718-1718b

 


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Por que uma única Bíblia e tantas religiões e denominações? PARTE 6

Do seio dos que deixaram Roma como fonte de hermenêutica, surgiu então uma outra classe de cristãos, a classe que recomeçou a olhar para as Escrituras como única fonte de autoridade revelada por Deus. Por não entender, ou por não aceitar, sem embasamento bíblico, doutrinas que surgiram com o retorno às Escrituras, um outro grupo se formou e passou a não aceitar a hermenêutica dos reformadores, mas passou a aceitar a hermenêutica que inseria a experiência pessoal, subjetiva, como válida, um exemplo deste grupo foi os Quakers. Este grupo dizia que a iluminação interior é como um testemunho final do Espírito Santo à experiência individual, predispondo o abandono das Escrituras.
Peter Wagner, um dos expoentes do movimento neopentecostal, aconselha em seu livro “Estratégias para o Crescimento da Igreja”, da editora Sepal, na página 41, o seguinte: “...reexaminar as Escrituras à luz da experiência e reavaliar sua Teologia de acordo com a mesma”.   Essa absurda declaração coloca a Bíblia em subordinação ao subjetivismo da experiência de cada um, além de colocar em dúvida a suficiência das Escrituras, e isso em favor do crescimento numérico das igrejas que é o que esta obra tem como tema.
Alguns podem objetar quanto à idéia que permeia esta resposta à pergunta inicial e também o porquê desta ocorrência. Mas vivemos no tempo em que somos filhos da era moderna, do racionalismo de Kant, da indiferença de Karl Marx e do desdém de Nietzsche, filósofos que embutiram na forma de pensar do ser humano de nosso tempo a idéia de que cada um tem a sua verdade, cada um tem a sua ótica de olhar as coisas, que não existe verdade absoluta e que se alguém afirmar tal coisa deve ser questionado. Esqueceram-se de que a própria afirmação de que não existe uma verdade absoluta é uma contradição à própria afirmação, pois ela se diz absoluta. Enquanto que a real verdade absoluta é esquecida e manipulada de acordo com o entendimento de cada um, a Bíblia. Em conseqüência dessa forma de pensar, cada um tem a sua interpretação da Bíblia. Se isso fosse uma verdade a ser levada em consideração, Deus seria o responsável por toda esta confusão. Mas, a própria Palavra afirma que Deus não é Deus de confusão como dito em I Coríntios 14.33. O termo confusão no grego é: akatastasia akatastasia que significa: instabilidade, um estado de desordem, distúrbio, confusão. Mas o que existe é a "operação do erro", a "prova"  enviada pelo próprio Deus para testar  aqueles que lhe são fiéis de fato, bem como à sua Palavra, conforme 2 Tessalonicences 2:11 e Deuteronômio. 13.1-3.
Mesmo com todos os argumentos acima não conseguimos fechar todos os motivos da pergunta inicial, contudo nos dá um direcionamento de como pode acontecer de existir várias religiões e denominações sendo uma só Bíblia.
Com isso não queremos nos tornar separatistas, nem mesmo afirmar categoricamente que somos os únicos a interpretar a Bíblia corretamente, mas que o nosso padrão de   interpretação é infalível, a própria Escritura.
Assim devemos exercer a Palavra conforme a preceituação de Paulo em Romanos 14.1 "Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões".


Rev. Júlio César Pinto
Igreja Presbiteriana do Brasil em Baião - PA

Bibliografia: 


* Fé cristã e Misticismo - Editora CEP
* A Bíblia e seus intérpretes - Editora CEP
* Igreja de poder - Editora CEP


Nota: O texto publicado aqui é uma adaptação de partes destas três obras citadas.

Por que uma única Bíblia e tantas religiões e denominações? PARTE 5

5.   A Escritura está completa, por isso, em nenhum tempo deverão ser subtraídas ou adicionadas partes a ela. Nem por novas revelações, ou tradição dos homens. Mesmo com a certeza da suficiência das Escrituras, é necessária a iluminação do Espírito Santo para se ter a compreensão salvadora das coisas reveladas na Palavra, o que não significa que teremos novas revelações, pois iluminação é diferente de inspiração. Sermos iluminados pelo Espírito, é abrir nosso entendimento para o que foi inspirado.
6.    Existem textos de difícil compreensão na Escritura. Para sua compreensão correta se faz necessário recorrer aos textos originais, basicamente o grego e o hebraico, bem como dados históricos, geográficos, ocasionais que fizeram parte da motivação e da escrita destes diversos livros da Bíblia que são necessários para uma fiel interpretação do texto sagrado nos fazendo como os crentes de Beréia que punham à prova pela Escritura tudo o que o próprio apóstolo Paulo falava. Atos 17:11  Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.
7.    Nosso padrão de aferição de tudo é a própria Escritura. O Espírito Santo não fala individualmente em novas revelações autoritárias, mas pela própria Bíblia. “O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos e concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.
8.    Vemos Jesus e escritores do Novo Testamento fazendo uso deste método hermenêutico, usando a Bíblia para interpretar textos do Antigo Testamento em várias passagens. Como exemplo cito Mateus 22.29 ss. 
Dado histórico:
O advento da Reforma no século XVI foi um marco histórico que dividiu a única igreja até então formada com o desejo de fazê-la retornar ao princípio norteador da vida espiritual que há séculos havia se desfeito em meio às tradições inseridas no corpo dessa igreja, a Católica. Para Lutero essa volta seria possível, mas Calvino já não concebia esta idéia. Para ele a igreja tinha se degenerado tanto, que havia se tornado sinagoga de Satanás. Contudo, os católicos não aceitaram o movimento reafirmando-se ainda mais nas suas tradições humanas no concílio de Trento, sendo este uma contra-resposta às legítimas acusações dos reformadores. A igreja então se separa excomungando os reformadores e/ou condenando-os à morte.

Por que uma única Bíblia e tantas religiões e denominações? PARTE 4

Princípios da reforma que são utilizados ainda hoje para hermenêutica bíblica:
1.    “Um texto obscuro relacionado a um tema deve ser esclarecido por outro texto mais claro acerca deste mesmo tema. Se usarmos a própria Bíblia para interpretá-la, o que vai ocorrer é uma coerência na interpretação da própria Bíblia como um todo, e não várias interpretações que culminam no surgimento de novas denominações e até mesmo de heresias. A Bíblia interpreta a Bíblia, sendo ela suficiente em si mesma, ou seja, não precisamos de revelações adicionais, experiências pessoais, ou até mesmo tradições para nos ditar o modo de conduta de nossas vidas.
2.    Crença na infalibilidade da Escritura nos textos originais, basicamente em grego e hebraico, por ser totalmente inspirada por Deus. Outro erro comum das igrejas neopentecostais e pentecostais tem haver com o uso da Bíblia traduzida como se o texto na língua vernácula fosse inspirado, o que não é. Quando se traduz um texto, seja ele qual for, o tradutor tem de fazer ajustes entre as línguas para se traduzir. E muitas vezes o que acontece é que nestes ajustes o sentido real do texto fica corrompido pela falta de palavras que tenham o mesmo significado de uma língua para outra. A Bíblia foi inspirada sim, mas em grego e hebraico basicamente. Para formulação de doutrinas se faz necessário o entendimento pela língua original para evitar que estes ajustes da tradução interfiram maliciosamente no escopo da doutrina, mesmo que não seja intencional. Contudo, a mensagem geral da Bíblia não perdeu seu significado real e principal, ou seja, a mensagem de salvação.
3.    As Escrituras (A Bíblia) não são quaisquer escritos de natureza religiosa ou prezados por sua antiguidade como os livros apócrifos, mas o termo é identificado com a compilação de todos os livros do Antigo Testamento aceitos tanto pelos judeus como por Jesus Cristo que fizeram referência em várias passagens de 39 livros; também são reconhecidos 27 livros do Novo Testamento reconhecidos como canônicos (inspirados) pela igreja perfazendo um total de 66 livros e, é claro, excluídos os livros apócrifos inseridos na Bíblia, como canônicos, no concilio de Trento há cinco séculos atrás. Antes disso, estes livros eram usados apenas como referências históricas e não como Palavra de Deus. Mas a tradição fez com que a Igreja Católica os inserisse, erroneamente, como parte da Bíblia a fim de subsidiar doutrinas como a de adoração aos santos e o culto aos mortos (finados). (Lucas 16.16 e 29; Lucas 20.42; Atos 2.34; etc.)
4.    A Escritura não precisa do testemunho de nenhum homem, ou de qualquer igreja, ou seja, a autoridade da Escritura é inerente a ela mesma. Não deve ser aceita porque a igreja estabeleceu assim, deve ser aceita “porque é a Palavra de Deus”. É A ÚNICA VERDADE ABSOLUTA.

Por que uma única Bíblia e tantas religiões e denominações? PARTE 3

Com base na chamada “sensibilidade” do crente ele pode desencadear uma nova religião, ou uma nova denominação fundamentado não na Palavra, mas na sua experiência pessoal. Ou seja, as igrejas neopentecostais e as pentecostais estão calcadas no subjetivismo em parceria com a Palavra, se é que isso seja possível. Contudo, a Palavra de Deus é clara quando afirma que o coração e desígnio do homem são totalmente corrompidos pelo pecado (Jeremias 17.9). Como confiar em uma hermenêutica corrompida pelo pecado do homem?  O que acontece é que vemos que o universo de denominações pentecostais e neopentecostais é tão grande quanto o número de indivíduos que as fundaram baseados em suas experiências pessoais. É uma discrepância tão absurda quanto à hermenêutica da igreja Católica. Na verdade, tanto aquela como essas inserem significados e interpretações estranhos à Escritura como um todo. Uma iguala ou sobrepõe a tradição à Escritura, enquanto as outras igualam ou sobrepõem a experiência pessoal à Escritura.
Em todos os casos acima o ajuste da Bíblia às experiências se torna inevitável, quando o que seria certo e  necessário é que tanto a tradição como a experiência individual deveriam ser passadas pelo crivo da Escritura, e não o inverso como acontece. Não quero de maneira nenhuma por à prova aqui a sinceridade em querer buscar a Deus de cada uma destas pessoas inseridas nestas igrejas, mas quero enfatizar o que Paulo alertou em 1 Timóteo 4:7  "Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade." Como fazer isso? Paulo dá a chave em 1 Coríntios 14:29:  "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem". E o padrão de julgamento, ou o padrão de aferição não é o entendimento pessoal de cada profeta, mas a própria Palavra de Deus como registrado em 1 Pedro 4:11: "Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus"; os oráculos a que Pedro se refere é a Palavra escrita de Deus como podemos confirmar em Romanos 3:2  “... porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus"; e também em Hebreus 5:12:  Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido". 
Quanto às igrejas reformadas que mantêm seu corpo doutrinário baseado no ensejo da reforma que tinha como um de seus principais pontos SOLA SCRIPTURA, já podemos entender sua hermenêutica só com este ponto, ou seja, só a Escritura. Para estas igrejas só a Palavra de Deus é que pode ditar as regras de interpretação dela mesma. Regras simples baseadas neste princípio nos levam a entregar à Escritura sua devida autoridade como Palavra Revelada de Deus, como única regra de fé e prática dos crentes. Neste caso, a experiência do crente não é descartada, mas ela é submetida à Escritura, no e em seu todo, para sua validação.

Por que uma única Bíblia e tantas religiões e denominações? PARTE 2

Para entendermos melhor vamos dividir as religiões que aceitam a Bíblia como sendo a verdade de Deus revelada aos homens em três grupos maiores que são a Igreja Católica (I.C.A.R.), a Igreja Evangélica Pentecostal com suas diversas denominações, que será analisada juntamente com a Neopentecostal também com suas denominações e a Igreja Reformada (igrejas oriundas da reforma do século XVI) idem. Os outros grupos que não aceitam a Palavra como fonte de autoridade revelada por Deus, de cara, serão descartados, pois não é nosso propósito elucidá-los aqui.
A I.C.A.R. tem em sua base hermenêutica o princípio de que a tradição da igreja tem valor igual ou superior às Escrituras (Bíblia); bem como a palavra do papa que é entendida como sendo autoritativa e equivalente também à escritura. Assim sendo, podemos entender como pode acontecer de existir práticas estranhas à Palavra de Deus dentro da igreja católica como, por exemplo, a veneração aos santos e o uso de imagens de escultura que são doutrinas baseadas em livros tradicionalmente históricos, contudo não inspirados, que são os livros apócrifos acrescidos a Bíblia no concilio de Trento há apenas cinco séculos atrás. Até então, estes livros eram considerados apenas históricos, enquanto  os livros inspirados fazem parte do cânon bíblico desde o final do segundo século para o Novo Testamento e de, pelo menos, cinco séculos antes de Cristo para os últimos livros do Antigo Testamento, e de mais de vinte séculos para os primeiros escritos. Pois estas práticas se relacionam com a tradição destes livros históricos e não com a Bíblia, causando assim um choque de idéias entre o campo da tradição e o campo da revelação (Bíblia). (Gálatas 1.6)
As igrejas pentecostais e neopentecostais se aproximam bastante em sua hermenêutica. Crêem que a Bíblia é a Palavra revelada de Deus e que deve ser a nossa regra de fé e prática. Mas ambas colocam a experiência espiritual de cada indivíduo como parte desta revelação de Deus, como regra de fé e prática para serem seguidas e praticadas. Aqui neste ponto há um divórcio entre as duas. As pentecostais chegam ao máximo de igualar a experiência (pragmatismo) à revelação em autoridade; e as neopentecostais colocam o pragmatismo acima da autoridade da Revelação Escrita. É evidente que se questionados por esta ótica a negação será inevitável, mas na prática é exatamente o que acontece. (Mateus 24.24; 2 Pedro 2.1)
Em situações vividas por membros destas igrejas, mesmo que seja algo regido única e exclusivamente pela emoção, o que é cem por cento dos casos, são colocados como verdades espirituais vívidas, válidas e com o mesmo peso de autoridade da Palavra ou acima dela.   (Gálatas 1.8)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Por que uma única Bíblia e tantas religiões e denominações? PARTE 1


Esta pergunta me foi feita, tendo eu já a resposta formulada em minha mente, contudo, sem uma devida eloqüência. Conhecia todos os ingredientes da resposta mas nunca havia tentado responder de forma sistematizada. Isto gerou em mim uma motivação para colocar no papel meu pensamento que também é de vários outros teólogos e pastores reformados. Assim sendo, vou resumir bem a resposta para não ser enfadonho e sim objetivo.
Esta é uma resposta ao mesmo tempo simples e complicada. É simples porque tudo gira em torno da hermenêutica (ciência que define os pressupostos para interpretação) usada para interpretação dos textos bíblicos. Cada religião, e por sua vez cada denominação dentro delas, usa um método de hermenêutica particular de interpretação. E se torna complicada porque podemos destrinchar cada seguimento hermenêutico a fim de entender o que acontece, como aconteceu e acontecerá para o surgimento de tantas denominações.
Para que possamos olhar a hermenêutica individual de cada segmento, primeiramente devemos destacar diversos ângulos de como a Bíblia pode ser encarada.
·         Podemos olhar para ela como um livro qualquer, perceber nela alguns belos cânticos, um monte de estórias interessantes e quiçá algumas poesias e meros ensinamentos morais;
·         podemos olhar como se ela fosse o reflexo dos pensamentos religiosos de um povo antigo;
·         você pode pensar que a Bíblia contem algumas mensagens de Deus e descartar aquelas que não forem de sua conveniência;  
·         você pode não definir que se trata de uma revelação progressiva e se perder em um emaranhado de pensamentos religiosos de diversos grupos neotestamentários;
·         pode também conceituar a bíblia crendo que há um grande número de mitos, e que o trabalho do pregador é extrair estes mitos para ter uma mensagem pura;
·         ou você pode considerar que a Bíblia é uma fonte de autoridade, revelada por Deus, mas colocar paralelas outras fontes de revelação, igualmente ou superiores a ela.
·         ainda você pode considerar que a Bíblia é uma fonte de autoridade revelada por Deus e que nada, nem ninguém possa substituir, suprimir, ou até mesmo igualar a sua autoridade e que ela é suficiente em si mesma. CONTINUA...

domingo, 3 de abril de 2011

SER AUTÊNTICO

                Muitos justificam sua maneira de ser, como sendo a partir de uma autenticidade. Sou assim, por que sou autêntico, dizem. Mas o que é ser autêntico? A palavra aponta para algo exclusivo, único, autêntico.  Mas nos nossos dias existe essa possibilidade? Existe um ser humano autêntico?
                Temos dentro de nossos lares a mídia que manipula a massa formando grupos, ou que se conhece por tribos, de todos os tipos. Tem a tribo dos homossexuais, dos heterossexuais, dos ricos, dos pobres, das patricinhas, dos nerds, dos punks, dos roqueiros, dos futeboleiros, noveleiros, etc.  Ou seja, as tribos são grupos separados por afinidades sociais. Em outras palavras: existe alguma autenticidade dentro desses grupos, ou são todos os indivíduos que os formam iguais entre si? Dessa forma, ninguém nunca será autêntico, mas será conformado ao grupo a que pertence.  Caberia aplicar esse conceito tribal aos crentes? Ou uma pergunta mais específica, caberia dividir os verdadeiros crentes em tribos por afinidade social?  
                Esta questão, assim como qualquer outra na vida, pode e deve ser provada pela própria palavra do Senhor, pois se foi Ele quem nos chamou para sermos santos, (2 Timóteo 1:9 - que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos,) para sermos seus filhos, existe um padrão, aliás para tudo existe um padrão, ainda mais para aqueles que se dizem ser filhos de Deus.  (I Coríntios 11.1 Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.  – veja também:  1 Timóteo 4:12,  2 Timóteo 1:13; Tito 2:7;).
                Todos estes textos citados logo acima nos apontam para o fato de que existe um padrão a ser seguido por todos aqueles que se dizem ser cristãos autênticos. Um grupo separado por afinidade social poderia ser chamado de um grupo de cristãos autênticos? Isso depende. A dependência existente diz respeito exatamente ao fato de quem, ou do que eles estão usando como padrão. 
                Como já participei de uma tribo dessas, posso dizer com toda profundidade de conhecimento, e a psicologia também explica, que o fato de estar em um desses  grupos  não é  por ser autêntico, mas porque o grupo lhe recebeu melhor do que outros e você se sentiu mais à vontade ali do que no meio de outros. Seu comportamento, então, passa a ser não um comportamento  autêntico, mas um comportamento que você sabe que o seu grupo (tribo) não se sentiria horrorizado com ele, pelo contrário, lhe bateriam palmas. Isso parte da necessidade do ser humano ser reconhecido como tal e, assim, ser aceito nesse grupo social. Isso tem haver com o ego humano que precisa ser saciado de alguma forma.
Um grupo social (tribo), não pode nunca ser chamado de cristãos autênticos simplesmente por que afirmam que creem em Jesus Cristo, (1 Coríntios 15:2  por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.) mas não agem conforme Cristo, ou conforme ele manda (João 15:14  Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.) , e sim, agem conforme a aceitação do grupo. Nunca poderiam ser chamados de cristãos autênticos por que o seu padrão não é o padrão de Cristo na sua santa Palavra, mas são o produto de suas próprias mentes.              É um grupo egocêntrico, hedônico que existe simplesmente para saciar o seu  próprio desejo, ou o desejo dos formandos do grupo de serem aceitos em uma parcela da sociedade  que lhe é, ou que lhe tornou parecida.
                De outro modo, se o seu grupo procura um padrão fora dele mesmo, fundamentado na Palavra do Senhor, um padrão objetivo e não subjetivo, seu grupo tem grandes chances de ser reconhecido pelo Senhor como um grupo de cristãos autênticos, pois o padrão é o padrão ditado pelo próprio Deus em Sua Palavra, e não no que o grupo acha certo ou errado, ou aceita como normal, ou anormal.
                Existe um padrão absoluto e único que aponta para a autenticidade do cristão e esse padrão não é nenhum outro a não ser o próprio Senhor Jesus Cristo. Quando criados à imagem e semelhança de Deus, o homem recebeu de Deus o seu padrão de moral, o que não tem nada haver com respeito, mas tem haver com o discernimento entre certo e errado. Mas com o pecado, esse padrão moral, ou esta imagem divina se tornou obscura no coração do ser humano. Daí a necessidade de Cristo vir ao mundo e mesmo tendo vivido sem nunca cometer pecado,  morrer como ser humano pecador, pois a morte era exatamente o castigo pela desobediência. O único justo pagando por muitos pecadores. Com a sua morte, todo ser humano que confessa a Cristo como seu Senhor tem, necessariamente, de conformar-se à imagem de seu criador novamente. (Romanos 8:29  Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.) Um ser que segue a lei moral divina. (Mateus 5:17  Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.)
                A dificuldade que determinados grupos de afinidades sociais (tribos) têm de conformar-se á imagem de Jesus Cristo, é exatamente por que eles estão envolvidos em conformarem-se à imagem de si mesmos. Uma conformação subjetiva. Podemos lembrar das palavras de Paulo que fala abertamente sobre isso em  Romanos 12.1-2 1  Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2  E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
O grifo do versículo acima é exatamente para destacar o sentido de que esse conformar não tem nada haver com conformismo no sentido de aceitação, mas a palavra em grego quer dizer não tomar a forma, não se mostrarem parecidos . E a palavra século em grego aiwn (aion) tem outras traduções que mostram melhor o sentido do texto, que é mundo, ou geração. Podemos então ler o texto de Romanos assim: e não tomem a forma desta geração, ou não se pareçam com o mundo. Há pessoas que se dizem cristãs, mas continuam agindo e fazendo coisas que faziam antes de sua conversão. Vemos por exemplo atores que se dizem conversos a Cristo, mas continuam indo a baladas, a shows mundanos, a desfiles de escola de samba, além de manterem o mesmo comportamento promíscuo que antes. Para um cristão autêntico isso é inaceitável, uma vez que não é concebível a idéia de Cristo fazendo estas coisas.
Paulo está mostrando que a mente do verdadeiro cristão não pode ser, de forma alguma, parecida com a do mundo, mas que devemos transformar nossa maneira de pensar, pois somente assim conheceremos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Quando pararmos de satisfazer aos nossos desejos e pararmos de pensar como a tribo pensa e começarmos a pensar como Deus quer que pensemos, imitando a Cristo em todos os momentos, é que teremos a  verdadeira noção de sermos cristãos autênticos. Pois a autenticidade do verdadeiro cristão, não está em nós, não na subjetividade, mas na objetividade que está em Jesus Cristo, em sua santa Palavra. 

Que Deus tenha misericórdia de nossas vidas!