Por que usar citações de escritores crentes e não usar exemplos bíblicos? Já havia ouvido este tipo de objeção referindo-se a aqueles pregadores que em vários momentos de seu sermão usam citações de escritores cristãos, antigos, ou recentes. Qual o fundamento de tal atitude? Isso tem validade? Deixarei aqui explícitas minhas razões pelas quais raramente, e mui raramente faço uso de tais citações. Mas não é de fato o que aprendemos no seminário, pelo contrário somos ensinados a fazer tais citações. A questão é: para que nos é ensinado a fazer tais citações?
Toda construção de um sermão, via de regra, deve ser feita com muito cuidado e zelo. Sabemos que não é todo pregador que prepara seu sermão com antecedência, o que encaro como sendo “fazer a obra do Senhor relaxadamente”. Não estou dizendo que nunca fiz sermão de última hora, nem estou dizendo que esta é a minha prática, estamos falando de um ideal. Um ideal que deve ser levado a sério e praticado.
Neste zelo pela pregação, muitos pregadores antecipam, e é o correto, em alguns dias o seu sermão fazendo pesquisas sobre o que outros autores dizem acerca do texto que será exposto (não faço uso de sermão temático). Desta pesquisa suscitam anotações que costumeiramente vão parar nos sermões. Esta prática da pesquisa é inteiramente válida, mas a questão que faço é: a troco de que cita-se o nome deste ou daquele autor que falou sobre o texto no qual você está pregando? Três são as respostas que consigo encontrar. 1. Mostrar que você concorda com o dito autor; 2. Mostrar que você precisa de um respaldo no que está afirmando, pois nem mesmo você tem tanta certeza; 3. Mostrar que você pesquisou.
Vou aqui aparentemente contradizer o que estou tentando afirmar, mas com uma diferença: não estamos falando de um texto bíblico, mas de uma hermenêutica aplicada. Nós, reformados, clamamos pelas afirmações de Calvino, de Lutero, de outros mais recentes, mas e eles, faziam isso em seus sermões? Vou mais longe. A confissão de Fé de Westminster afirma que a hermenêutica sadia é usar a Bíblia para interpretar a própria Bíblia. A CFW afirma desta forma não é à toa, pois os discípulos e o próprio Senhor Jesus usavam dessa técnica. Ora, qual a imagem que passamos para os ouvintes quando são feitas citações diversas de outros autores cristãos nos sermões? A imagem que suscita desta prática, creio, é mais negativa do que positiva. Por algumas razões. 1. O pregador não tem uma identidade própria; 2. A Bíblia não tem um texto que explique melhor este que está sendo pregado do que a citação?; 3. Acaba-se por pregar sua pesquisa e não a Bíblia; 4. O pregador é exaltado como um grande intelectual e a imagem da cruz de Cristo se torna ofuscada; 5. Tal atitude gera um ar extritamente acadêmico ao sermão (isso é para o seminário, não para o público comum); 6. E o pior, demonstra que o pregador tem mais conhecimento do que outros falam sobre a Bíblia do que da própria Bíblia, mas não é ela SUFICIENTE EM SI MESMA?
Não afirmo aqui que não se deva fazer a pesquisa previamente, muito menos afirmo que o entendimento de outros escritores cristãos sobre o texto a ser pregado não deva ser levado em consideração. Afirmo que: 1. Se você concorda com o autor na questão, expresse então o entendimento do texto com as suas palavras evocando, se necessário outro texto da Escritura; 2. Esqueça a regra homilética de um único texto para dar respaldo à sua afirmação além do texto básico. Se necessário use mais de um até que a ideia se torne clara o bastante para que a "dona Maria" que assiste ao culto possa compreender o que você está dizendo. A Bíblia explica a própria Bíblia. Não é o que queremos fazer no sermão? Expor a Palavra de Deus? Ou estamos querendo expor o entendimento de uns e outros sobre a Palavra de Deus? São as duas coisas completamente diferentes e, por definição, são excludentes. Este é um lado negativo das citações, mas existe um lado positivo.
Quando falo de lado positivo não estou falando das citações de outros cristãos, mas afirmo citações de heréticos. Sim, de heréticos. Uma vez que as citações de heréticos são expostas no sermão, mais uma vez, a oportunidade de confrontá-las com a Escritura será inevitável e totalmente necessária. Quando isso acontece o nome de Deus é glorificado, pois sua Palavra é exposta em oposição à palavra dos ímpios, como está escrito:
“...Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos.” (1 Coríntios 1:19)
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