sexta-feira, 29 de julho de 2011

DISCURSO SOBRE A REFORMA PROTESTANTE

Encontramos em Judas 1:3,4 o seguinte:

“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”
Esses versículos santos relatam a libertinagem que o homem dissimulado é capaz de fazer com as Santas Letras da Palavra de Deus. Sendo capazes de torcer o perfeito, fazendo-se de eruditos ignorantes detentores da verdade e do perdão para satisfação insana de seu gênio corrupto e egoísta. Oferecendo perdões por tostões, negociando falsas lascas da maldita Cruz de Cristo como símbolo de proximidade com o Santo Salvador. Recomendando penitências de autoflagelação em troca de uma falsa santificação. Negociando a salvação com pecadores desesperados que desejam comprar os “certificados da salvação”, sim! São as indulgências.
Após alguns séculos de fidelidade aos caminhos retos do Senhor, o ego sujo do homem sobrepujou a boa caminhada que os fiéis faziam. O resultado disso foram as libertinagens que acabei de citar. A igreja estava totalmente imersa em corrupção humana. Tudo era uma negociata de interesses humanos buscando paz através de suas conquistas materiais. Os mesmos que negociavam o perdão como intermediários de Deus estavam dados a prostituição, bebedices, glutonarias, usura, etc.
Nesse cenário impuro o Deus Santo forjou homens despertados para as verdades bíblicas. Esses homens incomodaram os perversos inimigos de Deus e deram significativa contribuição para que a reforma protestante viesse a ocorrer. João Wyclif (1320-1384) foi um desses homens. Após o Pai chamá-lo ao descanso eterno deixou muitos influenciados pelos seus escritos e tornaram-se disseminadores dos seus pensamentos. A igreja insatisfeita com crescimento do pensamento de Wyclif convocou o Concílio de Constança que declarou que Wyclif, mesmo morto e sepultado, era um herético. Por isso, teria seu corpo exumado, seus ossos queimados e jogadas as cinzas no rio Swift. O Concílio decretou também que seus seguidores seriam perseguidos e mortos. João Hus (1369-1415) foi muito influenciado pelos pensamentos de Wyclif e influenciou muitos outros conhecidos como Hussitas. Mas em 1410 Hus foi excomungado e no dia 6 de julho de 1415 foi queimado vivo. Condenado pelo mesmo Concílio que condenou Wyclif.
Mas os fiéis continuaram surgindo e no dia 31 de outubro de 1517 o grito mor da reforma protestante é dado. Martinho Lutero (1483-1546) fixou na porta da igreja castelo em Wittenberg a Controvérsia sobre o Poder e a Eficácia das Indulgências, conhecida popularmente como as 95 teses de Lutero. As demonstrações de fidelidade e confiança de Lutero em Deus não param por ai. Quando Lutero encontrou-se diante da Dieta foi questionado pelo conselheiro Erik do seguinte:
“Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?”
Lutero respondeu: “Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão – porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos – pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável.”
Segundo a tradição, Lutero disse: “Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!”
Enquanto a reforma protestante ganhava força com Lutero na Alemanha. Úlrico Zwínglio (1484-1531) batalhava, também pela reforma, na Suíça. Em 1531 estourou a guerra entre cantões, estados, católicos e os protestantes. Zwínglio foi corajosamente para o campo de batalha e lutou com armas em punho defendendo a reforma. No campo de batalha deixou sua vida e um exemplo de coragem. Muitos seguiram seus passos. Guilherme Farel (1489-1565) foi um desses. Considerado pelos seus biógrafos como um pregador valente e ousado. Farel trabalhou ao lado daquele que temos considerável respeito pela mui dedicação ao Trabalho Santo, João Calvino (1509-1564). Zwínglio é tido como “o pai do protestantismo reformado” e Calvino o homem que moldou o pensamento reformado. A sistematização das doutrinas bíblicas feitas por Calvino foi amplamente absorvida pelos presbiterianos, motivo esse que torna os presbiterianos também calvinistas. Calvino foi incansável em seu ministério. Nos seus últimos anos, por muitas vezes foi levado ao púlpito carregado. E seus amigos demonstrando preocupação ouviram de Calvino o seguinte: “Qual quê? Querem que o Senhor me encontre ocioso quando ele chegar?”
Mais alguns nomes devem ser citados, tais como: Teodoro de Beza (1519-1605), George Wishart (1513-1546) que no dia em foi preso disse aos seus companheiros que queriam segui-lo: “Não, regressem para as vossas crianças. Um é o suficiente para o sacrifício.” Foi queimado vivo. João Knox (1514-1572) considerado o Pai do Presbiterianismo. Jhonatham Edwards (1703-1758). George Whitefield (1714-1770) conhecido como o “Príncipe dos Pregadores ao ar Livre” disse: “Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a última que me é dada de pregar; e a última dada ao povo para ouvir a Palavra de Deus.” Conhecido por chorar quase sempre que pregava disse: “Vós me censurais por que choro. Mas como posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas mortais estarem à beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo.” Cito ainda Jhon Wesley (1703-1791).
E para que sintamos o preço da reforma protestante, citarei um histórico acontecimento. Ainda na madrugado do dia de São Bartolomeu, 24 de agosto de 1572, muitos servos fiéis foram despertos de sono da madrugada com lâminas dividindo sua carne e derramando seu sangue em seus brancos lençóis. Se quer eram perguntados se abandonariam sua fé, pois seus assassinos estavam certos de que jamais fariam isso. Esses perseguidos e perseverantes homens eram os Huguenotes que ainda foram perseguidos por vários meses após esse primeiro ataque. Ao término dessa sangrenta perseguição o número de protestantes mortos aproximava-se dos 100 mil. As ruas de várias cidades francesas amanheciam cobertas de corpos apodrecendo. O sangue escorria pelas valas como água em dias de chuva. Tantos corpos foram lançados nos rios que esses estavam contaminados, sem que se podesse beber ou comer peixes dessas águas.
Foi a custo da vida de muitos que a reforma protestante se consolidou. Buscando o teocentrismo o protestantismo declara seus pilares como sendo:
1. Sola Scriptura (Somente a Escritura) - afirma que somente a Bíblia é a única autoridade para todos os assuntos de fé e prática. As Escrituras e somente as Escrituras são o padrão pelo qual todos os ensinamentos e doutrinas da igreja devem ser medidos. Como Martinho Lutero afirmou quando a ele foi pedido para que voltasse atrás em seus ensinamentos: "Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém."
2. Sola Gratia (Somente a Graça ou Salvação Somente pela Graça) - afirma que a salvação é pela graça de Deus apenas, e que nós somos resgatados de Sua ira apenas por Sua graça. A graça de Deus em Cristo não é meramente necessária, mas é a única causa eficiente da salvação. Esta graça é a obra sobrenatural do Espírito Santo que nos traz a Cristo por nos soltar da servidão do pecado e nos levantar da morte espiritual para a vida espiritual.
3. Sola Fide (Somente a Fé ou Salvação Somente pela Fé) - afirma que a justificação é pela graça somente, através da fé somente, por causa somente de Cristo. É pela fé em Cristo que Sua justiça é imputada a nós como a única satisfação possível da perfeita justiça de Deus.
4. Solus Christus (Somente Cristo) - afirma que a salvação é encontrada somente em Cristo e que unicamente Sua vida sem pecado e expiação substitutiva são suficientes para nossa justificação e reconciliação com Deus o Pai. O evangelho não foi pregado se a obra substitutiva de Cristo não é declarada, e a fé em Cristo e Sua obra não é proposta.
Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus) - afirma que a salvação é de Deus, e foi alcançada por Deus apenas para Sua glória.
Nós os presbiterianos, nascidos no princípio da reforma protestante, no âmago da perseguição e da guerra contra os fiéis reformadores, louvamos ao Deus sustentador da sua Igreja. Deus eterno que planejou e registrou a história do povo de Israel. Planejou a salvação de cada um dos que Ele mesmo elegeu na eternidade. E não apenas planejou como enviou o meio pelo qual o plano se consumou, o Filho, o Messias, o Cristo. Planejou e executou a reforma da sua noiva que brevemente tomará para Si.
Para encerrar, cito as palavras do Mestre Jesus para que os crêem louvem e os que não crêem venham a crer quando disse: “Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai se não por mim.”


João Filho (IPB Tucuruí)

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