sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Graça e responsabilidade



Este é, com certeza, um dos assuntos mais polêmicos que encontramos na Escritura. Já na igreja em seu percalço desta polêmica surge a controvérsia entre Agostinho e Pelágio. Pelágio, no entanto não defendia a questão da responsabilidade humana no tocante à salvação em seu sentido estrito do termo, mas tratava da liberdade humana, sua livre escolha, daí sobressaindo sua responsabilidade por sua liberdade no tocante à sua salvação. Falamos aqui do que Pelágio dizia que o homem tinha o livre arbítrio para escolher ser salvo, e do que Agostinho defendia que a salvação é um produto da graça divina.

A questão é que há uma forte confusão do que vem a ser livre arbítrio. Esse não significa ter liberdade de escolha. A forma de entendimento é que o livre arbítrio é “poder escolher não pecar”. Tendo em mente esta definição somente duas pessoas tiveram livre arbítrio, Adão e Eva. Eles tinham esta escolha, quanto a nós:
Isaías 64:6 Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam.
Salmos 51:5 Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.

A Escritura é contundente neste assunto. Pelágio fez uso de alguns textos da Escritura defendendo sua posição, soma-se a isso a não aceitação de que o homem fosse, e é, completamente incapaz de produzir algo tão sublime quanto sua decisão para ser salvo. Mas a Palavra nos mostra também que o homem não pode produzir tal justiça a ponto de alcançar sua salvação, isso seria o mesmo que afirmar a salvação pelas obras. Mas este não é o foco do presente texto. Estamos aqui para falar daqueles que acreditam na salvação pela exclusiva graça do Senhor Jesus Cristo e não pelas nossas obras (Efésios 2.8-9), mas contrariamente a isso não se afincam na obra do Senhor, por que já estão salvos pela graça de Cristo, independente do quanto se esmerem em Sua obra.

A mente do cristão reformado, ou pelo menos daqueles que têm uma predileção pela teologia reformada se dispõe a estar descansando na graça e eximindo-se de suas responsabilidades no Reino de Deus. Tal cristão de fato não entendeu ainda a profundidade da relação entre graça e obras. Se de fato tivessem entendido tal relação, o seu esmero na obra do Senhor seria tido como algo exemplar, seria tido como algo do qual o crente não tem opção de escolha a não ser refugiar-se e ocupar-se totalmente, em todos os momentos de sua vida da obra que o Senhor lhes designou, independente de qual seja sua profissão.

Quando falamos do texto de Efésios 2.8-9, vemos claramente que a salvação é pela graça e não pelas obras. Isso não quer, de forma alguma, dizer que o cristão não tenha de realizar obras, pelo contrário. As suas obras são uma completa evidência de que o homem foi salvo, não que será salvo por elas. Tiago ao falar que a “...a fé, se não tiver obras, por si só está morta...” (Tiago 2.17) está falando exatamente disso. E ele complementa essa idéia no versículo 22 “...com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou...”. Dito de outra maneira, as obras são produto da fé.

A responsabilidade cristã, no que diz respeito às obras, é um testemunho para o mundo de que aquele indivíduo foi salvo. Mas o descaso do crente, dito reformado, com respeito à sua relação com a obra do Senhor mostra algo terrivelmente o contrário daquilo que se espera. Se as obras são fruto de uma vida salva, e elas não são evidentes na vida de um dito crente, a dedução lógica disso é que: esta pessoa ainda não teve a salvação efetivada em sua vida, ou que ainda não entendeu o seu papel na obra do Senhor e a pior das hipóteses é que a salvação para aquela pessoa não está nos planos de Deus.

Quanto aos cristãos definitivamente salvos e que não expressam a graça salvadora em suas obras é dito sobre eles que estão abafando a ação do Espírito em suas vidas, no que concerne aos efeitos esperados pela salvação neles operada. Esta é uma forma de entristecer o Espírito Santo que neles habita. O que acaba sendo uma forma de pecado, a omissão de contribuir com o que se deve para a obra do Senhor. Mas se espera deles que reconheçam sua condição de pecado e de bom grado se tornem crentes atuantes de fato, não de banco. “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4.30)

'Mas se a graça do Senhor é completamente responsável pela minha salvação, por que então terei de ter obras?’ É essa exatamente a questão. A Bíblia aponta a graça da salvação sendo de forma exclusiva da parte de Deus, nem por isso tira do homem sua responsabilidade no tocante a execução da obra do Senhor aqui na terra, para que esta graça se torne evidente na vida de muitos, e para alcançar a outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A todos os leitores peço que deixem seus comentários. Todos os comentários estarão sendo analisados segundo um padrão moral e ético bíblicos e respondidos à medida que se fizer necessário.