domingo, 17 de abril de 2011

"COELHINHO DA PÁSCOA QUE TRAZES PRA MIM?" Entre mitos pagãos e a verdadeira redenção: uma análise histórica, teológica e pastoral da Páscoa"


    Vivemos em dias onde a sublime realidade da Páscoa foi substituída por uma caricatura comercial. Nossas crianças são ensinadas desde cedo a associar esta sagrada celebração com ovos de chocolate e um coelho mitológico - uma narrativa que, embora aparentemente inocente, esconde perigosas raízes pagãs e uma profunda alienação espiritual. Como bem alertava o puritano Thomas Watson: "O diabo não se importa com que tipo de erro um homem abrace, contanto que não seja a verdade" (A Body of Divinity). Este engano massivo exige de nós, como servos de Cristo, uma resposta clara e bíblica.

    A verdadeira Páscoa foi ordenada por Deus como memorial perpétuo da libertação de Israel do Egito (Êx 12:14). O reformador John Owen, em sua obra "A morte da morte na morte de Cristo", destaca que cada elemento da primeira Páscoa era tipológico:

    O Cordeiro Imaculado (Êx 12:5) - "Sem defeito", prefigurando Cristo "como um cordeiro sem defeito nem mácula" (1Pe 1:19). O puritano John Flavel comentava: "A seleção do cordeiro quatro dias antes (Êx 12:3) apontava para Cristo entrando em Jerusalém antes de ser imolado" (The Fountain of Life).

    O Sangue nas Umbreiras (Êx 12:7) - Sinal visível da fé obediente, como observava Jonathan Edwards: "O sangue não salvou por seu poder intrínseco, mas como símbolo da futura expiação de Cristo" (História da Redenção).

    As Ervas Amargas (Êx 12:8) - Lembrança da amargura da escravidão, que, segundo Matthew Henry, "tipificava o sofrimento de Cristo por nós" (Comentário Bíblico).

    Na última ceia (Mt 26:17-30), Jesus revelou o cumprimento escatológico da Páscoa. O teólogo puritano John Gill destaca: "Cristo comeu a Páscoa judaica como seu último ato de obediência à lei cerimonial, antes de instituir o memorial de sua morte" (Exposition of the Bible). A nova ceia mantém elementos simbólicos, mas com significado transformado:

    O Pão (1Co 11:24): "Isto é meu corpo" - Não transubstanciação, mas memorial, como enfatizava o reformador Ulrich Zwinglio: "O” é' significa 'representa', como em 'a rocha era Cristo' (1Co 10:4)" (Sobre a Ceia do Senhor).

    O Vinho (1Co 11:25): "Nova aliança em meu sangue" - O puritano Stephen Charnock explica: "Como o sangue do cordeiro selou o pacto mosaico, o sangue de Cristo ratificou o eterno pacto da graça" (A Existência e os Atributos de Deus).

 

A Ceia do Senhor e o Fim da Páscoa:

Por Que os Cristãos Não Devem Celebrar a Páscoa Hoje.

 Quando Jesus reuniu seus discípulos para a última ceia, estava prestes a realizar algo revolucionário. Ele não estava simplesmente celebrando mais uma Páscoa judaica - estava prestes a transformá-la e, em seguida, substituí-la. A Ceia do Senhor, instituída naquela noite, não era uma continuação da Páscoa, mas seu cumprimento e, consequentemente, seu fim para o povo de Deus da Nova Aliança.

    A Páscoa como instituída no livro de Êxodo era Provisória. A primeira Páscoa, instituída no Egito (Êxodo 12), tinha um propósito claro: apontar para Cristo. Cada elemento - o cordeiro imaculado, o sangue nas portas, as ervas amargas - era uma sombra da realidade que viria. O apóstolo Paulo deixa isso claro quando diz: "Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1 Coríntios 5:7). O reformador John Owen explicou que "as ordenanças cerimoniais do Antigo Testamento eram como velas acesas à noite; quando o sol da justiça (Ml 4:2) surgiu, elas se tornaram desnecessárias" (A Morte da Morte na Morte de Cristo).

    Quando Jesus celebrou a Páscoa com os discípulos (Mateus 26:17-30), estava encerrando um ciclo. Naquela ceia, Ele não apenas comeu o cordeiro pascal - Ele se declarou ser próprio e verdadeiro Cordeiro. Ao dizer "isto é o meu corpo" e "isto é o meu sangue", Jesus estava transferindo o significado da Páscoa para Si mesmo. Como observou o puritano John Flavel: "Cristo não veio para reformar a Páscoa, mas para cumpri-la e assim aboli-la" (A Fonte da Vida).

    Tendo feito isso, e cumprido o tipo da Páscoa em si e consigo mesmo, após a ressurreição de Cristo, os apóstolos nunca mais ordenaram a celebração da Páscoa. Em vez disso, a Igreja passou a observar a Ceia do Senhor (Atos 2:42; 1 Coríntios 11:23-26). O apóstolo João, escrevendo já no período da Nova Aliança, refere-se à Páscoa como "festa dos judeus" (João 6:4), não dos cristãos (Data mais antiga para a Escrita do Evangelho de Joao é de 80 d.C. -  inteiramente dentro do contexto da Nova Aliança). O teólogo puritano Thomas Boston foi incisivo: "Guardar a Páscoa hoje é como construir o andaime depois que o edifício está pronto" (The Crook in the Lot).

    A Escritura, no Novo Testamento, nunca ordena que a Igreja, estando na Nova Aliança (cf última Páscoa) celebre a Páscoa. William Perkins, um dos principais teólogos puritanos, advertia: "Onde a Escritura não ordena, a Igreja não tem autoridade para instituir" (Um Católico Reformado).

    Outro erro que comete quem comemora a páscoa ainda hoje, é a confusão entre as Alianças. A Páscoa pertencia à Antiga Aliança, que foi superada pela Nova (Hebreus 8:13). Richard Baxter argumentava que "reintroduzir elementos da lei cerimonial é minar a suficiência de Cristo" (O Pastor Reformado).

    A ceia é um memorial permanente ao contrário do que foi a Páscoa. A Ceia do Senhor não é uma "nova versão" da Páscoa - é algo completamente diferente. Enquanto a Páscoa olhava para frente, para um sacrifício futuro, a Ceia olha para trás, para um sacrifício já consumado. Como escreveu o reformador João Calvino: "Na Ceia, não repetimos sacrifícios, mas anunciamos um único sacrifício, perfeito e completo" (Institutas da Religião Cristã).

    Celebrar a Páscoa hoje não é apenas desnecessário - é contrário ao evangelho. Como declarou o puritano Thomas Watson: "Tudo o que Deus não ordenou no culto é, por natureza, idolatria" (Os Dez Mandamentos). A Igreja deve contentar-se com o que Cristo deixou: o pão e o vinho da Nova Aliança, memorial simples mas poderoso de que "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado" (1 Coríntios 5:7).

 

A Páscoa Cristã: Ceia do Senhor

    Desta maneira podemos resumir da seguinte forma a substituição da Páscoa pela Ceia: Após a ressurreição, a Igreja não continuou a celebrar a Páscoa judaica, mas sim a Ceia do Senhor (1Co 11:23-26). João registra que a Páscoa era "festa dos judeus" (Jo 6:4), não da Igreja. Por quê? Porque: Cristo cumpriu os símbolos (Cl 2:16-17), as sombras deram lugar à realidade (Hb 10:1) e A Nova Aliança substituiu a Antiga (Jr 31:31-34).

    Portanto, a celebração da Páscoa hoje não é apenas desnecessária — é ilícita, pois nega a suficiência de Cristo e reintroduz sombras já cumpridas. Que a Igreja permaneça fiel ao "pão e vinho" da Nova Aliança, anunciando "a morte do Senhor até que Ele venha" (1Co 11:26).

A Páscoa moderna

    A Páscoa moderna está repleta de símbolos pagãos (ovos, coelhos) que nada têm a ver com o evangelho. John Bunyan alertou: "Qual comunhão tem a luz com as trevas?" (2 Coríntios 6:14) (Pilgrim's Progress).

    Como então surgiram os símbolos atuais? Sua origem está no culto à deusa Astarte (ou Ishtar), divindade cananeia da fertilidade (Jz 2:13). Seus rituais incluíam:

·      Ovos pintados (símbolo de renascimento)

·      Coelhos (fertilidade)

·      Orgiais sexuais e até sacrifícios humanos

 

    O historiador puritano Thomas Beard documenta: "Os antigos saxões celebravam a deusa Eostre com ovos e lebres, símbolos de reprodução que a Igreja Romana posteriormente adotou" (O Teatro dos Julgamentos de Deus). William Perkins advertia: "Quando a Igreja adota costumes pagãos, profana o culto sagrado" (Um Católico Reformado).

    Particularmente grave é a origem da cantiga "Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim...", que deriva diretamente da invocação pagã: "Lebre de Eostre, o que tuas entranhas trazem para mim?" Como denunciava o puritano Richard Baxter: "Até que ponto os cristãos se conformaram com este mundo!" (O Pastor Reformado).

    Em face a esta distorção histórica, urge recuperar a pureza do culto. O puritano Isaac Ambrose propunha: "Em vez de ovos, ofereçamos a nossos filhos o pão da vida; em vez de coelhos, apontemos para o Cordeiro de Deus" (Olhando Para Jesus). Particularmente relevantes são as palavras de John Bunyan: "Qual comunhão tem a luz com as trevas? (2Co 6:14). Como pode o memorial da morte de Cristo conviver com símbolos de demônios?" (O Progresso do Peregrino).

    Aos negarmos com fundamento bíblico de não comemorarmos de nenhum modo a Páscoa, podemos estar descansados em todos esses princípios bíblicos e provas históricas. Podemos responder a uma só voz com o puritano Thomas Watson: "Todo culto não ordenado por Deus é idolatria inventiva" (Os Dez Mandamentos). Portanto, concluímos com algumas exortações:

 1.   Ao Comércio: Cessai de explorar símbolos pagãos para lucro (1Ts 5:22).

2.   Aos Pais: Ensinai vossos filhos "no caminho em que devem andar" (Pv 22:6), rejeitando mitos pagãos.

3.   À Igreja: Como exortava Charles Spurgeon (herdeiro da tradição puritana): "Mantenhamos a Páscoa não com fermento velho... mas com os pães asmos da sinceridade e da verdade" (1Co 5:8).

4.   Como podemos chamar-nos servos de Cristo se adotamos rituais pagãos?

5.   É lícito para pais cristãos presentear filhos com símbolos de fertilidade pagã ?????

 

A Páscoa cristã não é sobre chocolate, mas sobre o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29). Que possamos, como exortava o reformador João Calvino, "rejeitar as sombras e abraçar a Substância" - Cristo, nossa única Páscoa.

"Lançai fora o velho fermento... pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1Co 5:7).

 

Rev. Júlio César Pinto

 

Fontes:

 

·      Baxter, Richard. The Reformed Pastor.

·      Boston, Thomas. The Crook in the Lot.

·      Bunyan, John. Pilgrim's Progress.

·      Calvino, João. Institutes of the Christian Religion.

·      Flavel, John. The Fountain of Life.

·      John Cotton, "The Covenant of Grace"

·      John Owen, "The Glory of Christ"

·      Owen, John. The Death of Death in the Death of Christ.

·      Perkins, William. A Reformed Catholic.

·      Thomas Boston, "The Crook in the Lot" (sobre a soberania divina nas provações)

·      Thomas Manton, "A Treatise on the Lord's Supper"

·      Watson, Thomas. The Ten Commandments.

 

Outras fontes da informação sobre a deusa astarote (astarte) ou como na antiga canção: Eostre encontram-se em vários sites de origem pagã, dentre eles: http://www.magiazen.com.br/magia-na-origem-do-coelho-da-pascoa.html

Deusa Astarote fazia parte do culto cananeu. "Deusa do sexo e da guerra, uma representação vívida do paganismo em suas manifestações mais perversas". DIT, AT, 1718-1718b

 


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