segunda-feira, 4 de julho de 2011

Apóstolo, hoje?

A mídia especializada tem publicado em todos os meios de comunicação, e vemos, às expensas do público evangélico, um número cada vez maior de pastores assumindo o título de apóstolo. Iremos abordar neste texto dois aspectos, 1.filológico e 2. teológico.
1. O termo “apóstolo” é um verdadeiro cognato do grego apostolo, que pode assumir alguns valores tais como: um delegado, mensageiro, alguém enviado com ordens, (BOL – módulo avançado 3.0).
Este termo, da forma em que está exposto, qualquer pessoa que assumisse tais empreendimentos poderia carregar o título de apóstolo. Como por exemplo, alguém que leva uma mensagem pode assumir tal título. Se aplicarmos tal metodologia um carteiro, mais do que qualquer outra pessoa, poderia ser chamado de apóstolo, pois afinal de contas ele leva não uma, mas várias mensagens diariamente.
É desta forma que hoje o título apostólico tem sido divulgado no meio evangélico e entre a classe pastoral. O título apóstolo trás consigo um tom de maior status do que o de pastor, e desta forma, filologicamente o termo tem sido usado de forma indiscriminada por vários pastores que arrogam para si mesmos tal título, elevando-se (se é que isso existe), na cadeia de comando, ou de importância no meio evangélico, o que der maior ibope.
2. A Bíblia nos mostra que os doze discípulos mais próximos de Jesus foram chamados de apóstolos, porque tinham uma mensagem a ser levada, foram enviados para isso. No Novo Testamento esta palavra ocorre 56 vezes, e em nenhuma delas apontou para alguém diferente dos primeiros doze escolhidos (Mateus 10.2), exceto Paulo, que como ele mesmo afirma que não seria digno de ser chamado de apóstolo por que perseguiu a igreja, uma forma humilde de referir-se ao seu apostolado (I Coríntios 15.7-10) Neste aspecto, a Bíblia nos mostra determinadas características imóveis e inegociáveis para aqueles a quem foram denominados de apóstolos de Jesus Cristo. Vejamos:
a. O apóstolo teria de ser comissionado diretamente por Cristo. Todos eles, inclusive Paulo, foram chamados uma um para esta função.
b. Pedro e os demais apóstolos quando foram eleger outro apóstolo em lugar de Judas, determinaram quem poderia assumir este título junto a eles. Como está no texto de Atos 1.21-22.
i. Necessariamente assumiria este lugar um que tivesse acompanhado pessoalmente toda a trajetória do ministério terreno de Jesus – v. 21
ii. Este acompanhamento deveria compreender todo um período que compreendia dois fatos do ministério de Jesus Cristo:
1. Seu batismo
2. Sua ascensão.
Levando em consideração este texto, absolutamente nenhum dos que hoje se autodenominam apóstolos, poderiam assumir este título, pois nenhum deles testemunhou pessoalmente o batismo, ministério e ascensão de Cristo.
a. E quanto à Paulo? O último deles, Paulo, no texto de I Coríntios citado, denominou a si mesmo como um nascido fora de tempo. Suas palavras soam como que ele não deveria estar ali, classificado como membro do colegiado apostólico, mas ali estava pela graça de Deus concedida “a ele”, como diz no versículo 10. Se avaliarmos o texto de Pedro em Atos 1.21-22, Paulo de forma alguma se encaixaria no perfil apostólico.
a. Algumas considerações, no caso de Paulo precisam ser feitas. Como ele mesmo já havia dito – ele é um nascido fora de tempo, em outras palavras ele é uma exceção à regra. Mas que regra? Claramente é a regra estabelecida pelos próprios apóstolos. Não que Paulo tivesse em mente exatamente tal regra, mas por ele saber que ele mesmo não estava no começo com eles. (nascido fora de tempo)
b. Outros aspectos precisam ser vistos.
i. Paulo de forma diferente dos outros, foi testemunha de que Cristo estava glorificado (estado após ascensão): Atos 9.4-6
ii. Paulo foi comissionado diretamente por Cristo;
iii. Paulo recebeu instruções específicas quanto a tudo o que deveria fazer. Ele inicia este texto falando de si mesmo em terceira pessoa: 2 Coríntios 12.1-7.
O problema atual é que tais pastores que se auto-intitulam apóstolos testemunham sobre si mesmos como tendo as mesmas características do apostolado paulino, ou seja, todos eles são “nascidos fora do tempo”. A questão se torna absurda, pois estão fazendo do modelo de Paulo que era a exceção, a regra para os dias de hoje. Quando questionados sobre seu apostolado na ótica do texto de Atos 1.21-22, dizem estar na mesma categoria apostólica de Paulo, o que é um absurdo, pois Paulo mesmo se chamou um nascido fora de tempo, uma exceção; agora todos querem ser exceção.
Há de se perceber também que a visão do apostolado em Paulo é bem divergente da visão que se tem hoje. Os apóstolos atuais são aqueles que possuem audiência crescente na mídia, contas bancárias que causariam náuseas a Paulo, ministérios e vida que demonstram luxo (com seus carrões e verdadeiras mansões, até aviões particulares), e um puro e vergonhoso interesse financeiro para manterem seus programas no ar, ou a atenção de seus ouvintes, pois afinal não é um reles pastor falando... é um apóstolo.
Terminarei este texto apenas citando um texto do referido apóstolo:
I Coríntios 4.9-13 Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.

Um comentário:

  1. o pior é que não são só "apóstolos" que têm surgido hoje, há também as "apóstolas"... mas isso já é outro assunto polêmico... (que Deus tenha misericórdia)...
    (Daniela Cristina Martins Pinto).

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